quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Por acaso discordo


Boaventura e os seus papagaios -  numa monografia que fiz  no primeiro ciclo do doutoramento em estudos asiáticos , na FLUP, mencionei um que citou abundantemente  Edward Said sem indicar na bibliografia  um único livro ou artigo do homem - esclerosados  ( Focault, Derrida, Fanon, Negri, Bhabha etc) podiam bem experimentar cá  em Coimbra. Estamos a precisar.

26 comentários:

  1. Parece que o seu homem não aceita a politização da violência popular. Enfim, o que dizer de tamanha tolice senão que basta que essa violência seja contra um regime a que o seu autor se oponha para que a ideia dele sobre a legitimidade da violência popular mude.

    João.

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  2. sim, mas as tretas habituai são sobre pura delinquência.
    depois o outro homem ( Boaventura), quando a violência é a sério, vem sempre dizer que foi provocada por fascistas infiltrados. Ora abóbora...

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  3. A violência é violenta. É desagradável. É delinquente. Nunca houve uma acção popular de resistência violenta ou até de transformação de regime que não tenha sido acompanhada de excessos, de delinquência, para usar as suas palavras, mas é aqui que se entende bem as palavras de Brecht:

    "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

    Considere que você está numa poisção de alto comando de um movimento popular de resistência violenta a um regime opressor, imagine que o povo no terreno começa a ir longe demais e o seguinte dilema se lhe apresenta:

    você acaba com a violência mas arrisca deixar o regime contra o qual luta no lugar ou você deixa que corra o excesso mas consegue derrubar o regime. Qual escolhe?

    João.

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    1. Já na Venezuela a violência popular é sempre falsa e instigada pela CIA.
      Em relação à pergunta: os motins de Londres foram contra um governo opressor ? Julgo que se podem fazer distinções.

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    2. Depende. Quando é anti-governista contra o governo o governo diz que é apoiada pela CIA quando é governista contra a oposição a oposição diz que é conduzida por agentes do governo.

      Na Venezuela aparentemente, lendo as notícias que vêm de um lado e de outro, o povo é apenas um pau mandado, não tem vontade própria.

      Os motins em Londres não foram um evento político? Só porque a violência não articula um discurso que a situação reconece como político não quer dizer que não seja política, pode querer diser que a situação não tem categorias para pensar a dimensão política dos motins. Para a situação é sempre melhor dizer que foi apenas uma arruaça de grandes dimensões. Eventos significativos na polis, são políticos.

      João.

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    3. "dizer" e não "diser". Não sei bem porque cometi esta calinada mas aí está.

      João.

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  4. Ele também se queixa do silêncio a que foi votado um escrito dele. Parece que o mundo é de culpar que o trabalho do homem não tenha sido glorificado pela nação. Claro que é possível que o trabalho dele não tenha qualidade ou interesse para ninguém, mas isso o seu homem não considera, ele parece achar que há algum complô académico contra ele ou o trabalho dele.

    João.

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  5. Parece-me excessivo dizer que BSS exporta a violência social para Cabo Verde e para a Guiné-Bissau. Primeiro, porque não me parece que um estudo científico tenha o potencial de gerar violência social; depois, porque mesmo que o tivesse, não me parece faça parte das leitutas dos delinquentes de Cabo Verde e da Guiné-Bissau.
    Quanto ao BSS, parece-me que o homem alimenta um ódio um bocado primário por parte de alguns camaradas de profissão (basta lembrar algumas crónicas que a Maria Filomena Mónica lhe dedicou). Se discordam dos seus estudos, combatam-no com as mesmas armas: investigações científicas que demonstrem as limitações das suas.

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    1. sim na primeira parte, é o estilo gongórico de GMR, mas não na segunda: já estive no meio - area studies - no Porto, aquilo é pior do que a IURD: quem mija fora do penico não existe , a qualidade do jacto é irrelevante.

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    2. Filipe, no Porto, em Coimbra, em Lisboa, em Braga, etc. Digo-lhe mais: preparo um projecto de doutoramento para submeter a uma universidade no Reino Unido e já me foram alertando para o que, por um lado, devo evitar e, por outro, incluir. O mundo académico, que deveria ser um local de liberdade, é, não poucas vezes, o primeiro a aniquilar qualquer ameaça ao 'status quo'. Eu digo apenas que a melhor forma de contraditar os resultados de investigações científicas é opondo-lhes resultados de outras investigações científicas que apontem em sentido oposto ou diferente. Artigos no Observador são bons para alimentar polémicas inconsequentes, mas ineficazes no que toca a beliscar a credibilidade científica do que quer que seja.

