Depois da derrota de 1880, o partido conservador entrou em reformulação. Randolph Churchill liderou a corrente populista ( com um sentido diferente do de hoje) . Lord Salisbury liderava a corrente aristocrática e as distritais desses tempos ( as Assotiations of great towns) estavam divididas. Cumprindo a ruptura com os líderes naturais ( a recomendação de Disraeli), o partido Tory enfrentava a passagem : de partido de resistência a partido do progresso e virado para os novos problemas do quotidiano. Algumas semelhanças com os nossos dias de hoje.
Cunhal faz aqui o roteiro que tem cerzido a representação social da direita portuguesa desde 1974. Acrescentemos-lhe a cover do tempo do resgate , a ideologia austeritária dos neoliberais, e temos a tapeçaria completa. É muita fruta, mas podemos tirar alguns caroços desde que a tarefa não seja entregue ex- chefes da JSD, caruncho da carne assada e betos de bibe do CDS.
A mega-operação de agit-prop está em marcha: já não há centro, a direita está radicalizada, é a direita dos cortes nos salários, do empobrecimento, das privatizações. Se julgam que isto é novo é porque não viveram no cavaquismo. A ilusão da novidade deve-se , entre outros factores (por exemplo, o resgate), ao facto de muitos cavaquistas ( directos ou indirectos) terem mudado de campo só com uma escova de dentes na mala ( Pacheco Pereira, Freitas do Amaral, Capucho etc).
Os anos do resgate foram tão poderosos que levaram à tal coincidência histórica do PS com a extrema -esquerda, que, hoje, por enquanto, se observa no parlamento. A crise internacional e as asneiras semi-socializantes/peronistas levaram a uma falência do sistema e fizeram soar os alarmes. As primeiras reacções foram a previsão fatalista do segundo resgate e o levantamento popular. Goradas, e perdidas vergonhosamente as eleições ( ao menos o PCTP-MRPP reconheceu isso) , montou-se a tal mega-operação do radicalismo de direita a cavalo no andaime da coincidência histórica do PS com a extrema-esquerda.
Para o PSD poder tirar os caroços, tem, como os tories fizeram em 1883, de se adaptar ao novo cenário. A uma reorganização do campo político adversário deve corresponder uma transformação do discurso político, da organização celular do debate e da alteração do modo comunicacional.
O discurso político de que a austeridade foi necessária equivale ao elogio da broca pelo dentista. A centralização do debate no parlamento pelos velhos artistas ( Maria Luís, Portas,Telmo etc) passará a ideia de um regresso às vacas magras. Uma comunicação entregue a analfabetos, que só ganham discussões por falta de comparência, conduzirá à estagnação. Há gente nova com valor ( Morgado, Maduro, Cecília Meireles, Lomba) e outra que não subiu ainda ao caixote e que não se deve deixar atemorizar pela agit-prop.
Caríssimo Filipe, quase me sinto coacto a concordar consigo; sucede, porém, que dos quatro (4) exemplos de "gente nova com valor" que enuncia só mesmo o Miguel Morgado é que se aproveita (e bem), pois o resto já provou no (Des)Governo que não tem préstimo que se veja: RTP, Turismo, Comunicação Social (fora as outras "argoladas" que exibiram) aí estão para demonstrar que Maduro, Cecília e Lomba não servem o propósito.
