terça-feira, 20 de setembro de 2016

Praxe

Dois pontos que não costumam ser vistos com deve ser:

a) Quando entrei na faculdade ( não cheguei a Coimbra porque sou de Coimbra)   já tinha regressado a tradição académica, mas a  nova praxe dava os primeiros passos.
 Lembro-me de certa  vez estar no bar da faculdade com o Emídio Guerreiro ( hoje político e ex sec) e o Pimenta. Chegaram uns trajados que queriam não sei o quê lá das merdas deles. Levantámo-nos, rimos-nos e aconselhámo-los a meter o rabo entre as pernas. Assim fizeram.
Ou seja, a praxe de hoje funciona porque a grande maioria dos caloiros querem que funcione. É uma merda, eu sei, mas as merdas existem.

2) E funciona por dois motivos:

2.1) Os miúdos que chegam à fac são os bem comportados. Assimilaram uma dúzia de anos de indigência de espírito. Camus e Vaneigem são proibidos. A filosofia  e a literatura que lhes ensinaram prepararam-nos para habitar a lata de conservas em que os meteram. Os burocratas do ministério, mais os seus proles ( os prof), habituaram os miúdos  a desejar o controlo académico. Não é por acaso que a revolta e a indisciplina só se expressam nas bebedeiras instantâneas antes da meia-noite e a dias certos.
No meu tempo o sistema tolerava  insubordinados como eu e muitos.  Regulávamos a coisa.

2.2) A entrada para a  fac corresponde  ao orgasmo da mobilidade social. A grande massa é filha dos que nunca conseguiram estudar. A alegria com que aderem à merda da praxe é uma pena no chapéu, nunca  um sacrifício. Os doutores começam por ser caloiros e os caloiros são praxados.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Vila do Conde

- Jorge Jesus, como explicar o que aconteceu hoje?

 - Explicar? Explicar? Na há nada a explicar. Esta equipa joga como eu quero, joga com as minhas ideias. O que fez no campo  aqui do Rio Ave, que é muita difícil, atenção, não é para qualquer um. 

- Ainda assim, o resultado ao intervalo foi uma supresa, não?

- Surpresa? Surpresa para vocês, que só vêem isto de fora. Foi tudo planeado, as minhas equipas executam as minhas ideias ao detalhe.  Ou você julga que aquele salão de baile do nosso lado esquerdo da defesa foi um acaso? Julga que foi o Bruno César que  acordou um dia  e resolveu adaptar-se a defesa esquerdo?

- A defesa cometeu erros terríveis...

-Aqui no Sporting somos um grupo muita unido. Quando se perde não é só culpa de um  jogador: é dos onze mais dos suplentes que entraram. 

- Pode ter havido algum deslumbramento depois de Madrid?

- Boa pergunta essa, eh eh eh , não tinha pensado nisso. Pode, pode. Eu dei o exemplo  pondo os pés bem chão e até disse, veja ,  que eu era só  o maior de Portugal. Não me meti a dizer que era o maior da Europa! Agora com certeza alguns jogadores deu-lhes para a farronca.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Queimar navios

Enquanto uns patuscos  discutem  o burkini como uma questão de moda e de corpo feminino ( juro, li de relance no Expresso ), alguns franceses já vão muito à frente. Et pour cause:
Il ne s’agit pas de la radicalisation de l’islam, mais de l’islamisation de la radicalité.»

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aperitivo filipino

O Bispo Brent apresentou, em 1904, em Manila, o seu plano para a erradicação total da droga. Três fases:

a)Manutenção do monopólio ( que Madrid tinha instituído) durante três anos com venda exclusiva a chineses.

b) Redução gradual das rações de ópio e encerramento progressivo dos dens.

c) Excepções apenas para fins terapêuticos: a desabituação em hospitais.

Em 1908 o plano foi finalmente cumprido, apesar da oposição do governador Taft ( que veio  a ser presidente dos EUA). A primeira proibição integral do comércio e uso do ópio estava consumada. A História, como todos sabemos, encarregou-se de  mandar às urtigas a eficiência da coisa. De nada serviu o aviso feito pelo presidente Lincoln, pouco mais de meio século antes: quando proibimos deixamos de saber quem consome, o que consome e quanto consome.
A mensagem que a experiência filipina enviou foi cristalina: a proibição como única forma de controlo, a lei como garantia da proibição. As conferências internacionais de Xangai ( 1909) e da Haia ( 1912) confirmaram a nova filosofia. O Ocidente, através da América, iniciava a war on drugs.


O que está  acontecer agora nas Filipinas foi o que aconteceu na China de Mao, mas o textinho olvida que os reincidentes eram executados. Duvido que na altura tenha levantado tanta indignação entre  os libertários: costumam ser selectivos nas indignações.
Com mais tempo, uma previsão  do futuro da actual  ravage filipina .

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A beautiful culture: sonsos e canalhas

 Sonsos:

 Beautiful culture . Imaginam alguém escrever isto sobre um país sul-americano, por mais belo e  antigo que fosse,   em que um regime de padres punisse  a homossexualidade   com pena de morte? 


Canalhas:


Isto fez-me lembrar a propaganda com que cresci. Os relatos sobre o estado policial  na ex-RDA ou na URSS eram todos de agentes da CIA encapotados.  Se havia presos eram porque tinham cometido crimes ( roubo, assassínio etc) e não porque liam livros ou discutiam ideias. Como agora.
O que não me lembro  de ter lido na altura foi  um maduro dizer que os opositores a Brejnev ou a Honecker deviam falar por eles próprios. Sei lá, dar conferências de imprensa talvez...

domingo, 4 de setembro de 2016

Notas da rentrée política


1) Meyer-Clason, editor de autores comunistas ( por isso com atestado de tipo porreiro), definiu,  como ninguém, no seu diário a esquerda fru-fru lisboeta: se quisessem fazer um filme sobre o povo, tinham  de passar meses entre o povo só para aprender a fala.
Serve isto para ilustrar a posição depressiva  da consciência de esquerda do governo. Ele sabe que ela existe, ama-a, mas sente a sua falta. Daí os jogos florais do Bloco e do PCP, mugindo angústias e arrependimentos, quando não ameaças de tias levemente zangadas com as travessuras dos sobrinhos.
Tudo plástico, tudo com o olhar nas sondagens.

2) O PSD é Passos, o verdadeiro eucalipto. Não existe outra  figura a quem as pessoas associem a mais desmaiada ideia de oposição. Daí a tenacidade com que os media, o PS e o Bloco ( a ordem é indiferente) o querem despachar.  Sabem que o PSD ficará em cacos durante  dois ou três anos.
Está ele a fazer bem  o papel? Não há cornudo-estrela. Está  a fazer o que pode, entalado entre o neo-tremendismo , agora à direita , e a pose de sensato paciente. Está fazer de Seguro, com  a vantagem de não ter um colega como Costa, pelo menos até às autárquicas.

3) O CDS tem escola. É o Barcelona da vida política   e prossegue os ensinamentos de Portas-Cruijf: tanto é campeão dos reformados como lhes vai ao bolso, tanto urra contra a cleptocracia comunista como lhe come os croquetes nos congressos.

4) A SIC e a TVi ,  antes de darem voz  a alguém do CDS ou do PSD , recordam sempre o passado. Fazem bem. Seja sobre impostos, cortes etc. Refrescante é recordar  o que fizeram entre 2011 e 2015. Antes de darem voz ao PS recordavam "Este  é o partido que primeiro cortou pensões e chamou  o FMI ?"  Tá bem abelha, deve ser o  tal domínio direitola sobre o mais importante media.