Pensando bem, talvez o processo de engenharia política em curso não deva surpreender-nos. A esquerda que tenta torcer os resultados das eleições para chegar ao poder é a mesma que, na Aula Magna, prometeu "correr com eles [o Governo anterior] à paulada". A frase foi dita às televisões por Vasco Lourenço, que derrubou uma ditadura pelas armas em 74. Implicitamente, faz equivaler a legitimidade de derrubar uma ditadura pelas armas à legitimidade de "correr à paulada" um Governo democrático. E que não tenha sido condenada pelos magnos democratas ali presentes, de Mário Soares a Pacheco Pereira, mostra como, em algumas cabeças, esta coisa de respeitar o votinho do povo é muito relativa.
Incapaz de "correr com eles à paulada", incapaz de "correr com eles" em eleições, a esquerda lança agora uma terceira via: a secretaria. Terceira via pós-moderna, pois claro, segundo a qual a prática de quase meio século da democracia portuguesa - governa o partido mais votado, mesmo sem maioria absoluta - não passa de uma conspiração da CIA e do grande capital para impedir a vitória das forças progressistas. Os herdeiros do jacobinismo e da ditadura do proletariado nunca se deram muito bem com a liberdade. Sobretudo com a liberdade dos outros.
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