sábado, 28 de fevereiro de 2015
Orientalismos
Há um aspecto curioso nas célebres declarações de António Costa à comunidade chinesa e, de resto, nas tentativas canhestras de as justificar. Costa falou em português para uma plateia de imigrantes radicados entre nós, muitos deles pequenos e médios comerciantes, que não pensarão voltar à China tão cedo e sabem que o seu sucesso também se deve à crise. Ou seja, estão integrados na sociedade portuguesa e conhecem o terreno. E, no entanto, o líder da oposição sentiu-se obrigado a vender-lhes um país "diferente", um paraíso de oportunidades, uma terra prometida - em que diz não acreditar. Como se eles, há anos por cá, fossem uma espécie de turistas broncos, a quem cantamos o sol e a sardinha para sacar umas massas. É uma imagem inversa do "negócio da China": em vez de os visitarmos para enriquecer, visitam-nos eles para ser espremidos. Edward Said, um amigo aqui do Dr. Vicente, deve estar às voltas no túmulo. Meio século depois da descolonização, o orientalismo está bem e recomenda-se. E logo, ó ironia, pela boca de um neto do Oriente.
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Ele não vendeu nenhum paraíso Pedro, apenas disse que tínhamos saído do buraco.
ResponderEliminarÉ verdade, mas, sendo líder da oposição, acaba por ser a mesma coisa.
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