ResponderEliminarPor outro lado, a falência da PàF em 04/10/2015 começou a ser construída logo com o colapso do socratismo na Primavera de 2011, quando o PPD/PSD, capitaneado pelo discípulo de Ângelo e Manel Jaquim (também amigo especial de Relvas e Macedo), ao frustrar todas as sondagens pré-eleitorais que lhe davam uma maioria absoluta de votos e de mandatos, fez uma campanha cheia de "gaffes" e não foi além da maioria relativa complementada pelo grão-mestre volúvel do Caldas. Não creio que a PàF (ou o Centro-Direita, como se queira) saia do buraco onde se meteu com gosto e sem proveito (os seus pontos altos foram a manif anti-TSU em 15/09/2012 e as demissões «irrevogáveis» do duo dinâmico Gaspar-Portas em 01/07/2013) enquanto não tiver um PROGRAMA político articulado, abrangente e coerente que conduza o seu projecto de governo. Infelizmente, tal exige uma DOUTRINA que, manifestamente, está muito para além das possibilidades de ambas as lideranças actuais do PPD/PSD e do CDS/PP, pelo que se impõe naturalmente a sua substituição, o que, por seu turno, só pode ser realizado após a ressaca das eleições presidenciais. Esta é a oportunidade que resta: substituir a efígie de Boliqueime e eleger Marcelo (ou, como estrebucha o inefável Passos Kandimba, «o Professor Rebelo de Sousa») e trabalhar para a fusão monopartidária do que está à direita de São Bento.
A propósito, agradeço a seguinte rectificação: Freitas do Amaral nunca foi cavaquista; nem podia, quando (ao contrário de Adriano Moreira, líder do CDS) Cavaco Silva o deixou sozinho a pagar os 60.000 contos das dívidas da campanha presidencial de 1985-86...
Caro Fernando, não rectifico nada: Freitas foi cavaquista indirecto, como eu digo no texto ; defendeu as suas políticas e recebeu o seu apoio, tanto que ficou a arder com o $.
EliminarNão terá sido mais o Cavaco a ser um freitista? Recordo que Freitas do Amaral, na sua segunda liderança do CDS, foi o criador da teoria da equidistância (de que o CDS estaria entre o PSD e o PS)
EliminarCaríssimo Filipe, insisto na rectificação: bem me lembro, nos idos de 1985 e na ala oriental do Palacete de Santa Catarina ao Combro, do que o trio executivo da candidatura presidencial «P'rá Frente Portugal» (Daniel Proença de Carvalho, José Ribeiro e Castro, e Paulo Portas) pensava "sotto voce" acerca do recém-Primeiro Ministro «Sr. Silva»...
ResponderEliminarFreitas do Amaral até pode ser o diabo em figura de gente (um excelente professor universitário de Direito, pese embora as suas incursões falhadas pela Filosofia política), mas nunca foi «à bola» com o actual PR: aliás, a sua adesão serôdia ao "44-do-33" em 2005 bem o demonstrou.
pois o facto é que Cavaco concorreu com o apoio do PSD-CDS.
Eliminar"Diabo em figura de gente" não sei a que propósito vem, por isso declino a sua amável oferta , retórica, claro.
perdão "Freitas concorreu..."
EliminarObviamente, está mais que perdoado. E obviamente só Freitas do Amaral podia ter tido o apoio simultâneo do PSD e do CDS. Relembro apenas o que então sucedeu aos discordantes do velho PPD: José Vitorino, o fundador algarvio apoiante do General Firmino Miguel, bem como Helena Roseta e Rui Oliveira e Costa, ambos apoiantes de Mário Soares, viram a porta da rua apontada sem cerimónias pelo habitante do Possolo...
EliminarCaríssimo Filipe, também não acredito que José Pacheco Pereira tenha «mudado de campo só com uma escova de dentes na mala» (aqui entre nós, até eu prefiro conviver com a Marisa Matias em vez do Duarte Marques e do Ângelo Correia...): do que se trata é do agudo despeito pelo facto da Dra. Manuela Azeda-O-Leite ter sido apeada sem cerimónia em 2010 da liderança do PSD pelo Passos Kandimba, quando o "44-do-33" já caía de podre.
EliminarPor outras palavras, trata-se ainda da guerra de sucessão entre adeptos desse ex-militante da facção negra do MRPP que chegou um dia a ser presidente da Comissão Europeia por 10 anos; como ainda tenho memória do que fiz na campanha por Fernando Nogueira durante as eleições legislativas de Outubro de 1995 (quando os que hoje mandam no PSD o torpedearam, a torto e a direito, por ordem "possoleira"), observo com olho clínico e a gosto os debates ácidos entre os "ex" de várias "famílias"...