segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Conrad vs. Fukuyama

Neste momento, há um jihadista à solta em Paris ou em Bruxelas, talvez com um cinto de explosivos pronto a rebentar. Lembra o Professor, um dos anarquistas do Agente Secreto de Conrad, mas com uma diferença: Salah Abdeslam, o alegado cérebro dos atentados de 13 de Novembro, é real. Há notícias de que fugiu para a Síria, ou que as bombas encontradas num caixote de lixo parisiense eram suas e se arrependeu, mas ninguém sabe ao certo. O mistério adensa a ameaça. Todos gostaríamos que os rumores fossem verdadeiros - para acordar do pesadelo, para viajar outra vez em liberdade, para nos sentarmos a uma esplanada sem receio de levar um tiro ou ir pelos ares. Mas tiraram-nos isso e não sabemos quando nos será devolvido. Estamos em guerra, disse Hollande. Como Bush, após o 11 de Setembro. E temos medo. A história não acabou, ao contrário do que profetizou Fukuyama. A globalização da democracia e do mercado - de resto, mais superficial do que pensámos entre a queda do Muro e a queda das Torres Gémeas - não trouxe mil anos de paz. A utopia liberal venceu os amanhãs que cantam, mas esqueceu que os homens são mais do que consumidores e cidadãos. Os damnés de la Terre não terão sempre Paris, mas terão sempre aquela íntima, obscura, terrível vontade de poder que leva a matar inocentes em nome de uma ideia. Ontem a sociedade sem classes ou a libertação dos povos, hoje o califado. Talvez seja esta a maior lição do terrorismo islâmico: a guerra voltou e a história nunca se foi embora. Não há utopia que resista à realidade.

domingo, 29 de novembro de 2015

Um mistério e os media calados, claro

O que distingue Tiago Brandão Rodrigues das centenas de bons jovens  investigadores  ( em cancro ou no sistema imunológico da tartaruga) que "estudaram lá fora"? Mario Nogueira, por exemplo, comprendia-se. É quem mais sabe de greves a exames e  colcações de professores

TBR não tem uma linha publicada sobre  política educativa. Não seria  caso virgem se tivesse experiência de liderança de grandes organizações (  como o  ministério ) ou , pelo menos, experiência de governante noutras duras áreas políticas. Nada. Népias.
O que nos venderam, portanto, foi que, um dia,  A. Costa foi a Caminha,  num tecno-arraial conhece o moço e agora lembrou-se dele para um dos mais difíceis ministérios, aqui ou na China. Se isto é verdade, é terrível; se  há gato escondido, ainda  pior.


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Isto devia acompanhar a carga da brigada ligeira contra o ISIS (e os Clash aprovariam)

Cachimbos de lá

John Frederick Peto, Natureza morta, s.d.

Fica para a história

Tem-se dito que este é o primeiro Governo em Portugal chefiado por um descendente de indianos e com uma ministra negra. É verdade e, como sinal, é positivo. Nada mais. Tirar daí conclusões sobre o mérito do dito Governo soa a complexo colonial, quando não a paternalismo. Mas este é também o primeiro Governo do partido que perdeu as eleições. Isso, sim, fica para a história e não tem mérito nenhum.

Muito instrutivo


Cada um tem as suas manias. A minha são as semi-biografias/ meias-memórias/metade-ensaios.  Este  livro de Heraldo Muñoz entra na categorias. Em Portugal, só a Irene Pimentel pratica o género ( na primeira  e terceira categoria). 
Muñoz foi um defensor de Allende, exilado político, regressado para o combate durante o plebiscito de 1988. Depois foi ministro, embaixador etc. Escreve muitíssimo bem e o livro lê-se com gulodice pese o detalhe e rigor ( sem os quais este estilo não interessa). E aprende-se muito, recorda-se um pouco.
Uma coisa que se confirma: pode-se derrubar um ditador  sanguinário sem derramar sangue e sem o substituir por outro tipo de terror. Haja coragem, muitos miolos e respeito pelas pessoas e não pelo fanatismo ideológico. Uma pequena ilustração. O presidente da câmara de Santiago quis proibir a recolha de assinaturas para o que foi uma espécie de federação de partido democratas na altura do plebiscito: não tinham licença para montar as pequenas mesas de madeira nos passeios. Um tipo lembrou-se das antigas vendedoras de cigarros nos cinemas, com o seu tabuleiro pendurado ao pescoço. E tumbas.
Uma nota final para a masturbação  actual com um filme em sala sobre os malvados americanos  a vender políticos como sabonetes. Pois bem, quem ajudou o "Não"  a vencer o "Sim" a Pinochet foi uma equipa de marqueteiros americanos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Pequeno guia para a oposição à coligação negativa: sim, pasáran!


