sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A esquerda pequeno-burguesa

Vive  com o manual  da perfeita pequeno-burguesia - o sushi, os SUV,  o Dubai, o escrutínio do estatuto social do futuro genro, a escolinha católica para os petizes, o regateio da conta da mercearia, o gozo com a maison do emigrante e com os de Massamá  - enquanto proclama a igualdade e adora  a boina do Che.
No fundo, quase que gosto dela porque desse mato nunca sai cachorro enraivecido. Antes pelo contrário.

17 comentários:

  1. Bem observado. Raivosa, antes a Avoila que é de outra galáxia e me recorda sempre o adolescente cinéfilo perante outra Ana, a Magnani.

    Xispto

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    1. Xispto, eu não consigo conceber texto mais raivoso do que o que é linkado. Um texto mau de uma pessoa má. Eu perguntaria à senhora se os seus princípios cristãos também a levam a deixar de comer pastéis de nata para comprar pão aos pobres. Mas talvez sim, muito provavelmente, a ver pelo texto. Compra só fatinhos baratos de segunda nos ciganos e vive num T2 barato nos subúrbios.
      A Varela não é raivosa; tem jactância, manda-os à merda, provocando-os. Isto sim, é de outra galáxia. A Magnani teria gostado.

      caramelo

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    2. Duvido quanto à Magnani. Ela usava camisa de dormir preta pós WW2 e o sonso do Brando casaco de cabedal de pele de cobra. Estas três postam de salto alto vermelho!

      Xispto

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    3. E nem uns folhinhos de renda na camisa de dormir preta? Então a Magnani era mesmo uma autêntica heroina partiggiani ;) Mas a Anna Magnani era sua heroina cinéfila da adolescência? A minha era a Olivia Newton John.

      caramelo

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    4. Psra quê excessos decorativos se estão lá os simbolos primários, claro, antes do underware se tornar moda massificada? Embora isso hoje em dia possa parecer impossível, já houve um tempo em que uma cena de sexo terminava nas cortinas agitadas das janelas... Ou como o Godard cunhou o cinema não filmava abaixo do umbigo. O cinema partiggiani - bonito termo - já é outra coisa mesmo que visto por um adolescente da geração seguinte que adorou o disco mas não colou o carfaz da Olivia na parede.

      Xispto

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    5. Xis, as raparigas sempre foderam da mesma maneira, só não aparecia nos filmes. Ainda não entendi como chegámos da Varela à Magnani, passando pela lingerie e os sapatos vermelhos, mas é um pretexto divertido para falarmos das nossas idolas da adolescência. Eu nesse tempo nunca prestei grande atenção à Anna Magnani. Das raparigas mais exóticas, era mais a Giulieta Masina e a Melina Mercouri.

      caramelo

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    6. Caramelo, olhe nem eu percebi muito bem. Suponho que a discussão das ideias das 3 é desinteressante, nada de original aí pelos media e blogs, mas o facto de não ssquecerem os sapatinhos ainda não tinha sido explorado assim. Acho que nesse plano são uma sequela do Sexo e a Cidade e deixemos a biologia e fisiologia da coisa para os psis. Olhe das italianas da época dourada eu prefiro a Monica Viti coitada que um dia se cansou de ser a imagem da alienação burguesa e da vida sem sentido.

      Xispto

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    7. Xis, já que estamos nessa dos italianos, você lembra-se do Stromboli e das velhas a olharem de lado para a estrangeira? O texto do Observador é um upgrade intelectual da coisa, sendo que o upgrade é de um estado de puro analfabetismo para outro em que já já se saiu da ilha e se foi tirar a quarta classe à antiga ao continente. Essa das bocas a gajos e gajos da esquerda por usarem roupinhas melhores e gostarem de comer bem, é velho comó cu de judas. Que apareça de vez em quando uma gaja pespineta a chamar-lhes parolos suburbanos, só me dá gozo. Vou tentar explicar. Eu estou-me nas tintas para a Varela e a amiga (num aparte, acho-as infinitamente mais interessantes do que a outra). Eu analiso isto em dois planos: um plano politico e um outro mais grunhal. O primeiro, que é aqui quase irrelevante, diz assim: se de alguma maneira esses politicos pipis de esquerda tornarem mais decente a nossa vida, podem até empaturrar-se nas horas vagas de caviar e sushi até rebentar, como naquela cena dos monthy python. No plano mais grunhal, a essência da vida: quando eu e os meus amigos grunhos já estamos com dez cervejas no bucho, alcançamos o estado mais lúcido e sensato que um gajo pode alcançar. Adivinhe lá com que tipo de gajas e gajos é que gozamos? Pronto. Olhe, se encontrar por aí a Mónica Viti, venha e traga-a, que ainda marcha.

