terça-feira, 27 de maio de 2014

João Lúcio



João Lúcio, já cá o trouxe, hoje num tributo mais demorado. Chegou a publicar na segunda série  de A Águia, orgão oficioso da Renascença Portuguesa, a convite de Teixeira de Pascoaes, numa das  poucas incursões que o resgata  da discrição. Publica três livros -entre 1901 e 1913 - e morre advogado, em Olhão, antes dos quarenta anos por causa da pneumónica.
Pascoaes,  Gaspar Simões e Pessoa são dos poucos que lhe prestam tributo. Pascoaes acabou a considerá-lo o único  contemporâneo ao seu nível. Hoje ninguém lhe liga pevide ( excepção a Antóno Cândido Franco).
Pós lírico,  pós-naturalista, pré-simbolista, tudo coisas para teóricos. Para mim, o  seu mérito é ter sido, como Rossetti, Ungaretti, Ponge, Char  e tantos outros, um pária das escolas. 
Entre os  clichés do tempo, Lúcio  consegue ser  um mitómano honesto, um maníaco profissional. Para ele, a realidade é o futuro ( Descendo, 1901):

Turbilhonou e foi para essa luz, com ânsia
De tocar a grandeza, em que há as coisas belas;
A luz mentiu ao pó, apagou-lhe  a distância:
o  pó sonhou-se então uma chuva d'estrelas.
(...)
Pressinto, oh pó, que tenho ainda de ir formar
Contigo uma pupila, em outras gerações,
E que ambos nós ainda havemos de levar
A um cérebro as mesmas impressões.


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