O No pasarán ! é da autoria de Petáin e Nivelle e foi usado na  batalha de Verdun, na Primeira Guerra Mundial. Dolores Ibárruri  imortalizou-o, sim, mas a origem do mot d'ordre  é francês. É um bom slogan, mas o centro e a direita devem aplicar ao governo cabeça de turco da coligação negativa o inverso: sim, pasarán!

1) Em primeiro lugar, não esquecer que ao centro-direita  está vedado o protesto de rua. Não tem implantação sindical nem mediática ( sempre necessária para abrir telejornais  com manifestações de 25  pessoas).  Pôde, em circunstâncias  irrepetíveis ( Fonte Luminosa) mobilizar a rua, mas esses tempos  já lá vão,  e poderia se Lisboa fosse Caracas, o que felizmente não acontece. 

2) A composição do novo governo é  quase irrelevante.  O anterior tinha secretários de estado  e ministros um grau acima do  analfabetismo. O tecido mole  é o seu apoio parlamentar. É a exploração do equilíbrio precário entre um PS de governo e os  seus  andaimes variados - desde os assumidamente neoestalinistas até aos zizeckianos, não esquecendo os que descreveram o PREC  dos mandatos de captura em branco como "o período em que mais se aprofundou  a democracia" ( pp 45).

3) O ataque ao tecido mole será feito na AR e na discussão pública. Da AR não falo, nunca lá estive e creio que já não tem hoje grande sumo para  a representação social da luta política. 
O espaço público é outra louça:

3.1) Compreender que num primeiro momento tudo  serão rosas. Não adianta  pôr o dedo no buraco no dique, antes estar preparado para o pós-dilúvio. Eviar o revanchismo fácil, que será visto sempre como um ataque  à nova ordem e os portugueses, não esqueçamos   Pessoa, são muito parecidos com os alemães.  Quando a conta começar a chegar, o centro-direita  tem de estar no terreno há muito. 

3.2) No terreno, a exploração do tecido mole deveria ser  conduzida num duplo movimento. Todas as cedências do PS aos caballeristas devem ser traduzidas nas perdas correspondentes dos sectores afectados.  Na direcção contrária,  a mesma técnica: todas as resistências do PS  ao autoproclamados defensores dos novos braceros devem ser ampliadas, cavando o fosso entre os andaimes e obra.

3.3) Os meios ? Marcar presença nos sindicatos moderados, nas ordens profissionais, nas academias, nas corporações judiciais e securitárias. Potenciar os municípios não afectos ao PS e aos seus andaimes. Trabalhar o  espaço mediático de comentário e , claro, as redes sociais. Não contemos com  os iletrados da carne assada e das Jotas: um cão cego seria mais útil.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

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Algumas notas sobre o novo governo

1- Regresso em força dos socratistas, com Augusto Santos Silva à cabeça.
2- João Soares na cultura? Que injustiça para Pacheco Pereira...
3- O novo Ministro da Educação vem directamente de Cambridge, o que pode não querer dizer nada, a não ser que a velha veneração pelos estrangeirados está bem e recomenda-se e que a ciência vai receber mais dinheiro (mesmo com outro ministério).
4-  Francisca Van Dunem é um nome forte na Justiça, mas vai ser preciso estarmos muito atentos ao processo de Sócrates.

