quinta-feira, 16 de julho de 2015

But all, except their sun, is set...


Ontem, nos noticiários da televisão, vi durante longos minutos a sala do Parlamento grego onde se estava a votar o novo pacote de austeridade. Sem som e com a voz dos comentadores nacionais por fundo, o espectáculo era um pouco deprimente. Dezenas de sonolentos deputados ouviam, ou pareciam ouvir, o arrastado debate, enquanto cá fora Atenas estava a ferro e fogo. No meio da modorra, era fácil distinguir os deputados do Syriza dos outros: os primeiros não tinham gravata, os segundos tinham gravata. O fosso ideológico era evidente.
No caso das senhoras, todas universalmente sem gravata, a distinção entre apoio e recusa do grande capital tornava-se mais árdua, por certo em consequência dos milénios de patriarcalismo a que o Syriza, mais tarde ou mais cedo, há-de pôr fim. Mais tarde que cedo, suponho. Para já, com o país à beira da bancarrota, dispensar a gravata é a verdadeira utopia.
Um conservador como este vosso criado fica, porém, um pouco intrigado com a timidez da revolução. Porque os fatos e as camisas dos deputados, quer estivessem engravatados, quer ostentassem um pescoço livre de convenções burguesas, eram muito parecidos. Fatos escuros, camisas lisas, sapatos pretos (derbies ou mocassins, obviamente). Na ausência de gravata, os deputados de extrema-esquerda pareciam tão convencionais como os lacaios de Berlim. O vazio gravatal tornara-se um dress code tão obrigatório como um vestido de noiva.
E o intrigado conservador pergunta, submerso na inquietude que a mudança sempre lhe provoca: será que a marcha do progresso parou às portas da Bastilha, perdão, da gravata? Onde estavam, na noite em que a Grécia submetia o seu futuro ao voto democrático, os fatos roxos, as camisas de folhos e as havaianas? Os descamisados realmente descamisados e os pés nus dos representantes do povo? Ou mesmo os representantes do povo totalmente nus? (Admito que esta hipótese seja demasiado subversiva até para os deputados, e sobretudo as deputadas, do Syriza, mas uma revolução não é um chá dançante, lá dizia o outro.)
Não estavam. Eis a terrível verdade. Nem a Grécia nos pode dar os amanhãs que cantam. Chora a primavera dos povos mais uma vez adiada, Lord Byron.

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