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    3. Carlos,

      Não é bem assim. Mesmo em aéas de cienc. sociais existem zonas melhores e outras piores. Conheço bem alguns casos em França ( onde vivi e submeti a minha tese de mestrado) e onde depois fui co-investigando em geopolítica das drogas.
      Esta área do Boaventura está brutalmente politizada e tem impacto mediático. Qualquer que seja o assunto, como dizi a Pedro Mexia, já sabemos o que Boaventura vai dizer. Ciência o c******.
      A investigação que se faz em Coimbra em neurobiologia ou em estudos clássicos, por ex, não tem impacto mediático nenhum, as coisas têm a sua , como dizem os cretinos , alavancagem.

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  6. Filipe, claro que, no que concerne aos constrangimentos, há diferentes graus, e há sítios muito melhores do que outros..
    O BSS é mediático e acredito que o CES esteja fortemente politizado, mas o centro do Gabriel Mithá do Santos não está? O Filipe, antes de o escutar, não sabe o que ele vai dizer? Ou a Filomena Mónica? Ou o Pulido Valente? Ou o António Barreto? Ou tantas outras pessoas, muitas das quais escrevem misturando política e ciência, prostituindo a última numa tentativa de credibilizar o que defendem em relação à primeira? Há poucos inocentes.

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    1. Meio meio, Carlos: o CES é uma big org, depois aquela coisa do observatorio da justiça etc, e, sobretudo, financiada publicamente.

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    2. 'tá ver os janotas da PT a descendo de Picoas à Av. da Liberdade para despachar com o Ti Ricardo? Assim é tb o financiamento publico (e até algum Europeu) nas Ciências Sociais - vão sempre ao(s) mesmos para despachar, e auditorias estilo PwC - sem nomes, sem grandes identificações de responsabilidade, só confetis tipo Operadora do Mundo Lusófono ou como um suspiro (ou tiro) na Cidade da Praia é assim um 'apeiron' cosmogónico que impregna as tertulias fracturantes no Bairro Alto. O centro do Sr. Mithá dos Santos, nestas refregas, nem chega a ter a voz de malho de Fernando Ulrich - fica-se pela timida atoarda,...
      Jorg

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  7. O Observador dedica hoje dois textos ao Boaventura, que por lá ficarão para a habitual sessão libertadora de traulitada nas caixas de comentários. Não se podem queixar depois que o homem tem demasiada atenção dos media. Há aqui um problema que o Boaventura não pode resolver. Tu falas no “o meio” (lembrei-me daquele filme, o “A Ninhada”), mas tenho a vaga perceção que os homens e mulheres das humanidades que mais publicam publicamente, nos jornais e na net, são aquela malta da Católica, o João Carlos Espada, Pereira Coutinho, etc, etc, que a lista é longa (para além do Pulido Valente, Mónica, Barreto, referidos pelo Carlos, também não exatamente pobres coitados acossados a um canto pela ninhada do Boaventura). Ora, no meio da sua abundante publicação científica (axiologicamente neutra, como diz o outro, claro), parece-me que perdem também demasiado tempo a comentar o Boaventura. De modos que se retirassem o financiamento público ao CES, como pede o peditório, ficariam todos com um certo sentimento de orfandade. Eu acho que o Boaventura cumpre um serviço social essencial, e até por isso deve continuar a ser financiado pelos nossos impostos: o de permitir a uma respeitável secção das humanidades estudar o Boaventura.

    caramelo

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    1. Tarulitad nos comentários ? ao prof doutor de Coimbra ? tsk tsk...já não há respeito.


      Sobre o resto: estamos a falar de publicações cientificas, não de jornais
      sim, o circulo espadiano é igualzinho só que não ...publico ( e tem dress code e pronuncia de Oxford, coitados).