Rir e sorrir

Com Zoschenko, no Depressão Colectiva.

sábado, 21 de novembro de 2015

In (decisões)

No Depressão Colectiva.

Adíos Rui Vitória, o Temeroso

Ao contrário dos snobs, não me atirei a Rui Vitória por causa de uma pré-época ( pré!!!!) merceeira à Vieira dos Pneus. Ao contrário dos canalhas, que estiveram calados o ano passado , não justifiquei  as primeiras vitórias de Vitória com favores do  árbitro.  Nunca  durante estes anos saboreei derrotas do Benfica  ( e foram 3 anos seguidos a acumular  vergonhas), nunca desvalorizei as vitórias. Desprezo absolutamente os badalhocos que preferem as suas apostas ao Benfica.
Posto isto, hoje cheguei ao fim com Rui Vitória. Entrar a ganhar e depois ficar cá atrás à Moreirense é uma vergonha inominável. Não ter a coragem de reformar Luisão ( que já é português porque acha que é faltar-lhe ao respeito considerá-lo acabado) e não conseguir ao fim de quase seis meses ter uma equipa coordenada e ambiciosa, é inadmissível.
Perder podemos, tremer como  alforrecas não. Vai treinar o Moreirense e que sejas muito feliz.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A propósito

Há algo de muito podre no reino das secretas europeias. Chamem-lhe incúria, negligência, descoordenação, falta de meios, o que quiserem, mas dificilmente se compreende que meia dúzia de barbudos já sinalizados como "radiciais" vão à Síria, voltem para Bruxelas, comprem um arsenal, aluguem dois carros e se instalem em Paris sem ninguém dar por nada. Em parte, a culpa é da velha relação esquizofrénica que as democracias mantêm com a intelligence: queremos mais segurança, mas sem tocar nas liberdades. O dilema merece uma reflexão muito séria. Mais do que o estado social, o multiculturalismo ou a crise dos refugiados, talvez seja esta a grande questão política da Europa nos próximos anos. Por outro lado, as notícias que hoje li sobre o julgamento do chamado "caso das secretas", e que citam o "super-espião" Silva Carvalho como tendo afirmado que "90% do modus operandi dos serviços de informações é ilegal", deixam muito poucas ilusões sobre o género de mafiosos a quem está entregue a defesa da República. Suponho que, lá fora, o panorama seja semelhante. Mesmo admitindo que se trata de bluff  e que o tipo diz qualquer coisa para salvar a pele, fico pouco tranquilo com a hipótese de dar mais poder a aprendizes de feiticeiro. Se querem falar de combate ao terrorismo, comecem por aqui.

Diário de um cínico

Como era de prever, os grandes beneficiários dos atentados de Paris são Putin e Assad.
Graças à inércia do Ocidente, Moscovo ganhou, na prática, o estatuto de única potência que faz frente ao Estado Islâmico: basta ver como as notícias nos dizem que a França quer coordenar os seus ataques na Síria com os russos, apesar do evidente incómodo de Washington. Consequências futuras? Ou muito me engano, ou ninguém vai falar tão cedo da Ucrânia. Putin ficou com as mãos livres para prosseguir a sua deriva imperialista.
Quanto ao sírio, os mortos de Paris são o equivalente político a ter acertado no euromilhões. Enquanto combater o jihadismo, os países ocidentais vão fechar os olhos a todas as suas atrocidades. Lembram-se das ameaças de Obama e Cameron sobre a famosa linha vermelha? Passaram à história (se é que alguma vez foram levadas a sério). Assad ganhou um prazo de validade vitalício no Bataclan.
Ah, é verdade: a Sra. Le Pen também foi outra feliz contemplada da noite, mas ainda é cedo para avaliar a sua sorte. Esperemos pelas eleições.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Jonah Lomu (1975-2015)


So, we`ll go no more a roving
So late into the night, 
Though the heart be still as loving
And the moon be still as bright.

For the sword outwears its sheath,
And the soul wears out the breast,
And the heart must pause to breathe,
And love itself have rest.

