segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Rui Derrota


Antes da pausa ( Natal e perambulações várias para tentar publicar um livro de  histórias de violência sobre mulheres), o meu Benfica:

As dúvidas estão dissipadas. O RV será um óptimo treinador para o Paços de Ferreira  ou para o Guimarães. O Jorge Mendes podia tentar lá colocá-lo. Ou num paraíso fiscal.
A equipa não tem temple, não manda no jogo, faz contra-ataques venenosos e defende como um aflito. É um Paços. O problema é que a Luz não é a Mata Real.
Fomos campeões e até podemos  voltar a sê-lo outra vez este ano? Faço minhas as palavras de Bismarck sobre o título que Guilherme I deveria ostentar ( imperador da Alemanha ou imperador alemão) : Nescio quid mihi magis farcimentum  esset. Ou seja, estou-me nas tintas.



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Política, media, redes sociais e os cegos ( III)

 Era assim que dantes as pessoas  comuns escreviam no espaço consignado aos leitores dos jornais:

Exmo Sr Director

Deixe-me começar  esta humílisima  epístola por felicitar o jornal que V.Exa. superiormente  dirige. Que Deus lhe dê muitos e bons anos nessa hercúlea  e gloriosa tarefa.
O assunto que me leva a incomodar V.Exa ,  e a partilhá-lo com os seus leitores, é o seguinte : na minha rua existe há seis meses uma canalização rota que blá blá blá..... traz grades incómodos  aomoradores blá blá .................


Agradeço, penhorado, a atenção de V.Exa,
Anastácio Velinha

Bem antes de a maré twitter virar ( das primaveras árabes para o Trump), as caixas de comentários dos jornais online já eram  o  alvo : lixo, baixaria, vazadouro, não se admite, fechem essa gaita etc.
 Temos, portanto, que o problema não é uma técnica  específica, ( o twitter é diferente das caixas de comentários dos jornais) , mas a titularidade  de um novo espaço comunicacional.


Podemos falar  de ampliação, ou de ligação directa, mas também podemos usar o conceito que  Manchev aplica à  condição sobre-estética: uma totalização privativa. Significa isto um campo sensível capaz de reagir a todos os estimulos, o sonho de Fukuyama , no qual o lifestyle se sobrepõe às velhas identificações  colectivas, políticas, que organizavam o mundo. Manchev considera isto  um snobismo  em que  a vida fica reduzida  a uma mercadoria através  de modos de  troca, produção  e controlo, que  impõem reacções imediatas a estímulos estéticos que, por sua vez,geram mais reacções  Um campo animal, um sentido aistético, já não da arte, mas, neste caso, da comunicação.

Simplificando, a opinião política aberta a todos, em tempo real e sem mediação das velhas elites é o sonho , sim, mas não o de Fukuyama: o dos anarquistas. Zizek, pelo seu lado, já desdenha  dos Indignados  espanhóis e dos manifestantes gregos: 


As pessoas, coitadas:



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Talvez

Está pronto o que pode ser mais um livro. Não, não é o manual de autodestruição. É sobre mulheres, as que morrem que nem tordos. Se sempre houver edição dou-vos notícia.

sábado, 26 de novembro de 2016

Política, media, redes sociais e os cegos ( II)

Leiam isto. Lembram-se das primaveras árabes? Vejam como o mesmo jornal falava de uma rede social em 2011. O que mudou? Até um morto responde. Aliás , só um morto pode jsutificar que baste  um Trump para mudar toda uma teoria  sobre redes sociais.
A autora é muito clara na sua confusão:

Em vez disso — e tal como acontece com todas as tecnologias — as redes sociais são ferramentas que podem enriquecer os processos democráticos, pois ajudam a dar voz aos que não a têm, mas que, por outro, são uma plataforma excelente para os populistas disseminarem a sua mensagem de forma muito eficaz. A lua-de-mel das redes sociais acabou.

A confusão assenta na categorização moral de uma tecnologia. Ao endeusamento segue-se  a reprimenda. Aqui já nem interessa que o motivo seja o de sempre ( elegeram um tipo de quem os departamentos universitários não gostam), antes a própria categorização.

A expressão popular, no lavadouro municipal ou  no twitter,  não é um valor moral em si. A tecnologia que amplia essa expressão também não pode, logicamente, constituir uma categoria moral. 

( cont)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O cu e as calças

SIC-N, antes das 20.00h. José Pedro Tavares, enviado à Turquia. Depois de reconhecer os milhares  de prisões de jornalistas (colegas dele) , advogados, professores etc, termina comentando a resolução do PE sobre a Turquia: isto vem numa altura em que a  Europa vive uma onda ( penso que foi esta a expressão)  de xenofobia e islamofobia.
 A única onda que a Europa tem tido é de ataques letais e ajuda a refugiados ( pese a Hungria) , mas devia bastar a prisão e perseguição  psicóticas de jornalistas colegas dele. Nada chega para esta gente.

Nauseabundo

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Política, media, redes sociais e os cegos ( I)

Toda a  mudança tecnológica implica transformação social. Isto é uma lei de bronze que, quando ensinava psicologia social, desafiava os meus alunos a contrariar. O prémio era de 500 euros. É delicioso que tanto politólogo, colunista , sociólogo e analista só tenham isto para dizer sobre política e redes sociais: "É uma vergonha, pá".
 É delicioso, mas não nos deve espantar. Quando alguém justifica a ascenção de um político através de eleições, há sempre o coro dos  distraídos: "Hitler também chegou ao poder através de eleições em 1933". Por acaso não houve eleições  nenhumas em 1933, por acaso o partido nazi perdeu votos e lugares em 1932, por acaso foi nomeado  porque  alguns amedrontaram-se  e porque a alta finança alemã queria ordem nos vermelhos. Seja como seja, a palavra  do povo é uma estucha...

O essencialismo reside na representação que, em cada época ou lugar , o poder de nomear  desenha. Tem o poder da palavra, de dizer como as coisas são.
Em Cuba não são necessárias eleições porque toda a gente ( o PC cubano) sabe o que o povo quer. Lassale era ainda  mais pragmático nos seus conselhos a Bismarck:  as massas querem é recompensas materiai: dê-me o sufrágio universal e eu dou-lhe um milhão de votos.


