quarta-feira, 28 de maio de 2014

O povo, esse miserável


Recapitulemos:
Há seis meses, o povo ia correr com o governo, um enorme cartão vermelho, uma hecatombe.
Depois começou a notar-se , pelas sondagens, que talvez não acontecesse. Passou-se à fase dois: estas eleições não serviam para nada porque Portugal "não discutia política europeia" ( parece que noutras contendas o povo discutia Maastrich com o mesmo entusiasmo com que discutia o Benfica) e porque "a campanha era miserável." Os pedantes nunca fazem a coisa por menos.
Afinal, o povo, essa jolda malcheirosa, que já em 1975 tinha posto o PPD à frente do PCP, voltou a surpreender.

1) Acabou de afundar  o Bloco e ignorou o Tavares.  Os bloquistas de base ( profs, médicos etc), daqueles que põem os filhos em colégios religiosos   " por questões de horários" e seguem a cartilha  pequeno-burguesa nos mais infímos  detalhes, mal a crise estoirou desinteressaram-se da estrelinha com cabeça.

2) Pulverizou o PS. De repente, Cavaco já não precisa de marcar  eleições para Setembro.

3) Elegeu uma  figura televisiva de voz grossa, dinamitando a teoria de que as pessoas estão desinteressadas da política. Alguns bertoldos passaram logo para o extremo oposto : até já li cenários de "governo PS-Marinho Pinto" ou "PSD-Marinho Pinto". Ontem era o Manuel Coelho, amanhã o Júlio das Flores.

4) Subiu o voto no PCP, porque é o partido menos afectado pela abstenção*. Os mesmos que dizem que a culpa disto tudo é do discurso gasto dos partidos, desdobram-se em elogios  a um que, desde 1975, mal um governo, qualquer governo, chega aos seis meses, organiza o coro: A lua continua / governo para  a rua.

* nem de propósito: ver aqui.

6 comentários:

  1. O teu respeito escrupuloso pelas opções do povo e pela casca da democracia faz-te prisioneiro da análise meta politica. Não seria maravilhoso e libertador, poderes dizer qualquer coisa como: é pena o Rui Tavares não ter sido eleito, porque daria um excelente deputado europeu, ou não; que é pena que o povo não conheça e discuta as instituições europeias; que este governo governa bem ou mal e que merece ou não o voto; que o bloco de esquerda tem razão, nisto ou naquilo, e tudo isto sem precisares de saber em que escola uns e outros metem os filhos ou onde vão beber um copo ao fim da tarde? Julgo mesmo que fazer esse censo dá demasiado trabalho para tão pouco resultado. Já agora, os bloquistas de base são os que colocam os filhos em colégios religiosos? Pensei que esses fossem os dirigentes. Os de base são aqueles que na freguesia rural dos meus pais a trinta km de Coimbra deram 28 votos. Mesmo com a descida de votos, não haveria nos colégios religiosos camaratas suficientes para os filhos desta malta.

    Mas deste aí um passo em falso: tratas os votantes do PCP, que não são poucos, como uma tribo que se guia por fidelidade a um programa.

    caramelo

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    1. "Os de base são aqueles que na freguesia rural dos meus pais a trinta km de Coimbra deram 28 votos"

      és muito sexy ( lingerie nova, malandro...) quando recusas as sinédoques . Pena só usares essa lingerie sexy com critérios muitoo difusos...
      O Rui Tavares? Esse é o Barbosa de Melo da esquerda: vinha para unir, perdeu o lugar e Bloco perdeu dois. Gostaste? Quem sou eu para estragar a tua festa, pá...

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    2. O Barbosa de Melo? Que é que ele fez? Não querias dizer Magalhães Mota?

      caramelo

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    3. o filho, Coimbra, autárquicas 2014 eheheheh

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    4. olha: e a moção do PCP contra os últimos 37 anos de governos de direita também votarias a favor desse crime lesa -Sócrates obsessão dos direitolas eheheheh ai jesus que rebento...?

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    5. Olha que não, olha que não. Por acaso, houve alturas nos governos Sócrates em que votaria moções de censura, porque o homem bem me empatou em certas coisas. Saudades, saudades, em certos particulares da vida, tenho de um ou outro governo Cavaco, vamos agora fazer de conta que estamos em confidências (ná, não recebi subsídios para comprar tratores a turbo, não foi isso) Mas tanta coisa se passou entretanto, vi tanta coisa e li tanta estupidez, que me tornei socrático devoto e, o que é pior, nem sei quando é que isto passa. A gente assim falando, compadre, talvez me perceba melhor.

      caramelo

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