Though the night was made for loving
And the day returns too soon, 
Yet we´ll go no more a roving
By the light of the moon.

Lord Byron

Todos nos lembramos. Jonah Lomu irrompeu no rugby internacional exactamente ao contrário do verso de T.S. Eliot que descreve o fim do mundo: not with a bang, but with a whimper. O bang foi o Mundial de 95, na África do Sul, tempo de enormes mudanças. O Muro de Berlim caíra há meia dúzia de anos, o apartheid terminara, a África do Sul voltara ao convívio das nações civilizadas e às grandes provas internacionais, Mandela saíra em triunfo da prisão e era agora Presidente da nação arco-íris. Os Mundiais de 87 e 91, ainda sem os Springboks, tinham mostrado a popularidade global do  rugby, apesar do domínio anglo-saxónico e francês. Com a televisão veio o dinheiro e com o dinheiro o profissionalismo. O velho jogo das public schools vitorianas e das cidadezinhas do Midi e de Otago adaptou-se depressa, mas tinha uma desvantagem comercial. Deporto de equipa por excelência, não dispunha de muitas estrelas. Fora do círculo de entendidos, poucos apreciavam as dark arts de um Michael Jones ou a bota certeira de um Rob Andrew. Havia Blanco, Kirwan e Campese, não por acaso grandes finalizadores, mas sabia a pouco. Lomu veio mudar tudo. Chegou aos All Blacks com 19 anos, 120 quilos, quase dois metros de altura e 10 segundos aos 100. Ninguém o conhecia, mas cedo mostrou um estilo directo e devastador que faria as delícias das multidões.
Ainda na fase de grupos, a primeira vítima foi a Irlanda: dois ensaios de Lomu, dois a passe de Lomu e uma exibição que deixou toda a gente de boca aberta. Quem era o miúdo?