Se nada disto é novo, como é possível o estupor diante do efeito das redes sociais? Como é possível o ar compungido com que se queixam de agora toda  a gente ter opinião sobre assuntos complexos? Claro que  problema não é o homem  da rua agora ter opinião nem sequer  o de poder exprimi-la. É poder ter e exprimir em condições de recepção iguais aos dos dono da representação. Vai ficar cada vez mais difícil ser cubano.

( cont.)

domingo, 16 de outubro de 2016

Praxe ( II): UBI, Outubro 2016:

Esta rapariga  está comigo em apoio terapêutico, conheço-a bem. Passou um calvário com cirurgias e um ano de fisioterapia  ( um problema osteoarticular).
Texto no original:

( ela mudou de ideias, não quer o texto publicado)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Praxe

Dois pontos que não costumam ser vistos com deve ser:

a) Quando entrei na faculdade ( não cheguei a Coimbra porque sou de Coimbra)   já tinha regressado a tradição académica, mas a  nova praxe dava os primeiros passos.
 Lembro-me de certa  vez estar no bar da faculdade com o Emídio Guerreiro ( hoje político e ex sec) e o Pimenta. Chegaram uns trajados que queriam não sei o quê lá das merdas deles. Levantámo-nos, rimos-nos e aconselhámo-los a meter o rabo entre as pernas. Assim fizeram.
Ou seja, a praxe de hoje funciona porque a grande maioria dos caloiros querem que funcione. É uma merda, eu sei, mas as merdas existem.

2) E funciona por dois motivos:

2.1) Os miúdos que chegam à fac são os bem comportados. Assimilaram uma dúzia de anos de indigência de espírito. Camus e Vaneigem são proibidos. A filosofia  e a literatura que lhes ensinaram prepararam-nos para habitar a lata de conservas em que os meteram. Os burocratas do ministério, mais os seus proles ( os prof), habituaram os miúdos  a desejar o controlo académico. Não é por acaso que a revolta e a indisciplina só se expressam nas bebedeiras instantâneas antes da meia-noite e a dias certos.
No meu tempo o sistema tolerava  insubordinados como eu e muitos.  Regulávamos a coisa.

2.2) A entrada para a  fac corresponde  ao orgasmo da mobilidade social. A grande massa é filha dos que nunca conseguiram estudar. A alegria com que aderem à merda da praxe é uma pena no chapéu, nunca  um sacrifício. Os doutores começam por ser caloiros e os caloiros são praxados.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Vila do Conde

- Jorge Jesus, como explicar o que aconteceu hoje?

 - Explicar? Explicar? Na há nada a explicar. Esta equipa joga como eu quero, joga com as minhas ideias. O que fez no campo  aqui do Rio Ave, que é muita difícil, atenção, não é para qualquer um. 

- Ainda assim, o resultado ao intervalo foi uma supresa, não?

- Surpresa? Surpresa para vocês, que só vêem isto de fora. Foi tudo planeado, as minhas equipas executam as minhas ideias ao detalhe.  Ou você julga que aquele salão de baile do nosso lado esquerdo da defesa foi um acaso? Julga que foi o Bruno César que  acordou um dia  e resolveu adaptar-se a defesa esquerdo?

- A defesa cometeu erros terríveis...

-Aqui no Sporting somos um grupo muita unido. Quando se perde não é só culpa de um  jogador: é dos onze mais dos suplentes que entraram. 

- Pode ter havido algum deslumbramento depois de Madrid?

- Boa pergunta essa, eh eh eh , não tinha pensado nisso. Pode, pode. Eu dei o exemplo  pondo os pés bem chão e até disse, veja ,  que eu era só  o maior de Portugal. Não me meti a dizer que era o maior da Europa! Agora com certeza alguns jogadores deu-lhes para a farronca.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Queimar navios

Enquanto uns patuscos  discutem  o burkini como uma questão de moda e de corpo feminino ( juro, li de relance no Expresso ), alguns franceses já vão muito à frente. Et pour cause:
Il ne s’agit pas de la radicalisation de l’islam, mais de l’islamisation de la radicalité.»

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aperitivo filipino

O Bispo Brent apresentou, em 1904, em Manila, o seu plano para a erradicação total da droga. Três fases:

a)Manutenção do monopólio ( que Madrid tinha instituído) durante três anos com venda exclusiva a chineses.

b) Redução gradual das rações de ópio e encerramento progressivo dos dens.

c) Excepções apenas para fins terapêuticos: a desabituação em hospitais.

Em 1908 o plano foi finalmente cumprido, apesar da oposição do governador Taft ( que veio  a ser presidente dos EUA). A primeira proibição integral do comércio e uso do ópio estava consumada. A História, como todos sabemos, encarregou-se de  mandar às urtigas a eficiência da coisa. De nada serviu o aviso feito pelo presidente Lincoln, pouco mais de meio século antes: quando proibimos deixamos de saber quem consome, o que consome e quanto consome.
A mensagem que a experiência filipina enviou foi cristalina: a proibição como única forma de controlo, a lei como garantia da proibição. As conferências internacionais de Xangai ( 1909) e da Haia ( 1912) confirmaram a nova filosofia. O Ocidente, através da América, iniciava a war on drugs.


O que está  acontecer agora nas Filipinas foi o que aconteceu na China de Mao, mas o textinho olvida que os reincidentes eram executados. Duvido que na altura tenha levantado tanta indignação entre  os libertários: costumam ser selectivos nas indignações.
Com mais tempo, uma previsão  do futuro da actual  ravage filipina .

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A beautiful culture: sonsos e canalhas

 Sonsos:

 Beautiful culture . Imaginam alguém escrever isto sobre um país sul-americano, por mais belo e  antigo que fosse,   em que um regime de padres punisse  a homossexualidade   com pena de morte? 