      caramelo

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    8. Caramelo, o Stromboli foi um murro nos eestomago e, devo confessar, acho que na altura não o entendi. Um tipo é imberbe, no país fechado que sabemos, lê umas coisas sobre luta de classes e neorealismo e depois apanha algo que não encaixa diretamente no cliché e fica baralhado. Uma sueca enorme (será esta a fonte duma alusão célebre do VPV aos dedos dos pés dos turistas nórdicos maiores do que o seu braço?) enfrenta o sul pobre e conservador numa paisagem lunar até à redenção espiritual. Bahh! Por essa altura, já no nosso Sul onírico francesas experimentadas de 2CV e ainda sem o Club Med para lhes organizar expedições culturais aos nativos, procuram outra redenção, eis porque percebo muito bem o seu ponto de vista! Sim, mil vezes o cosmopolitismo e independência das blogers femininas que fazem parecer o Stromboli rodado na idade média. Por aí acompanho-o sem problemas, mesmo a alusão da Varela ao socialismo como a utopia do consumo sem limites, não deixa de ter piada. Onde ela perde a piada é precisamente quando pretende moralizar, ainda por cima com o registo histórico conhecido socialismo real... mas aqui divergimos, pois o meu amigo parece baixar a fasquia desde que batam no nosso primeiro...

      Xispto

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    9. Xis, aperte o cinto, que vou falar de política pura e dura, uma dimensão moral indiscutível, de facto uma coisa sem piada nenhuma e daí que a Varela perca a piada quando entra por aí. Ainda por cima, como bem assinalou, a Varela não é a Avoila. Acredito que lhe dê uma certa sensação de paralaxe ver a Varela a dizer certas coisas, como se visse a Magnani a discutir lingerie com as amigas em plena cena do Roma, Cidade Aberta (ou a Catarina Eufemia a fazer o mesmo no meio de uma seara).
      Não me apetece ir rever, mas não me parece que a Varela fale em "consumo sem limites", mas sim em abundância para todos; o direito de todos a ter aquilo que é essencial e não essencial; qualidade de vida, o comer sushi se apetece, viajar, etc. Tem a ver com prosperidade e igualdade, princípios de esquerda, que, se outros campos políticos não assumirem também, ficam princípios DA esquerda. Eu, por enquanto, sou socialista, porque praticamente só na esquerda encontro quem diga claramente o que ela diz, uma coisa tão simples que já era tempo de ser património da humanidade, e tão bela que já é considerado fútil e bem de luxo, como um belo par de sapatos vermelhos. Este governo, se pudesse, taxava-a a 24% de IVA. Se a direita insiste em marginalizar e taxar de esquerdistas outros sectores, como na Igreja, que adoptam o mesmo lema, que se há-de fazer?... Isto tudo tem a ver com o tal "registo histórico conhecido do socialismo real" de que fala. Já não encontra facilmente quem alinhe essas três palavras tão belas: liberté egalite fraternité, porque isto, um programa que procuramos todos os dias na nossa relação e, mais do que isso, em todos os governos, é geralmente lido como um despacho do Robespierre a encomendar a guilhotina. Eu, pelo meu lado, voto partido socialista sempre na esperança de que isso se vá cumprindo. Se me vem com “registos históricos”, acredite que não fica pedra sobre pedra quanto a princípios, seja eles quais forem. E mais vale então irmos por aqui galhofando, trocando ironias, etc, para passar o tempo.
      Eu bato e defendo que se bata no nosso primeiro por três razões, cumulativas: é incompetente, não gosto dele e defende más politicas. Eu não lhe disse que era grunho até à quinta casa? O doutor Filipe é que é o clínico sábio (acho que assim não faço muitos amigos;) )