Seguiu-se a Escócia, com outro ensaio marcado, outro oferecido e novo tapete de corpos estendidos ao longo do terreno na vã tentativa de o travar. O miúdo tinha mesmo qualquer coisa.
O miúdo não jogou contra o Japão (não foi preciso) e a Nova Zelândia passou aos quartos-de-final, onde venceu Gales. O miúdo não marcou, mas deu mais um ensaio a marcar,depois de outra das suas já habituais cavalgadas.
Mas o melhor estava para vir. 18 de Junho, meias-finais, Cidade do Cabo. Os All Blacks enfrentam a muito boa Inglaterra de Carling e companhia. Todos os olhos estão postos no miúdo. Ao fim de 10 minutos, o desastrado Bachop tenta passar-lhe uma bola longa, que sobrevoa a linha de três-quartos e cai ao chão. A jogada parece perdida, mas o ressalto, caprichosamente, vai parar-lhe às mãos. A trinta metros da linha de ensaio, Lomu embala. Foge a uma primeira placagem de Rob Andrew, foge a uma segunda de Carling, que ainda consegue desequilibrá-lo, cambaleia mas não cai, fica frente a frente com Mike Catt, que se baixa para o placar como mandam as regras, último obstáculo antes da glória do outro lado da linha branca. E passa por cima dele... Não o finta, não se desvia, não o afasta. Limita-se a  prosseguir como se ele não estivesse lá.
Inacreditável. Mas o miúdo faz mais, muito mais. Marca mais três ensaios e manda, sozinho, a Inglaterra de Carling e companhia para casa. Tinha nascido uma estrela. Agora, já se sabia quem era o miúdo: o mais espantoso jogador que alguma vez pisara um campo de rugby. Horas depois, Carling diz aos jornalistas que Lomu é um monstro ("a freak") e que espera não voltar a encontrá-lo tão cedo. O talonador inglês Brian Moore, célebre pelo mau feitio (embora hoje um muito reputado comentador), responde a quem lhe pergunta como parar o "freak": com uma espingarda para elefantes. Não tenho a certeza que fosse uma piada.
Contudo, a força de Lomu vem a revelar-se, na final, a fraqueza dos All Blacks. Contra a anfitriã, apoiada por Mandela e por 44 milhões de sul-africanos à espera de um milagre, a favorita Nova Zelândia concentra-se em fazer chegar a bola ao seu ponta esquerdo. Mas o milagre acontece. Durante oitenta minutos, mais os vinte do prolongamento, os Springboks conseguem sempre placar Lomu. Foi uma das melhores prestações defensivas que já vi na vida. Não houve ensaios, mas foi épico na determinação, no rigor táctico, no sangue frio dos sul-africanos. Quem viu o jogo em directo percebeu que, para eles, aquilo não era só um jogo. O sentimento de que qualquer coisa extraordinária se estava a passar é bem exemplificado por aquele que foi, quanto a mim, um dos episódios do jogo. Ao fim de um quarto de hora, os All Blacks tentam um movimento previsível, mas nem por isso menos demolidor: a entrada de Lomu a seguir ao abertura. O ponta recebe a bola de Mehrtens a todo o vapor, passa pelo abertura e pelo asa contrários como se não existissem e, quando parece ter pela frente uma auto-estrada, é Westhuizen, o mais tecnicista dos Boks e na altura o melhor médio de formação do mundo, quem se lança aos seus joelhos, vindo sabe-se lá de onde, e consegue  derrubá-lo com uma placagem de tirar a respiração.
Imaginem que Miguel Ângelo deixava o escopro com que esculpia o David, por momentos, e ia extrair mármore com uma picareta para Carrara: a placagem de Westhuizen foi mais ou menos isso. E teve um efeito psicológico extraordinário. De repente, o mundo inteiro viu que era possível para Lomu. Os All Blacks bem tentaram dar-lhe a bola de todos modos e feitios, mas havia sempre um, dois, três Boks no caminho. Lomudependentes, os neozelandeses não tinham outra solução que não fosse Jonah - ou a bota de Mehrtens. O jogo foi, por isso, um duelo de chutadores. Stransky, com um drop  a escassos minutos do fim, venceu-o. E, com ele, a nova África do Sul. O resto é história.
Lomu era uma combinação improvável de massa e velocidade. Collin Meads, outro lendário All Black, disse quando o conheceu: "já vi muitos tipos como ele, mas nunca a jogar a ponta". Isso não fazia do "rinoceronte com pés de bailarina", como alguém lhe chamou, o melhor jogador de sempre, título talvez atribuível a Gareth Edwards ou a Richie McCaw. O arsenal técnico do big man era limitado - só que tremendamente eficaz. Implacável (nunca esta palavra foi tão literal) no um para um, podia ultrapassar o adversário directo com um monumental hand-off,

uma inesperada troca de pés

ou um débordement perfeito.
 Com isto, criava espaço, esse luxo cada vez mais raro no rugby moderno. São poucos, muito poucos, os eleitos que criam espaço simplesmente pela sua movimentação individual, e Lomu fazia-o como ninguém. Depois, com os 5-10 metros assim ganhos, acelerava para a linha de ensaio, se não tivesse oposição, ou inflectia para dentro e ia ao contacto, semeando o pânico na defesa. E quando isto não dava, sabia que podia contar com o apoio de Josh Kronfeld, príncipe herdeiro da longa e gloriosa linhagem de 7s de manto negro, a quem Lomu, o conquistador, oferecia graciosamente os despojos dos vencidos.
O resultado era pura beleza em movimento, aquela beleza de que são feitas as ondas do mar ou as cargas de cavalaria, uma beleza que entrava pelos olhos dentro sem necessidade de saber distinguir um maul de uma mêlée. O rugby era grande e Lomu o seu profeta. Defendia mal, não sabia chutar e ignorava a placagem, mas vinha do outro mundo, um mundo de heróis e semideuses. Na verdade, Lomu parecia um herói de jogo de vídeo e, alguns anos depois, tornou-se mesmo um deles.
No mundo real, porém, nem os heróis fogem à morte. No mesmo ano de 1995 em que a glória lhe caiu no regaço, foi-lhe diagnosticada uma grave doença de rins. Passou a fazer intensas sessões de hemodiálise, primeiro três vezes por semana, depois todos os dias. Abandonou o rugby pouco depois de brilhar de novo no Mundial de 99 - que também não venceu, eliminado nas meias-finais por uma memorável segunda parte da França (três ensaios gauleses contra dois de Lomu).