Canalhas:


Isto fez-me lembrar a propaganda com que cresci. Os relatos sobre o estado policial  na ex-RDA ou na URSS eram todos de agentes da CIA encapotados.  Se havia presos eram porque tinham cometido crimes ( roubo, assassínio etc) e não porque liam livros ou discutiam ideias. Como agora.
O que não me lembro  de ter lido na altura foi  um maduro dizer que os opositores a Brejnev ou a Honecker deviam falar por eles próprios. Sei lá, dar conferências de imprensa talvez...

domingo, 4 de setembro de 2016

Notas da rentrée política


1) Meyer-Clason, editor de autores comunistas ( por isso com atestado de tipo porreiro), definiu,  como ninguém, no seu diário a esquerda fru-fru lisboeta: se quisessem fazer um filme sobre o povo, tinham  de passar meses entre o povo só para aprender a fala.
Serve isto para ilustrar a posição depressiva  da consciência de esquerda do governo. Ele sabe que ela existe, ama-a, mas sente a sua falta. Daí os jogos florais do Bloco e do PCP, mugindo angústias e arrependimentos, quando não ameaças de tias levemente zangadas com as travessuras dos sobrinhos.
Tudo plástico, tudo com o olhar nas sondagens.

2) O PSD é Passos, o verdadeiro eucalipto. Não existe outra  figura a quem as pessoas associem a mais desmaiada ideia de oposição. Daí a tenacidade com que os media, o PS e o Bloco ( a ordem é indiferente) o querem despachar.  Sabem que o PSD ficará em cacos durante  dois ou três anos.
Está ele a fazer bem  o papel? Não há cornudo-estrela. Está  a fazer o que pode, entalado entre o neo-tremendismo , agora à direita , e a pose de sensato paciente. Está fazer de Seguro, com  a vantagem de não ter um colega como Costa, pelo menos até às autárquicas.

3) O CDS tem escola. É o Barcelona da vida política   e prossegue os ensinamentos de Portas-Cruijf: tanto é campeão dos reformados como lhes vai ao bolso, tanto urra contra a cleptocracia comunista como lhe come os croquetes nos congressos.

4) A SIC e a TVi ,  antes de darem voz  a alguém do CDS ou do PSD , recordam sempre o passado. Fazem bem. Seja sobre impostos, cortes etc. Refrescante é recordar  o que fizeram entre 2011 e 2015. Antes de darem voz ao PS recordavam "Este  é o partido que primeiro cortou pensões e chamou  o FMI ?"  Tá bem abelha, deve ser o  tal domínio direitola sobre o mais importante media.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Não é o burkini, é o que está debaixo.

"Today, approximately 608,000 Muslims in Germany are German citizens. The number of Muslims taking up German citizenship is decreasing despite the creation of German citizenship laws that are characterized by aspects of a ius soli (territory based law), moving beyond the traditional ius sanguinis (derivation-based law) in 2000. Now children can be born as German citizens, even if their parents do not have German citizenship. 43)"



Apesar de todo artigo afinar pela cantilena da discriminação , ao trecho citado foge-lhe  a boca para  a verdade. Se falarmos de mulheres cidadãs europeias  ( alemãs ou belgas, tanto faz),  tanto faz se são muçulmanas ou católicas: a parafernália de conquistas   de direitos aplica-se-lhes de igual forma.


Só um idiota ou uma sonsa remetem para  a opção individual o dress code islâmico. Se bem me lembro, o direito à mini-saia , na história do movimento feminista, extravasou em muito a simples questão textil: it exploded onto the 1960s scene as a symbol of liberation and rebellion for young women the world over
É fabuloso constatar que na primeira linha da defesa da ponta de lança da opressão islâmica  da liberdade feminina esteja boa parte  da esquerda  libertária herdeira do women's lib.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Sexta-feira Santa

Crucifixo mexicano, séc. XIX.

CHRIST, SLASHED WITH AN AXE (IN A MEXICAN CHURCH)

Christ, slashed with an axe, in the humped church-
How shall we pray to you all pied with blood,
Yet deader by far than the hacked wood?
But pray we must since prayer is all our search
Who come in anger only to beseech.
Here kneel two creatures who believe in good,
Here stood two lovers, they believed in God,
And thee, too, though maimed at life´s touch
As by the doleful art of these dull men.
-Oh, ravaged by man but murdered in mankind,
Of peace a prater, yet of fire and shot
Vicarious exculpator to seventy times seven;
Image, we wish thee ill; yet alive in mind
That mind itself may live, and compassion forsake us not.

Malcolm Lowry

quinta-feira, 10 de março de 2016

sexta-feira, 4 de março de 2016

Ausência total de bom senso

Sobre a ida de Maria Luís Albuquerque para a Arrow, Manuela Ferreira Leite já disse tudo: "ausência total de bom senso". E a direita passa pela vergonha de ser o Bloco a falar (novamente...) de um período de nojo entre o abandono de funções governativas e a contratação por uma empresa privada do sector. Parece simples, mas em Portugal nada é simples. Não protestem a inocência da senhora, camaradas: quando o PS deixar o poder, verão que faz sentido.

Uma semana interessante

Terapia ( 17) no Depressão Colectiva.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Centro Comercial de Belém

