quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Política, media, redes sociais e os cegos ( I)

Toda a  mudança tecnológica implica transformação social. Isto é uma lei de bronze que, quando ensinava psicologia social, desafiava os meus alunos a contrariar. O prémio era de 500 euros. É delicioso que tanto politólogo, colunista , sociólogo e analista só tenham isto para dizer sobre política e redes sociais: "É uma vergonha, pá".
 É delicioso, mas não nos deve espantar. Quando alguém justifica a ascenção de um político através de eleições, há sempre o coro dos  distraídos: "Hitler também chegou ao poder através de eleições em 1933". Por acaso não houve eleições  nenhumas em 1933, por acaso o partido nazi perdeu votos e lugares em 1932, por acaso foi nomeado  porque  alguns amedrontaram-se  e porque a alta finança alemã queria ordem nos vermelhos. Seja como seja, a palavra  do povo é uma estucha...

O essencialismo reside na representação que, em cada época ou lugar , o poder de nomear  desenha. Tem o poder da palavra, de dizer como as coisas são.
Em Cuba não são necessárias eleições porque toda a gente ( o PC cubano) sabe o que o povo quer. Lassale era ainda  mais pragmático nos seus conselhos a Bismarck:  as massas querem é recompensas materiai: dê-me o sufrágio universal e eu dou-lhe um milhão de votos.


Se nada disto é novo, como é possível o estupor diante do efeito das redes sociais? Como é possível o ar compungido com que se queixam de agora toda  a gente ter opinião sobre assuntos complexos? Claro que  problema não é o homem  da rua agora ter opinião nem sequer  o de poder exprimi-la. É poder ter e exprimir em condições de recepção iguais aos dos dono da representação. Vai ficar cada vez mais difícil ser cubano.

( cont.)

3 comentários:

  1. Não houve eleições em 1933 na Alemanha ?
    https://en.wikipedia.org/wiki/German_federal_election,_March_1933

    Dou por certo que a história é mais complexa que um conjunto de "momentos chave", mas tanto quanto sei existiram eleições. Vou arriscar que as alemãs de 1933 foram tão livres quanto as eleições no Estado Novo. E vou arriscar que tivesse o povo na época a liberdade de escolha, votaria Hitler e Américo Tomás.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. as de 1933 foram depois da nomeação de Hitler a 30 de janeiro, era isso que quis dizer e sim, tem razão, essas foram uma palhaçada

      Eliminar
  2. Caríssimo Filipe, só o antigo é surpreendente.

    ResponderEliminar