quinta-feira, 9 de outubro de 2014
As primárias e os primários
No Público, pelo terceiro dia consecutivo, um grupo de apoiantes de Rui Rio faz campanha pela introdução de primárias no PSD. Desconheço a representatividade da autodenominada Plataforma Fórum Democracia e Sociedade - Uma Agenda Para Portugal, embora o nome me soe às várias saladas que a esquerda costuma temperar quando se fracciona (mau sinal). Decididamente, não é a imaginação ao poder. A ideia seria dar ao líder do PSD, antes das próximas eleições nacionais, a legitimidade que tem António Costa, eleito em retumbantes primárias. Mas por trás de tão nobre ambição esconde-se o objectivo mais prosaico de dar ao PSD alguma hipótese de vitória em 2015.
As primárias hão-de chegar ao PSD, mais tarde ou mais cedo. Mas se chegarem, mais cedo que tarde, apenas para impedir um Primeiro-Ministro eleito de responder perante o eleitorado depois de um mandato impopular, não passam de um golpe de Estado. Ou de um golpe de génio para as ferir de morte. Sou a favor de que os eleitos cumpram os seus mandatos e respondam por eles, a não ser em circunstâncias absolutamente anómalas (por exemplo, saber-se que um Primeiro-Ministro trabalhou para uma empresa que recebia financiamentos públicos enquanto era deputado em exclusividade; mas esta circunstância, se bem me lembro, não chegou a incomodar nenhuma plataforma-fórum-agenda do PSD). Já tinha esta mania quando Mário Soares e Pacheco Pereira queriam correr com o Governo à paulada. Não mudei de opinião só porque, agora, a exigência vem de meia dúzia de laranjinhas em busca dos quinze minutos de fama. Talvez tenham os quinze minutos, mas esquecem que Passos responde perante o país e não perante o PSD. E o lugar onde deve responder é nas urnas. Se a meia dúzia teme uma derrota épica, talvez a mereça. Com fama ou sem fama. Rui Rio devia declarar on e off, sobretudo on, que não serve de D. Sebastião a primários.
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Pedro, se as tais primárias provocarem a demissão do governo, é porque o PM assim quis. Está no seu direito, é até uma questão de direitos humanos e eu apoio-o até ao limite das minhas forças. Portanto, não o obrigue a terminar o mandato, ou serei eu obrigado a fazer queixa à amnistia internacional. É que as primárias de um partido não provocam automaticamente tal coisa, que eu saiba. A não ser que os conjurados pretendam ir a São Bento ou a Massamá, em acção directa, apagar a nódoa. Mas não estou a ver o Rui Rio encapuçado com uma tocha a comandar respeitáveis pais de família num golpe de estado.
ResponderEliminarcaramelo
A questão não é demitir o governo ou o PM, evidentemente: é que ele vá a eleições no fim do manadato. Mas admito que não fui claro.
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