      caramelo

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    10. Caramelo, tem razão quanto à referência à utopia marxista, embora tecnicamente não seja errado, meter ali "consumo sem limites" não é a melhor formula face à conotação "consumista" negativa da expressão,nesta época de crise económica, consciência ecológica crescente e do Papa Francisco. Você sabe que me referia à superação das contradições do modo de produção capitalista e a uma sociedade em que cada um contribuiria segundo as suas possibilidades e teria acessos aos recursos comuns segundo as suas necessidades, suchi ou sapatos vermelhos em barda, tanto faz. Ver a Varela brincar com isto é delicioso por provocatório, concordo, embora não deixe de ser uma manifestação de alguma arrogância intelectual típica do mandarinato universitário, esse tique de classe (social) de que ela claramente não abdica.
      Quanto ao resto, acho que o entendo. Como um bom filho de Marx e da Coca Cola já passei pela sua posição mas sou muito cético quanto aos seus aspectos proclamatórios. Não é impunemente que se assiste à queda do muro de Berlim e ao triunfo do capitalismo na China (não interessa a cor do gato desde que cace ratos). Todos nós, em princípio, desejamos, com a terminologia que refere ou outra diversa, o bem para a sociedade e estamos honestamente convencidos de que os valores que defendemos são o melhor caminho para aquele fim,mas não existe a possibilidade de demonstrar isso num Powerpoint à Cidade pelo o melhor é não o fazer a partir de uma posição de superioridade moral, outro tique da Varela, esse sim, que me chateia.
      Por fim, Passos. Sou completamente pragmático: existe uma hierarquia de valores no cimo da qual se encontra a liberdade e a democracia e depois a economia completamente condicionada pela dívida e pelo défice. Pode começar pela falta de macas nas urgências dos hospitais que isso não me comove. Pode chamar-me cínico, estou-me nas tintas. Primeiro a liberdade e a democracia depois a economia co o défice e a divida. Quem me convencer de que tem a melhor solução para esta equação, tem o meu voto. Estou convencido que é Passos que tem a única solução realmente disponível.

      Xispto

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    11. Ó Xis, muito lhe irrita que a Varela ouse dar a entender que as suas ideias são moralmente superiores. Devia ela dizer talvez, quem sabe, peço desculpa, e fazer mea culpa pelos crimes do Estaline? Se você defende uma hierarquia de valores, não é por a achar moralmente superior? Será o quê? Uma receita de culinária? Sabe o que seria manifestação de superioridade moral verdadeiramente insuportável, se eu a levasse a sério? Essa sua suposição de que sofro de uma doença infantil, como uma varicela ideológica, pela qual o Xis já passou.

      A liberdade e a democracia não são dissociáveis do bem-estar material. O Xis tem receio das palavras, anda com dedinhos a dizer que pode ser aquela terminologia ou outra diversa, etc. Pode, se se sentir mais confortável, remeter para os princípios fundacionais americanos: o direito à vida, à liberdade e à procura da felicidade, no topo da pirãmida, a par. Não faz sentido distinguir liberdade e democracia, por um lado, e prosperidade, por outro. Fala aí na economia condicionada. A economia está sempre condicionada, do mesmo modo que a democracia e a liberdade estão sempre condicionados. Da mesma forma que o Xis fala na dívida, outros argumentarão com a segurança para vigiar os seus passos ou até para lhe fazerem um tratamento com waterboard ou deixá-lo morrer gelado numa cela (aconteceu a inocentes como você). Na economia, como nos outros fatores da equação, o pior constrangimento é o mental. Se não assumir pelo menos como referência um sistema de valores que lhe permita uma vida confortável, não tem nenhuma legitimidade para se queixar do estado se este o deixar morrer numa maca num hospital. Gosta de cinismo, o new chic? Aqui vai, com os meus cumprimentos: “Sente-se mal? Olhe, amigo, é a dívida. Mas os seus familiares são perfeitamente livres para reclamar no livro de reclamações. Viva a democracia.”

      caramelo

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    12. Uma correcção, porque há lapsos indesculpáveis: Em vez de "...tratamento com waterboard ou deixá-lo morrer gelado numa cela (aconteceu a inocentes como você)", ler "...tratamento com waterboard ou deixá-lo morrer gelado numa cela (aconteceu a inocentes como você, e ainda que o não fossem)"

      caramelo

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  2. de inicio a sra escrevinhadora logo avisa que não percebe muito de socialismo. depois arranja ali uma série de argumentos que o confirmam. e confirmam tambem que faz parte de um club que existe por ódio primário contra as meninas isabel e raquel. pois prefiro estas, ás que supostamente levam uma vida coerente.

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  3. Isto faz-me lembrar o episódio dos bolinhos da Benard (ou outra pastelaria fina qualquer), com que o/as camaradas mais ortodoxo/as e puro/as atacavam as camaradas mais coquetes. Esse texto da Maria João Marques é dos textos mais imbecis que tenho lido. Bitchy, no mau sentido. Aborrecida com o episódios dos restaurantes, a Varela respondeu e muito bem. Continua a levar. Claro. Espantas-me, Filipe.

    caramelo

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    1. Tu não, caramelo, tu não. . Aqui, nunca. Certinho como um fio de prumo.
      Boa sorte com o histórico socialismo de abundância.

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    2. Filipe, pensas que a minha embirração é politica? Ná, é coisa de feitio, mesmo. Gosto de um tipo de gajas e não gosto de outro tipo de gajas.

      caramelo

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