A substituição de António Lamas por um boy de avental no CCB foi talvez mais do que uma das prepotências com que o PS costuma entregar-se à gestão da coisa pública. Antes fosse. O problema é maior, parece-me. 
O mandato de Lamas, em circunstâncias normais, terminaria em Dezembro de 2017. Ora, segundo o protocolo que há dez anos o então Primeiro-Ministro José Sócrates assinou com Joe Berardo para instalar a famosa colecção do comendador no CCB, o Estado português está obrigado a exercer o direito de preferência sobre a dita colecção até ao fim de 2016, ou Berardo pega nos oitocentos e tal quadros e esculturas e leva-os sabe-se lá para onde. Em circunstâncias normais, como aquelas que deveriam rodear o fim do mandato de Lamas, o Governo e Berardo começariam, pois, a negociar o futuro da colecção em meados do corrente ano. Ou seja, daqui a três meses.
Mas João Soares é um espírito livre e não gosta de circunstâncias normais. Primeiro, mal chegou à Ajuda, anunciou que a prioridade da sua política (chamemos-lhe assim) seria impedir a saída da colecção Berardo para o estrangeiro, uma das ameaças recorrentes do comendador. Por outras palavras, comunicou-lhe publicamente que podia pedir o preço que quisesse porque o Governo, se ameaçado, estaria sempre disposto a pagar. Brilhante. Depois, demitiu a pessoa que tem acompanhado o processo nos últimos anos, com expressas reservas quanto ao seu desfecho, a poucas semanas do início  formal das negociações. Mais brilhante ainda.
Recordo que a última avaliação conhecida da colecção, feita pela Christie´s exactamente em 2006, apontava para um valor total de 316 milhões de euros. Duas vezes mais do que o orçamento anual do Ministério da Cultura. Dez vezes mais do que os 80 Mirós do BPN. Cem vezes mais do que o Crivelli de Paes do Amaral. Para os quais nunca houve dinheiro. Tendo em conta o génio negocial de João Soares, é provável que Berardo venha a pedir ainda mais quando as negociações começarem. E é também provável que António Lamas fosse um obstáculo a este tipo de lei do mercado à socialista, como seria qualquer não-boy-do-avental. 
Talvez agora se perceba a pressa em demitir Lamas. Só não se percebe se o PS deve mesmo tantos favores a Berardo ou se Berardo é mesmo o preço a pagar pela política cultural (chamemos-lhe assim) do PS.   

quarta-feira, 2 de março de 2016

"Interoperabilidade da propaganda"

Lembram-se do  empreendorismo do Miguel gozado pelos pedantes?
Agora vejam isto,  sobretudo a apresentadora secundária, até inventaram as salas de espera.
Onde estão os pedantes? Não sei, mas caladinhos estão de certeza.

terça-feira, 1 de março de 2016

A coltura



O ministro da  cultura trata o director da mais importante sala cultural do país como dantes se tratava as mulheres a dias. Ultimatos, mão na anca, tudo no lavadouro. Quer lá pôr um seu adjunto e ex-governante socialista, o que é normal, mas entendeu poder fazer as coisas assim. À patrão.
Helena Roseta, Pacheco Pereira, Adão e Silva, A. José Teixeira , entre outros, grávidos de empáfia, passaram os últimos quatro anos em trezenas pela decadência: da cultura, da arte, do respeito pelas instituições, do cosmopolitismo. Relvas era o epítome  do homem do gangue de Passos, um lapardão  analfabeto e abrutalhado, formado nas negociatas políticas e na carne assada,  que sugava o Estado  e fechava os bons costumes num lupanar.
Diante do espectáculo da mulher peluda, oferecido pelo Soares, onde estão agora esses publicanos que tanto se enojaram com os Relvas desta  vida? Sobrepujantes de silêncio, na mesma lógica de assalto ao pote que Relvas perfilhava. E   sem urticária.  Nada de estranho, politicamente são iguais a ele.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Pacheco Pereira e Cunhal, o quarto volume


Li-o todo, de uma ponta à outra, como li os anteriores. O facto de ter conhecido tanto Cunhal ( graças aos bons ofícios do meu primo Jorge Gouveia Monteiro)  como o  biógrafo são detalhes, mas detalhes especiais.
Para quem tem a mania das biografias políticas ( das outras nem tanto),  não se pode ler  de outra maneira. Ainda por cima, o rigor  e o detalhe, a que JPP acopla um português de lei,  brilham sob  uma condição vital: o autor  de uma biografia política tem de ser um autor. Ou seja, não pode apenas relatar  factos ( nem tudo o que parece um facto  político o  é ) e comparar fontes.
Este volume mostra como Cunhal, corajoso moral e fisicamente, foi medroso no plano político. Por ele, as condições objectivas  ainda estariam por reunir  nos  anos 80. Tinha   um pavor enorme de desencadear ou de  ficar ligado a uma revolta falhada. Também é verdade que tinha o país em mais  consideração do que o esquerdismo, mas tinha a sua aura num patamar ainda mais elevado.
O capítulo sobre  Argel é delicioso  e mostra  o ADN do esquerdismo  luso. Só factores de peso, como a vitória eleitoral  do PàF depois de anos  de troika, conseguem milagres de união sobre a empáfia alucinada.
Como JPP tem mudado, tenta desculpar o seguidismo soviético de Cunhal , sobretudo depois de Praga, com explicações circunstanciais. É pena, porque faz dos leitores miúdos  desatentos e disléxicos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Fundo rosa

O Bloco de Esquerda resolveu atacar adopção gay com este panegírico religioso. Sempre atento, o Público avisou logo que um cartaz tão discriminatório "pode gerar polémica". Sem dúvida. Aquele fundo rosa é um bocado amaricado: reforça todos os estereótipos. E ofende os gays que não acreditam em Deus. A ILGA não diz nada?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

No Doméstico

Espanadores e zonas de exclusão.

Da série "O som e a fúria"

"Coming to terms with Donald Trump as the Republican nominee is like being told you have Stage 1 or Stage 2 cancer. You know you´ll probably survive, but one way or the other there´s going to be a lot of thowing up."

Christopher Buckley, "Dealing with The Donald", in Spectator, 20/2/16.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

"Falta-nos um Churchill ou um Roosevelt"

Após  ter lido as quase  600 páginas do Beevor,  depois do Orwell e do Preston ( falta-me o Browne) , uma confirmação: não fora os EUA e a Grã-Bretanha e Franco não tinha ganho.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Quem sabe não esquece

