terça-feira, 15 de abril de 2014

O "ensino de excelência" do Estado Novo


Não consigo entender algumas das palmas que a declaração de Durão Barroso colheu. Fui trabalhar, dormi, fiz pesos, futebol, sexo e continuo na mesma. Como é que o patrão  ( burocrático) da Europa pode dizer tamanha estupidez?
Um adolescente do Portugal pré-74 não podia ler ou discutir Gramsci ou  Debord, não podia aprender a crítica pós-colonial de Achebe; não podia escrever uma composição criticando o regime, a moral, a religião. Enfim, vivia entre baias como um cavalo de duplos antolhos.
Havia disciplina, rigor e trabalho? Sim. Em qualquer laogai  ou lager, também. Seria fastidioso explicar que essas categorias não significam nada se servirem apenas a submissão, a ignorância e a servidão.

10 comentários:

  1. Ah, mas eu entendo muito bem as palmas, dia dia para dia entendo melhor. O mais curioso é que nem o rigor e o trabalho se aproveitava. O ensino soviético produzia pelo menos excelentes matemáticos e físicos, teóricos e não só. Para nós, em contrapartida, motivo de orgulho é chegarmos nesses tempos ao fim da quarta classe a saber a tabuada de cor, ao contrário dos miúdos de agora. A patrulha anti-eduquês, que tem o São Crato como patrono, que anda a publicar testes da velha escola primária para comparação, não há meio de entender que os miúdos desse tempo chegavam ao fim da quarta classe com mais engenho para as contas do que os miúdos de agora (e mesmo isto...), porque era com isso que tinham de ficar para o resto da vida. Não púnhamos cadelas no espaço, mas conseguíamos de pequeninos distinguir o tentilhão do pardal, olarilas.

    caramelo

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    1. Se vires bem aqui o nosso ( creio que jovem...)comentador brise contínuo, começo a ter dúvidas...

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  2. Olá cá estou, o brise contínuo ...

    caro FNV
    O meu amigo não devia escrever coisas tais como "Um adolescente do Portugal pré-74 não podia ler ou discutir Gramsci ou Debord, não podia aprender a crítica pós-colonial de Achebe"...

    Sabe porquê? Porque pura e simplesmente NÃO SÃO VERDADE!
    Sabe como é que sei.? Porque estou a folhear, neste preciso momento, um livro que deve conhecer, chamado "A Sociedade do Espectáculo" editado EM PORTUGAL pelas edições Afrodite - Colecção Ensaio/Documentos editado em Lisboa, pasme, em 1972 (sim , mil novecentos e setenta e dois). Este livro pertencia a um irmão meu que tinha nessa cerca de 19 -20 anos (que lia Debord e Gramsci) e que o comprou e leu PRECISAMENTE porque discutia Debord ( e Gramsci também era muito lá de casa!) com muitos dos colegas de então. Esse meu irmão nunca foi preso nem incomodado pela PIDE ...

    Quanto ao ensino antes do 25 de Abril - a mesma coisa. Não fale apenas daquilo que ouviu dizer ... Havia muitos aspectos negativos, principalmente relacionados com o elitismo do ensino, mas havia muita coisa de bom. Se pensar um pouco, há uma que é imediata: o sistema de ensino formou várias gerações que, apesar de tudo, conseguiram fazer uma revolução mais ou menos pacífica... Esse é um crédito do regime (por muito que ele fosse abominável) e dentro do regime, do seu sistema de educação ... Quer queira quer não...

    PS
    Se duvidar do que lhe disse do livro, dê-me um e-mail e terei todo o gosto em lhe mandar, digitalizada, a capa e a página em que consta a data da edição...

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    1. Vc é pomposo, mas divertido. Deixo passar para ilustração.
      1)Tenho 8 irmãos. Muitos deles estavam no liceu e na fac nos anos 60. Havia edições? Não me diga. Ainda tenho algumas. Ler e discutir no ensino, meu divertido spray.

      2) Não ouvi só dizer. Fiz a primária ainda no Estado Novo.
      Fizeram uma revolução pacífica? Meu querido: tem de subir o nível , senão vai comentar para facebooks. Não houve revolução nenhuma em 25/4.