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  8. o circle deixou de ser... publico? Os camaradas tipógrafos do bairro alto começaram hoje a boicotar o circle? Tenho de falar com eles.
    Traulitada nele. por mim, tá bem. Nem sequer o leio, vê lá tu. A única coisa que me fez comentar isto é essa coisa de a esquerda dominar o estudo das humanidades, fora tudo o resto, com epicentro da fac de economia da dias da silva. Faz falta uma daquelas cadeiras de "mito urbano", curso livre. nisso, as universidades americanas são mais completas.

    caramelo

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  9. Do Boaventura, lembro-me de um certo relatório do observatório da justiça, nos idos de 90 do milénio passado, que concluía com um excesso de pendências bagatelares nos Tribunais, coisas que, entendia o Boaventura, presumivelmente não careciam de dignidade suficiente para ocupar o foro. Tinha em mente as operadoras de telefones, bancos e pequenas financeiras, mas, tonto, nem lhe ocorreu a enormidade da coisa que escrevia.
    A coisa era, amiúde, repetida pelo observatório. Vai daí houve uma ministra, de trágica memória, a Cardona, que, aproveitando o consenso de imbecis e invocando, com enorme gozo, presumo, o tal observatório de vesgos atiçado pelo jacobinismo mais primário, veio instituir os abomináveis solicitadores de execução onde aquelas bagatelas, tituladas por facturas bagatelares, iam à execução prévia fora dos Tribunais. Acho que nem o Espada se lembrava de uma coisa destas.

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    1. Justiniano, eu não costumo ler os relatórios do Boaventura, mas acompanho sempre o trabalho do Observatório de Justiça, pelo menos aquilo que passa nos jornais. Passei por aí e encontrei um, que me parece sério e bem fundamentado, para além de sujeito a debate, como qualquer outra boa coisa na vida.http://opj.ces.uc.pt/pdf/6.pdf.
      Mas fala ai de enormidades de coisas que o Boaventura tinha em mente e que escrevia sobre o assunto e eu não encontrei nada escrito sobre isso pelo Boaventura. Pode informar qual será esse relatório do Boaventura sobre bagatelas penais que lhe merece tão coloridas e paternais adjetivações, incluindo tonto e jacobino?

      caramelo

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    2. Caramelo, se nunca leu ou ouviu, do Boaventura, dizer da excessiva utilização dos Tribunais, por parte das empresas de telecomunicações, bancos e pequenas financeiras, para cobrança de bagatelas, receio, então, que a propósito do OPJ e de Boaventura tenha andado distraído. As suas aparições públicas, especialmente no final do milénio passado, personalizando o OPJ, eram, a este propósito, expressivas. Se não me crê ou tem dúvidas questione algum seu conhecido, quem lhe merece avisada credibilidade de memória.
      Por outro lado, se ler o relatório que aqui invoca vai, precisamente, encontrar o tal consenso imbecil que referi a propósito da reforma da acção executiva. Como pressuposto leia o relatório de 1999 e aí vai encontrar as ditas propostas de desaforar as execuções bagatelares. (eu não lhe falei em bagatelas penais, não se confunda. Coisas distintas).
      Um tonto, num sentido menos colorido, é aquele que perde ou vê diminuído o mais elementar sentido de orientação. Aquele que se diz resistir ao mercantilismo avançado, como Boaventura, mas preconiza, ou pensa, a hipótese da desjudicialização mercantil de conflitos patrimoniais, é um tonto.
      Quanto ao jacobino, estou certo que Boaventura o leria como elogio!!

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    3. Estou a acompanhar esta troca. O Justiniano falhou em explicar o que é a tonteria. Não basta chamar tonto é preciso explicar porquê e que alternativa alguém inteligente defenderia. Qual seria a sua solução para as dezenas de milhar de processos de cobrança que as operadoras de telecomunicações, seguradoras, etc, colocam em tribunal quando são também bagatelas? Não faz nada? Deixa que os juizes se entupam com esses casos?

      João.

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    4. João, não confunda o enunciar de contradição com opinião meditada.
      Repito a explicação. Aquele que se diz resistir ao mercantilismo avançado, como Boaventura, mas preconiza, ou pensa, a hipótese da desjudicialização mercantil de conflitos patrimoniais, é um tonto.
      Meu caro, não defenderei, nunca, a tragédia dos solicitadores de execução ainda que sirvam para desentupir qualquer coisa. A discussão sobre processo executivo é muitíssimo complexa uma vez que influi com o exercício lícito da violência.

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    5. Você começou por falar da desjudicialização de bagatelas, agora parece falar da desjudicialização em geral de conflitos patrimoniais, que, sendo em geral, parecem poder ir de bagatelas a fortunas.