A atribuição da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique a Gaspar Castelo-Branco é um acto de justiça tão elementar como tardio. Não o honra a ele, que já não precisa de honras para nada: honra Portugal, que ele serviu com uma integridade que lhe custou a vida. Pela segunda vez, no curto espaço de semanas, o Presidente da República justifica plenamente o meu voto. Só por isto, que não é pouco, valeu a pena ter votado em Cavaco. Porque um Estado que não honra aqueles que o servem não é digno de ser servido. Gaspar Castelo-Branco tinha um altíssimo ideal de serviço público e pagou um altíssimo preço por isso. São homens como ele que me fazem acreditar na democracia - a democracia que os seus assassinos diziam defender quando matavam inocentes. 
A memória do crime, trinta anos depois, lembra-nos que este país de brandos costumes também teve os seus "anos de chumbo". Não foram só os outros, os da ETA, do IRA, das Brigadas Vermelhas, do Baader-Meinhoff. Em 1986, eu era apenas um adolescente, mas lembro-me bem. Por uma simples e muito pessoal razão: o meu Pai era então Director da PJ. Durante alguns anos, o quotidiano das família foi vagamente perturbado por este acidente profissional. Não que alguma vez me tivesse sentido em perigo, ou tivesse sentido os meus em perigo, ao contrário do que aconteceu a Gaspar Castelo-Branco e à família (como conta aqui o filho). Somos um país de brandos costumes, lembrem-se. Mas na noite de 15 de Fevereiro de 1986, ao ver as imagens do sangue de Gaspar Castelo-Branco na rua de Lisboa onde foi abatido pelas costas, senti que podia ter sido o meu Pai. Ou eu. Ou qualquer pessoa.
Esse momento, além de uma lição de vida sobre homens e ratos (e os ratos não foram foram só os terroristas que o mataram, foram também os políticos que o deixaram sozinho a enfrentar a greve de fome dos presos das FP25), deu-me uma educação sentimental concentrada. Não sabia por onde ia, mas sabia que não era por ali. Na idade em que se forma a inteligência das coisas e o coração bate em geral à esquerda, sabia que nunca teria as ideias de quem faz política matando inocentes. Ou de quem amnistia os assassinos. Trinta anos depois, mudei pouco. Eles também.
Convém lembrar, a este propósito, que Otelo e o resto das FP25 foram presos, julgados e condenados por um tribunal português. Não foram absolvidos: foram amnistiados. A justiça funcionou; foi o poder político, mais uma vez, que não esteve à altura. A começar por Mário Soares, o Presidente da República que assinou a mais vergonhosa amnistia do regime democrático. O mesmo Mário Soares que, há bem pouco tempo, honrou com a sua presidência o comício da Aula Magna onde as esquerdas prometeram correr um governo democraticamente eleito "à paulada". Quem sabe não esquece.

Problemas

Terapia 9 e 10, no Depressão Colectiva.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Maravilhoso mundo novo / maravilhoso ( 3)


O Vasco lembra, mas debalde . Com balde é melhor que está de cheias.  Por falar nisso, neste maravilhoso mundo novo , não se ouve uma voz a indagar por que motivo não há  um governante ( ou apoiante, do PCP e do Bloco) no terreno: a apoiar, a dar carinho, a resolver in loco ( como os media gostam) os problemas das vítimas das cheias.
Este tempo novo é o de um cuté de rapazes alegres e de raparigas a cantar  com derriço o Marco Paulo. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

E eis porque nunca haverá um "verdadeiro partido liberal" em Portugal

Ontem, no Público, João Miguel Tavares afirmou que a repentina conversão de Passos Coelho à social-democracia ("social-democracia sempre") pode abrir espaço a um "verdadeiro partido liberal" entre nós, que ocupe o vazio deixado à direita pelo PSD. Há um ponto em que tem meia razão e outra em que não tem razão de todo.
Tem meia razão quando nota que a mudança, depois de quatro anos de "discurso liberal" (fora os que estão para trás), soa a falso. Chamemos-lhe o momento "piegas" de Passos, que só levará a sério quem leva sempre Passos a sério. Mas é esta falta de seriedade que torna a conversão meramente instrumental, como sucede a todas ideias de Passos. Em breve será revertida, se isso lhe trouxer qualquer vantagem. Nem Passos nem o PSD mudam de um dia para o outro. As notícias do espaço vazio à direita são claramente exageradas.
Mas João Miguel Tavares não tem razão quando imagina que um "verdadeiro partido liberal" seria possível em Portugal. Não é, e por muitas razões Ocorrem-me três de imediato.
Primeiro, por causa dos liberais indígenas, que chamam socialista a qualquer programa político que não subscreva, por junto, a privatização do SNS, da TAP, da Torre de Belém, dos rangers de Lamego e do consulado no Luxemburgo. O problema do "verdadeiro partido liberal" não está no "liberal", mas no "verdadeiro". A exigência de um "verdadeiro" liberalismo, que só um "verdadeiro partido liberal" poderia garantir, aproxima-os paradoxalmente da extrema-esquerda: uns e outros, em campos opostos, preferem a a pureza ideológica da utopia aos incómodos limites da realidade. Com uma diferença: a extrema-esquerda teria sempre mais votos do que um hipotético partido liberal. O programa máximo de Estado mínimo talvez apele ao país da massa, mas não às massas do país. Um "verdadeiro partido liberal" seria um partido de quadros, de estrangeirados, de elites, mas não um partido com eleitorado e, portanto, com vocação de poder. Isto também explica que os nossos autoproclamados liberais, quando vão para a política,  façam carreira no PSD ou no CDS, esses vis grémios socialistas, e que alguns acabem até por perder o liberalismo no processo de transferência. Mas quem perde mais é o país: um pouco de liberalismo real (e não apenas "verdadeiro") fazia-nos mesmo muita falta.
Em segundo lugar, a classe média, que na anglosfera é o nervo da sociedade civil, do associativismo e da iniciativa privada, como viu Tocqueville, em Portugal depende do Estado. Mais: a nossa classe média, lembra Vasco Pulido Valente, é uma criação do regime constitucional do século XIX, que com ela encheu o funcionalismo público nascente. Num país em que só havia ricos e pobres, foi assim que se fez o corpo eleitoral  do constitucionalismo. Esta burguesia sempre dependeu do Estado para ter um emprego seguro e alguma mobilidade social. Nascida e criada com a monarquia liberal, nunca se mostrou grata nem ao rei nem ao liberalismo. No final do século, tornou-se republicana, sobretudo nas grandes cidades. Antes de o Senhor D. Carlos ser corrido a tiro, já os municípios de Lisboa e Porto estavam nas mãos do PRP, cujo amor à liberdade é conhecido. Claro que as coisas não melhoraram na I República, talvez a época mais iliberal da nossa história, nem na ditadura, onde a mesma classe média que tinha sido furiosamente republicana se tornou calmamente apolítica, pelo menos até à guerra colonial. Veio a democracia, mas o amor da burguesia ao Estado manteve-se, agora sob a forma de subsídios europeus e de "escola pública". A esta burguesia costuma dar-se o nome de centrão e dizem que é aqui que se ganham eleições. Passos sabe isso e Tavares também, mas sonhar não custa. Enquanto o sonho não for privatizado.
Por fim, e esta é talvez a razão mais profunda, o liberalismo lusitano não se desenvolveu gradual e organicamente, graças a séculos de democracia censitária e de comércio com o Império, como em Inglaterra, mas foi imposto de cima para baixo pela guerra civil e pelo fim abrupto do Antigo Regime. Rui Ramos, ecoando Alexandre Herculano, diz que a legislação liberal de Mouzinho da Silveira foi "a maior e mais brusca transformação político-social da história portuguesa", comparável, neste cantinho, às ondas de choque que a Revolução Francesa levou a todo o continente europeu. Por outras palavras, os liberais portugueses, como em França, em Itália, em Espanha, etc., impuseram o liberalismo por decreto e apropriaram-se do Estado em vez de o dispensar. Almeida Garret, nas Viagens na Minha Terra, resume tudo com a frase célebre de que o constitucionalismo tinha trocado o frade pelo barão. Ou seja, substituíra o poder da Igreja e da velha nobreza, despojadas de bens e privilégios em 1834, por uma nova classe de "devoristas", pessoal político dos partidos liberais que comprara os latifúndios das extintas ordens ao desbarato e ocupara o aparelho de Estado em sistema rotativo. O pretexto, como sempre, era modernizar a pátria, mas a modernização devorista teve consequências fatais para o liberalismo: impediu o aparecimento de uma classe de pequenos e médios proprietários, tão necessária ao regime e tão sonhada pelos seus mais lúcidos defensores (Mouzinho e Herculano, por exemplo); perpetuou a miséria do proletariado rural, que daria no século XX a mais firme base de apoio social ao PCP; alimentou o ressentimento da província contra o progresso imposto por Lisboa, que explodiu por vezes em autênticas guerrilhas populares como a Maria da Fonte, no Minho, ou o Remexido, no Algarve. O liberalismo era coisa de Lisboa, como no tempo de Salazar será coisa da "livre Inglaterra". Nunca pegou no país real.
E eis porque nunca haverá um "verdadeiro partido liberal" em Portugal: não há uma sociedade que o sustente. Passos bem pode jurar amor eterno à social-democracia, que a burguesia prefere a segurança à liberdade. Sempre.

