Era assim que dantes as pessoas comuns escreviam no espaço consignado aos leitores dos jornais:
Exmo Sr Director
Deixe-me começar esta humílisima epístola por felicitar o jornal que V.Exa. superiormente dirige. Que Deus lhe dê muitos e bons anos nessa hercúlea e gloriosa tarefa.
O assunto que me leva a incomodar V.Exa , e a partilhá-lo com os seus leitores, é o seguinte : na minha rua existe há seis meses uma canalização rota que blá blá blá..... traz grades incómodos aomoradores blá blá .................
Agradeço, penhorado, a atenção de V.Exa,
Anastácio Velinha
Bem antes de a maré twitter virar ( das primaveras árabes para o Trump), as caixas de comentários dos jornais online já eram o alvo : lixo, baixaria, vazadouro, não se admite, fechem essa gaita etc.
Temos, portanto, que o problema não é uma técnica específica, ( o twitter é diferente das caixas de comentários dos jornais) , mas a titularidade de um novo espaço comunicacional.
Podemos falar de ampliação, ou de ligação directa, mas também podemos usar o conceito que Manchev aplica à condição sobre-estética: uma totalização privativa. Significa isto um campo sensível capaz de reagir a todos os estimulos, o sonho de Fukuyama , no qual o lifestyle se sobrepõe às velhas identificações colectivas, políticas, que organizavam o mundo. Manchev considera isto um snobismo em que a vida fica reduzida a uma mercadoria através de modos de troca, produção e controlo, que impõem reacções imediatas a estímulos estéticos que, por sua vez,geram mais reacções Um campo animal, um sentido aistético, já não da arte, mas, neste caso, da comunicação.
Simplificando, a opinião política aberta a todos, em tempo real e sem mediação das velhas elites é o sonho , sim, mas não o de Fukuyama: o dos anarquistas. Zizek, pelo seu lado, já desdenha dos Indignados espanhóis e dos manifestantes gregos:
As pessoas, coitadas: