sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O INE, esse superego estatístico


O superego, para quem leu o Freud tardio e expurgado das maluqueiras iniciais, sabe que é apenas um esboço  do frágil equilíbrio entre a nossa selvajaria original e a culpa, essa conquista da civilização.
É  divertido um país que discute política à medida das previsões do INE.
Quando o INE diz que o desemprego sobe, a oposição gosta do INE e aponta o caos, o governo diz que é preciso ver o quadro geral.
Quando o INE diz que o desemprego baixa, a oposição recupera a emigração e o governo celebra a previsão do mês.

9 comentários:

  1. Filipe, se excluirmos assuntos de gravidade maior (guerras, catástrofes, etc), as duas últimas frases do post são a definição simples da oratória política: desvalorizar os méritos do outro; sobre valorizar os nossos feitos. Mesmo se esses méritos/feitos não dependam de nós, apropriamo-nos deles; se ainda não aconteceram (as célebres previsões) da-mo-los como factos consumados.
    Carlos

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    1. sim, mas não tem de ser assim...

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    2. Sim, também prefiro por ex. como disse Ferro Rodrigues recentemente numa intervenção: «se queremos um Estado social forte não podemos prometer baixas de impostos». Aquilo que digo é que não vem mal ao mundo por causa da oratória parlamentar. Bem diferente é, como diz noutros posts, a comunicação social escolher um lado e apresentar-nos a informação como "isenta" e "factual"
      PS: E, claro, «da-mo-los» não existe
      Carlos

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  2. Caro FNV,

    Segundo os números do INEM é (quase) 50/50: dos 100.000 desempregados a menos, 50% arranjou emprego, 50% desapareceu (emigrou?).

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  3. Há estatísticas em que o centrão está mais ou menos de acordo em deixar para o silêncio:

    "na situação de iminente ruptura de 19 autarquias do país - dos 209 mandatos sufragados desde 1976 nas câmaras em ruptura iminente, PS e PSD governaram 90% do tempo."

    e isto até com uma ligera margem de maior irresponsabilidade para o PSD (só para dar um tempinho ao discurso do PSD que é o partido da responsabilidade)

    "Nas 19 autarquias em crise, PSD venceu 95 eleições desde 1976. Socialistas surgem logo a seguir, com 90 mandatos conquistados"

    http://www.ionline.pt/artigos/portugal/psd-foi-partido-mais-tempo-governou-nas-camaras-falidas

    João.

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  4. O senhor doutor está rodeado de palhaços por todos os lados, todos a atirarem-se tartes à cara uns dos outros, um espectáculo divertido, mas degradante. Ainda bem que ficou dispensado por recomendação médica de falar no estado da nação durante quatro anos. "Só fala depois das eleições, a não ser relatos de coisas hm de automóveis, que um cavalheiro melancólico como o meu amigo, meio ermitão, tem de ter as suas distracções, ou definha".

    caramelo

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    1. sim, mas pouco alho e um fio de azeite.

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    2. hehehe. Olha, qual é a tua opinião sobre os actuais empregos promovidos pelo governo, aquela espécie de programas ocupacionais?

      caramelo

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  5. Acho que super-ego é também um representante do Id, das selvajarias de que fala, aliás, "selvajaria" já é uma formulação super-egóica. Diria que em vez de ser o "equilíbro" entre desejo e culpa, equilíbrio esse que parece muito tributário do princípio de prazer, o super-ego é o representante de ambos do desejo e da culpa. Ele mostra o desejo e atira com a culpa.

    Há portanto algo de excessivo, algo de gozo com a dor psíquica por parte do super-ego

    Um super-ego demasiado forte é uma coisa "obscena e feroz" para usar termos de Lacan. Não poupa nas "imagens" gráficas do desejo proibido nem na culpa por tê-las contemplado. É um pouco fdp, que é como quem diz, "fanático dos popós".

    Não é que o super-ego não seja importante para a civilização como acho que você sugere mas que a civilização não é o seu interesse primeiro.

    Em estilo de prosopeia: o super-ego interessa-se pela sua própria reprodução e portanto enquanto de facto se interessa-se pela e investe-se na preservação do ego não o faz pela felicidade do ego mas pelo seu (super-ego) interesse em permanecer.

    João.

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