Da série "O Som e a Fúria"

"They refused to even question - never mind answer - the nature of the link between Islam and Islamism, because it`s the new taboo. When Hollande spoke on November 13 and 14, he didn`t even mention the word Islamism. Never forget that Newspeak isn`t just the invention of new words, but the concealing of reality."
Laetitia Straucht-Bonart, "After Paris, who will speak for France?", in Standpoint, Jan./Fev. 2016, p. 38.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Terapia 5 e 6

No Depressão Colectiva.

The procession is still in the churchyard

As democracias antigas têm razões que a nossa razão desconhece. Em Inglaterra têm a rainha e um parlamento não eleito, a Câmara dos Lordes. Nós temos o Dr. Soares e o Tribunal Constitucional. Na América têm um processo eleitoral que dura meses. Nós contamos os votos numa noite de directos e facas longas. Por isso estranhamos a emoção em câmara lenta das primárias, por isso já vemos Trump ou Sanders como candidatos à Casa Branca só porque ganharam no New Hampshire - depois de terem perdido no Iowa. Relax, a procissão ainda vai no adro. Ou, como como dizem no Vermont, the procession is still in the churchyard.

Maravilhoso mundo novo/maravilhoso ( 2)


A UTAO disse:
"As despesas com pessoal são revistas em alta face ao Esboço do Orçamento para 2016 em 0,3 mil milhões de euros. No entanto, neste domínio, entre o Esboço do Orçamento do Estado para 2016 e o Orçamento do Estado para 2016 foi anunciada uma alteração que apontaria para uma poupança de despesas com pessoal e, portanto, para uma variação de sentido contrário”.

 A SIC, a TVi, a TSF disseram: --------

Umas da coisas maravilhosas deste mundo novo é que o aumento de boys, assunto que costumava sempre  ser assinalado, fosse qual fosse a cor do governo recém-empossado, deixou de ser notícia.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Tenho

Isto a dizer.

Passar fractura

Sou um veterano das batalhas fracturantes na bloga, onde estive sempre do lado certo - contra. Muitas vezes até contra o Dr. Vicente, que hoje generosamente me acolhe a esta casa, prova tanto a sua caridade quase cristã como a minha condição de sem-abrigo virtual.
A batalha agora é a eutanásia (suspiro). Não prevejo que as tropas se vão mobilizar como aconteceu no aborto ou no casamento gay, o que não deixa de ser curioso. Se nenhum de nós vai para novo, a possibilidade de uma dose suplementar de morfina numa cama de hospital devia assustar-nos mais do que sermos interrompidos voluntariamente às nove semanas ou sermos obrigados a casar com o Sócrates.
Por mim, estou à vontade: eduquei a prole no temor de Deus e do pater familias. Só me preocupam, como sempre, as gentes progressistas, que não terão tido esse cuidado. O país ficaria a perder se eles (ou a prole) concluíssem que alguém está a mais.