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    2. Vale o que vale… Também eu andava no liceu na altura e não discuti Guy Debord porque era um pouco complexo demais para ensino secundário. Mas discuti Marx no liceu, nas aulas. Sabe, dependia dos professores. Na Universidade ainda mais facilmente porque existia uma coisa chamada “liberdade de cátedra”. Acha por exemplo que Pereira de Moura (sabe quem foi?) não discutia Marx, Arghiri Emmanuel ou Sraffa nas aulas? Acha que Boaventura de Sousa Santos não discutia Marx, Bourdieu, Foucault ou Althusser nas aulas, antes do 25 de Abril? Acha que Sedas Nunes também não o fazia?
      Que o que o meu amigo diz se passasse na (essa sim!) pomposa faculdade de direito da UC, não duvido…
      O FNV era muito novo e ouviu muitas histórias… e enfim, convenhamos que, o Externato O Menino Jesus não é padrão de nada … Acredito que as suas opiniões sobre este assunto nem sequer interessem à sua “alma mater” infantil…
      Quanto a não ter havido uma revolução social em 25 de abril de 74... De facto nessa data o que houve foi um golpe de estado. Mas a seguir houve uma revolução social que terminou em 25/11/75… Precisa mesmo que lhe indique alguns nomes um pouco mais credíveis do que o seu no que toca à análise social (de sociólogos, não psicólogos, por definição …) que o confirmem?
      Quanto aos seus 8 irmãos… como é mesmo o seu nome?F N Von Trapp?

      Bottom line: o FNV tem muita imaginação e gosta de falar dela, não gosta? Às vezes até é interessante mas em domínios como a economia ou a história, às vezes choca com a realidade...

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    3. olhe querido, se eu andei no Menino jesus ou quantos quartos tinha a minha casa, deixo passar mais os mais novos perceberem o espírito...pidesco de sarro na unha.
      Agora vais passar a batalhar noutra cela.

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  3. Eu juro que ainda me dá um dia de raiva, como ao michael douglas, na próxima vez que ouvir falar na degradação do ensino após o 25.A. Corro para a rua todo nu.

    caramelo

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    1. repara na confusão que o nosso simpatico comentador faz entre livros publicados e liberdade de ensino: de onde vem isto?

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  4. Que fofinho. O nosso jovem comentador anda a investigar. Eu ajudo. Também estavam publicados o foucault, o barthes, mais meia dúzia de situacionistas, semióticos e marxistas sortidos, o Tempo e o Modo, a Seara Nova e magazines como a Vida Mundial já traziam recensões de livros desses, entrevistas ao malraux e outros, etc, as lutas dos direitos civis na america e revoltas no Ulster eram aí noticiadas e até analisadas. O regime abriu uma janelinha onde meia dúzia se acotovelava para espreitar o mundo lá fora. Revistas e livros cuja tiragem mal dava para transportar no comboio da linha do norte um exemplar a um doutor de cada concelho. Porque os meios de comunicação de massas, esses, atenção, tinham como máximo de ousadia o Vitorino Nemésio a perder-se em banalidades, sem ninguém se sentar ao lado dele para discutir o que quer que seja; que seria complicado sentar o Hermano Saraiva com o Oliveira Marques a palrear sobre historiografia do estado novo e que discussões sobre temas fraturantes ocorriam quando a Maria de Lurdes Modesto discorria com a ajudante que lhe descascava as batatas sobre a origem da perdiz estufada. Ora, por isso mesmo, o que diziam o Pereira de Moura e o Boaventura e outros, pouco mais, aos seus seus alunos na academia era mais ou menos irrelevante, como facilmente se entende. Nos inferiores níveis de ensino, de onde a grande maioria, à cautela, não se fosse pôr à tal janelinha, não passava, já era tolerância suficiente que os contínuos não lhes apreendessem nos corredores os lusíadas quando se punham a ler o canto ix.

    caramelo

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  5. Como é evidente, o Barroso estava a reinar!! Foi demasiado subtil na ironia (é fino). Ele referia-se ao ensino da Excelência!! S. ou V. como preferirem!! Quanto às comparações, com recurso a substancias várias e tudo, seriam ridículas se não fossem pura perda de tempo. Assim sendo serão, apenas, perda de tempo!! Ature-os o caro FNV, por dever de ofício!!

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