terça-feira, 4 de novembro de 2014
Janelas Verdes
O director do Museu de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, deu uma entrevista corajosa ao Público, que o jornal fez sair no passado Domingo. Há muita matéria de reflexão nas quatro páginas editadas. Destaco só algumas passagens, em especial aquela em que Pimentel se queixa de que "a autonomia na gestão do museu não existe" e que lhe faz muita falta. Não é uma queixa nova. Em 2006, a sua antecessora Dalila Rodrigues fez exactamente a mesma queixa em vários meios de comunicação social e foi por isso demitida pelo governo de Sócrates. Mudam-se os tempos e nada indica que o actual directos das Janelas Verdes conheça o mesmo saneamento. Dir-me-ão que tal só acontece porque, no consulado de Passos e com o país em crise, ninguém se preocupa muito com o que se passa no nefelibata reino da cultura. Talvez. Mas sempre é uma saudável mudança. Para quem brande a arte e o património como bandeiras da esquerda indígena, uma ligeira autocrítica não ficaria mal.
Quanto ao resto, a entrevista mostra bem que a imaginação ao poder, mais do que o dinheiro do poder, faz a diferença. O Museu de Arte Antiga conseguiu ultrapassar este ano o número de visitantes do Museu dos Coches (com 200 mil entradas em finais de Outubro, o que significa previsivelmente 250 mil no fim do ano), muito por efeito de exposições mediáticas como a das paisagens nórdicas do Museu do Prado e de parcerias internacionais que já tinham sido exploradas, mais uma vez, por Dalila Rodrigues. Que, a propósito, conseguiu aumentar o número de visitas de 75 mil em 2004 para 192 mil em 2006. Pimentel, no entanto, declara alto e bom som a ambição de chegar ao meio milhão por ano. Se o governo mudar de cores em 2015, esperemos que tenha o bom senso de o manter no cargo. Há tempos, exprimi aqui o receio de que esta inegável dinâmica seja apenas conjuntural. Depois de ler a entrevista, tenho mais confiança no futuro.
Mas há nuvens no horizonte, inevitavelmente. Fiquei a saber que o quadro das Janelas Verdes conta, de momento, quinze técnicos superiores. É um número que raia o surrealismo. E o surrealismo, como se sabe, não devia fazer parte das colecções do Museu.
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