      Deve ser problema meu, mas não entendo bem o seu discurso.

      João.

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    6. Justiniano, em primeiro lugar, tendo formação juridica (parece) talvez possa ser um pouco mais preciso no que diz, começando na autoria concreta dos relatórios, no que concretamente dizem, passando pelo uso de coisas como o jacobinismo e acabando no que explico a seguir. Poucos quererão ir a tribunal por causa de uma bagatela, gastando talvez mais do que isso no processo, para além de outras maçadas, deslocações, advogados, etc. Aliás, muitas dessas empresas até recorrem frequentemente a outros meios, mais informais, mais conciliatórias, para recuperar pequenas dívidas, até mais do agrado dos clientes, porque estes, em geral, não têm um especial prazer em que lhes chegue pelo correio uma notificação de que foi intentada contra eles uma ação no tribunal tantos, por uma dívida da televisão por cabo. Estamos a falar de pequenas importâncias e a melhor solução passará por outras instâncias de resolução de conflitos, sempre assegurando os direitos do cliente. Faça de tonto o Boaventura, que nem aqui vem, mas a mim não, justiniano.

      caramelo

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    7. E já agora, nunca se pode confundir princípios abstractos que qualquer teoria política defende com a sua concretização nas instituições. Há sempre nesta passagem um momento negativo onde a abstracção encontra a diferença e o conflito com o concreto.

      Isto não é defeito é feitio. Não é esquerda nem direita. Em todo o caso é assim. O pensamento é dinâmico quando é capaz de reflectir a diferença do concreto sobre o princípio abstracto promovendo a evolução da teoria.

      Esta evolução também não é fácil porque nem sempre é evidente quais os ajustes teóricos que melhor respondem às contradições e conflitos encontrados na passagem ao concreto.

      E além disso, mesmo o que parece ser a solução óbvia do problema da teoria ainda ficará por revelar as suas contradições quando ela mesma for passada ao concreto.

      A teoria, neste sentido, avança de derrota em derrota. Como é em Hegel, na Fenomenologia do Espírito.

      João.

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    8. Caramelo, eu não pretendi fazê-lo de tonto mas Vmcê pretende fazer-se de tonto!! Eu disse que Boaventura e o OPJ ( coisas indistintas, neste assunto, pelo menos. Todos os relatórios são elaborados sob a direcção científica de Boaventura) preconizavam a desjudicialização de determinados conflitos patrimoniais (típicos, seriados, bagatelares etc...) como forma eficiente de aliviar pendências no foro. Uma posição perfeitamente utilitária, com recurso a figuras liberais e mecanismos mercantis, mas contraditória com a resistência ao mercantilismo avançado, como bem compreenderá (note que Boaventura se reivindica da resistência ao mercantilismo avançado). O caramelo veio dizer que, apesar de seguir todos os episódios do OPJ, lhe tinha escapado este detalhe. Eu recomendei-lhe o de 1999, especialmente as suas conclusões. Veio o caramelo, sem tossir, reconhecer a coisa, que lhe tinha escapado, lambê-la e louvá-la. Caramelo, todos somos favoráveis à maior eficiência da acção executiva, a discussão tem miles de anos. Mas, contudo, apesar das vantagens que discorre como evidencias do bom senso, quase auto justificadas, pode bem ocorrer que alguém, que se entenda seu credor sem que o caramelo se reconheça como devedor, abrigado em título ambíguo ou impreciso, invadir, com mais ou menos violência, por destreza e unção de um solicitador de execução, o seu património sem que o caramelo tenha sido achado de razões. Será nesse preciso momento que o caramelo recorrerá ao tribunal para que lhe assegure os direitos no impasse discernindo da ambiguidade e da imprecisão do título controverso. Meu caro, a coisa não é tão cristalina como a vê, nem perpassa por amabilidades de salão de chá. Há controvérsia substancial em muitas relações contratuais continuadas e seriadas. As pequenas e grandes tragédias que os Tribunais conseguem corrigir e redimir são, essencialmente, o custo mais expressivo dessa progressiva desjudicialização. O exercício lícito da violência sobre o património requer a máxima prudência que "era" por função soberana garantida por um juiz. Mas é, também para mim, evidente, concordando com o bom senso que o caro caramelo tenta enunciar, que formas de maior eficiência processual são necessárias ou imperiosas.

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