Maravilhoso mundo novo / maravilhoso ( 1)


Hoje, na SIC, uma peça sobre os utentes que entopem as urgências dos hospitais com gripes outras maladias menores. Não respeitaram o plano do ministério  da saúde.
 A culpa? Agora, no maravilhoso mundo novo,  é dos danados dos utentes que não recorrem ao centro de saúde da sua zona. Perguntam vocês, publi-cuzinho, só deles? Não.
O homem  da ordem dos médicos do Centro  falou. Disse que há centros de saúde que nem termómetros  têm. Uma vergonha do PàF, um escândalo, mas  não só não  faz greve como deve ter um irmão gémeo que elogia assim a medicina familiar. Mesmo sem termómetros.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

É Carnaval, ninguém leva a mal

Há dias, fui convidado para falar sobre o Carnaval no programa "Sociedade Civil", da RTP2, suponho que na qualidade de historiador (nunca se sabe, tendo em conta o tema). Às tantas, as coisas tornaram-se um pouco confessionais e, ainda por cima, enganei-me no nome da "Marcha da Quarta-feira de Cinzas" do Vinicius de Moraes, mas o saldo final é positivo. A companhia ajudou: Luís Castro, o apresentador, e Ana Umbelino, vereadora da Câmara Municipal de Torres Vedras. O programa foi pré-gravado e vai para o ar no dia de Entrudo. O "Combate entre o Carnaval e a Quaresma" de Pieter Brueghel, o Velho, que surge na conversa, é o quadro que vêem aí acima. Em primeiro plano, o gordo em cima do tonel representa o Carnaval e a famélica de cinzento representa a Quaresma. E até tivemos tempo para o Alberto João Jardim. Maravilhas da televisão.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Com que então

Agora temos traidores, quintas colunas, sabotadores? E isto porque  um conjunto  de pessoas fez eco da malha ( para usar a   expressão diplomática  do nosso  diplomata-mor) que a UTAO deu no Orçamento. Muito me contam.
Durante os anos da crise,  de cada vez que havia  indicadores positivos para nossa frágil economia, quem o sublinhava era apodado de governista, passista, vendido, agenciado. Por outro lado, os patriotas eram os que escarneciam desses sinais.
Tão ou mais interessante , ao estilo  X-Files, o tal  país, que estava  em coma e destruído, pariu um Orçamento grávido de optimismo e arrojo. E isto sem  o governo salvador  ter sequer começado  a trabalhar.
Fico então como o querido padre AntónioVieira, para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Tempo Novo:

1) A FENPROF tem um ministério: MINEDUMO ( ministério da vigilância do ministro da educação).
2) A CGTP tem uma secretaria de estado ( do Desenvolvimento das Teses)
3)  O PS tem um novo  programa: o optimismo reversível.
4)  Os intelectuais e artistas têm uma nova missão: caçar traidores descrentes, por todo o caminho de pé posto.
5)  O governo tem um novo objectivo, geneticamente  democrático: dar tudo agora   para receber  em votos depois.
6) O país tem uma nova missão: construir o  novo homem português, livre, rico e solidário. A Venezuela é o exemplo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cachimbos de lá

William Harnett, O Clube, 1879.

Ética republicana

O ainda Presidente Cavaco vetou a lei da adopção gay e as alterações à lei do aborto aprovadas pela nova maioria parlamentar. Fez bem. Se tinha dúvidas na matéria (o que, por enquanto, não é crime), agiu em consciência e exerceu um poder constitucional. A telenovela de que o diploma entrou na portaria de Belém não sei a que horas não sei de que dia, e portanto já teria passado o prazo legal de veto, é supinamente ridícula. Mostra apenas um dos reflexos condicionados da esquerda: o de querer diminuir a liberdade alheia por decreto. Que essa liberdade seja a do Chefe de Estado democraticamente eleito, não passa para os nossos jacobinos de um pormenor. Acho que lhe chamam ética republicana.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Engraçadismos

Afinal, a gracinha da "candidata engraçadinha" não era para ninguém em concreto, diz hoje ao DN Jerónimo de Sousa. "Já cá não está quem falou..."
É pena. Porque, na página ao lado, Fernanda Câncio descobre que muita gente do PS e de outros partidos burgueses, "até de direita", votou em Marisa Matias por "ser jovem e mulher". Ou seja, votar numa candidata engraçadinha é "discriminação" machista, mas votar numa candidata jovem e mulher é sinal de "mudança".
Estou com o camarada Jerónimo: não vejo a diferença. Pensava que o voto se decide pelas ideias, pela biografia, pelas qualidades humanas e políticas de alguém, e não por coisas tão discriminatórias como o sexo ou a idade. Mas parece que só os trolhas estalinistas pensam assim. Ou os trolhas e os estalinistas. Proletários de todo o mundo, uni-vos contra a criminalização do piropo eleitoral!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Momentos surrealistas da noite

Marcelo, criador-mor de factos políticos, a proclamar o seu "gosto pela simplicidade, incutido pelos pais".
Nóvoa, com menos milhão e meio de votos do que Marcelo, a recordar que "por um voto se ganha e por um voto se perde".
Maria de Belém, incinerada por um acórdão do Tribunal Constitucional, a acabar o discurso com um "Viva a Constituição!"
Marisa Matias, eufórica, a responder a um jornalista que lhe pergunta o que é que correu mal à esquerda: "Se correu mal à esquerda, não foi a esta candidatura."
Edgar Silva, num lapsus linguae delicioso, a prometer aos fiéis que vai "continuar a sonhar com coisas impossíveis".

Que pena ser só de cinco em cinco anos.

Mais aforismas

No Depressão Colectiva.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Quatro em um