Morreu ontem, de ataque de coração, no regresso de um outro Mundial em que a sua Nova Zelândia se tornou a primeira equipa da história a repetir o título e o seu record de quinze ensaios em fases finais foi igualado pelo sul-africano Bryan Habana. Lá no Olimpo, Mandela há-de tê-lo recebido com um sorriso malandro: "Do you remember, Jonah...?"

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Helmut Schmidt (1918-2015)


A morte de Helmut Schmidt vem lembrar-nos dolorosamente que houve um tempo, também por cá, em que a esquerda foi assim: social-democrata em política mas liberal em economia, patriota mas europeísta; culta mas avessa a todas as utopias. E fumava (ah, se fumava...). Foi há muito, muito tempo.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Padrões fóbico-obsessivos:

No Depressão Colectiva.

E mentem, mentem, mentem...

A rábula da suposta agressão a Isabel Moreira na manifestação de direita, ontem, já começa a enjoar. Não estive lá, mas o que vi na televisão foi a senhora deputada a passear-se com tranquilamente pelo meio do povo inimigo. Agressões? Só apupos e insultos, sem dúvida, mas ninguém lhe tocou. E pergunto-me se a Pasionaria do Restelo não estaria exactamente à procura da sua Marinha Grande. Já agora, o que teria acontecido se um dos deputados da PAF fizesse o mesmo na manif da CGTP?
 Enfim, é uma socialista portuguesa com certeza: a mentira como política e está pronta para o seu close up.

Reescrever a história

António Costa voltou a dizer ontem, no Parlamento, que o acordo das esquerdas "derrubou um muro", ou qualquer coisa assim. Alguém devia explicar-lhe que o outro Muro caiu para tirar os comunistas do governo e não para os levar para lá.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma associação de malfeitores

O PS tornou-se uma associação de malfeitores. Antes, deu-nos um Primeiro-Ministro que roubou os contribuintes para encher os bolsos. Agora, dá-nos um Primeiro-Ministro que rouba os eleitores para chegar ao poder. O roubo é o mesmo, os cúmplices é que mudam. A corrupção de Sócrates serviu-se dos bancos e das grandes empresas. A golpada de Costa serve-se do Bloco e do PCP. Não lhes chamo idiotas úteis porque uns e outros sabiam e sabem o que estavam e estão a fazer. Quanto ao partido da Fonte Luminosa, paz à sua alma (se é que ainda a tem).

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Olhe que sim, olhe que sim

É impressão minha ou o Dr. Soares anda muito caladinho sobre a maravilhosa frente de esquerda? E ninguém lhe pergunta nada?

domingo, 8 de novembro de 2015

Uma porcaria


O período de graça chegou ao fim. Não comeces a pôr a equipa a saber sair a jogar de trás para a frente e quem fica bloqueado, e a treinar o Omonia Nicósia, és tu. 
É patética a maionese deslaçada, o Gaitán não disfarça tudo e conheço parkinsónicos mais coordenados do que os nossos defesas.

domingo, 1 de novembro de 2015

A treta do "destruíram a cultura"

Dando de barato que num país  sob resgate ( ler outra vez) a produção cultural dificilmente aumentaria, vamos então  ver a treta da destruição da cultura  que todo o pagaio papagueia, mais agora que o governo-sonso resolveu criar um ministério da dita:

Teatro, receita de bilheteira:
2010: 10, 5  milhões euros
2014:  10, 8

Teatro, concertos e espectáculos :

2010: 30.088 sessões
2014:  29. 666 sessões

Livros originais  catalogados na BN:

2010: 8983
2014:   9782

Música e dança:

2010: 11.926 sessões
2014: 11.640


Fonte: óbvio.





A escola cínica aplicada

No Depressão Colectiva.