Anda toda a gente a queixar-se da campanha das presidenciais, e do nível a que isto desceu, e da pobreza dos candidatos - menos a Maria de Belém, ao que parece, graças ao desvelo do Tribunal Constitucional -, mas talvez o problema seja a nossa falta de imaginação. E se, em vez de uma, virmos quatro campanhas?
Há, primeiro, a de Marcelo. Vencedor antecipado, todos concorrem contra ele, mas ele não concorre contra ninguém. Está acima do mundanal ruído, paira no olimpo mediático e apenas espera a formalidade da aclamação nas urnas para subir ao trono. O que deixa toda a gente lixada, incluindo os seus apoiantes, porque já se sabe que as eleições são um simulacro da guerra, tal como o futebol (dizem o Carl Schmitt e o Pacheco Pereira; não, não dizem que futebol é um simulacro da guerra, eles não falam de tais coisas; a do futebol é do Desmond Morris). Mas Marcelo tem um adversário de peso: o tempo. Quanto mais  o tempo passa, mais tem que descer à terra e enfrentar os Prometeus de bolso. Se não ganhar à primeira volta, pode muito bem perder contra uma frente de esquerda quinze dias depois. Daí a clara vontadinha de que a campanha acabe depressa e a ainda mais clara irritação com Nóvoa nos debates, pois o Professor, olha quem, já percebeu quem é o inimigo (como diriam o Carl Schmitt e o Pacheco Pereira; o Desmond Morris não sei, acho que não diria nada). Por outras palavras, Marcelo, sempre frenético, corre contra o tempo. Uma corrida deveras interessante.
A segunda campanha é a de Nóvoa contra Maria de Belém, ou seja, a dos costistas contra os seguristas. É um combate interno do PS, ainda que ambos tentem atrair às hostes elementos de outros partidos - sobretudo Nóvoa, cuja candidatura nasceu com o propósito declarado, hoje esquecido por todos excepto o Rui Tavares, de unir as esquerdas. No fundo, a campanha Nóvoa-Maria de Belém é a segunda volta das primárias socialistas entre Seguro e Costa. Ora, o que é que acontece se Maria de Belém ficar à frente de Nóvoa? (Nada, provavelmente, porque Maria de Belém, graças ao desvelo do Tribunal Constitucional, está agora na divisão da Marisa Matias. Mas sonhar não custa.) Irá Costa proceder a algum tipo de purga interna? Os ministros que apoiaram Maria de Belém serão demitidos? E os deputados idem, serão relegados para os bancos de trás do hemiciclo? Alfredo Barroso substituirá Jorge Coelho na Quadratura do Círculo?
Depois, temos a campanha pela hegemonia da extrema-esquerda entre Marisa Matias e Edgar Silva, que é o mesmo que dizer entre o Bloco e o PCP. Uma velha disputa entre seitas que, nas últimas legislativas, pendeu a favor dos bloquistas. Tudo indica que será de novo assim, mas nunca devemos subestimar o potencial bélico dos amigos de Pyongyang. Pelo sim pelo não, a CGTP já tem uma greve marcada para a semana seguinte, só por causa das coisas. Assim se vê a força do PC, mas, se Marisa ganhar por muitos, Costa vai olhar com olhos diferentes para os seus dois compagnons de route. Ou pensavam que isto era a feijões?
Por fim, há a campanha dos outros todos e os outros todos têm um traço comum: são os não políticos, os de fora do sistema, os outsiders. Desde Tino de Rans, o homem do povo, até Paulo Morais, o campeão anticorrupção. A mensagem é sempre limitada, mas pode ser muito mais eficaz do que esperamos. Basta pensar em alguns episódios recentes, dentro e fora de portas. Será curioso ver quem ganha por estas bandas, e ainda mais curioso ver qual a percentagem do protesto apartidário. Se chegar aos 20% de votos nas urnas, e a abstenção ficar perto 50%, ninguém nas outras três campanhas poderá cantar vitória.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Então vamos acabar com o exame de código ( e de condução):

Estou-me nas tintas para se há ou não há exames. A  maioria  dos queridos jovens é tão interessante como uma aplicação de telemóvel. O que me interessa é  a ciência dos pedagogos. Tirei isto daqui mas pode ser lido por  aí:

"os exames são fatores de exclusão social, a avaliação contínua, com testes e trabalhos, é a mais justa e adequada, os exames não têm em conta o contexto do aluno".

Em que ciência se baseiam para dizer que a avaliação contínua com testes não exclui? Porquê? A exclusão está relacionada com o tempo da tarefa , é? 

Mais aforismas

No Depressão Colectiva.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Obrigado, Dr Cavaco

Falhada a revolução e o segundo resgate, o seu crime foi não ter demitido a meio do mandato  um governo com o apoio  parlamentar de uma maioria absoluta. Não estranhem, a ditadura  democrática  portuguesa tem um entendimento  peculiar sobre a legitimidade  governamental.
Foi um PR anti-histérico num país de histéricos  e devemos-lhe isso.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ou foi pela barba?



Tiago Brandão Rodrigues, o novo Ministro da Educação, decidiu acabar com os exames no ensino básico e secundário porque "a cultura da nota é nociva". O argumento é arrasador, mas deixa-me uma pequena dúvida: como é que ele foi aceite no Doutoramento em Cambridge? Por simpatia?

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Declaração de voto de um desiludido

Dia 24, votarei Marcelo. É obviamente a única hipótese para um eleitor de direita que nunca se absteve ou votou em branco. Mas confesso que já estou um bocado farto de ter que optar pelo mal menor. Um gajo como eu, que não confia no bom senso da esquerda para gerir uma junta de freguesia, quanto mais um país, viu-se obrigado nos últimos anos a escolher entre Passos, Portas e, agora, Marcelo. Cansa. Mói. Dá vontade de emigrar para a América só para poder gritar pelo Bush júnior. Caramba, com tanto senador a andar por aí, não se arranjava melhor? E não, não estou a pensar no Santana Lopes nem no Rui Rio. O último candidato em quem votei por convicção foi o Cavaco, e só Deus sabe como ele me irritou com a história da ética da responsabilidade (no casamento gay, por exemplo). Bem sei que o respeito pela realidade é a primeira virtude de um conservador, mas não abusem da minha paciência.

Era bom que avisassem já

Se o Marcelo ganhar à primeira volta, a Maria de Belém, o Nóvoa, a Marisa e o Edgar juntam os votos contra ele?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Para memória futura

Isto da Helena.
Na minha conta do twitter  também  açulei os mastins.

O horror ao Tino de Rans

Passam a vida a citar os  gregos e a herança helénica e afinal são romanos da linha de Cícero. MST, JPP, os batatinhas ( o Lopes copia o JPP, sem vergonha  nas bochechas,  na crítica aos  jornalistas)  e muitos outros.
E agora já se pode chamar incompetente ao Tribunal Constitucional  sob  a capa do "acho estranho".

Mais

Uma nova e curta série e o segundo nº dos humores, no Depressão Colectiva.