segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Futebol & eleições


Do centro do PS para a esquerda a ideia é unânime: não existe  democracia em Portugal. Para os moderados, a democracia está refém do capital; para os outros, as amplas liberdades democráticas ( o único jargão de Cunhal que Pacheco Pereira ainda não recuperou) só são respeitadas em Angola, Cuba e Coreia do Norte.  Posto isto, há eleições.
A novidade velha deste ano é o futebol.  O ópio do povo vai distrair o povoléu embrutecido. Nunca é demais realçar o desdém desta gente pelos que dizem defender. É velho, mas às vezes leva  troco:

Mário Campos* recorda a Assembleia Magna da Academia que no Verão de 74 decide a extinção  da secção de futebol  da Associação Académica de Coimbra, como tendo decorrido num  ambiente terrível. A tese dos 400 magnos era, como é bom de ver , a da alienação:”tu, que durante todos estes anos apenas te podias reunir com os amigos ao domingo,  no futebol, és um alienado / todos os que em todo o mundo, capitalista ou socialista gostam de futebol, são alienados”. Acrescia a esta verdade intemporal uma outra, a da corrupção do ideal amador pelo mundo sujo do profissionalismo.
Para os registos fica a reacção  das gentes de Coimbra, do anónimo a Mota Pinto e Antonio Portugal, que vencem a indiferença do então  Secretário de Estado dos Desportos, Avelã Nunes (marxista da Faculdade de Direito) e o parecer do Conselho de Jurisdição da Federação Portuguesa de Futebol, onde, entre quatro insignes conselheiros , figurava o versátil Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
 O que estava em causa era conseguir, através da mudança de nome de Académica para Clube Académico de Coimbra, a manutenção dos direitos desportivos  do clube, sobretudo o direito a disputar o campeonato nacional da primeira divisão.Vasco Gonçalves ( é verdade!), Spínola, Rafael Durão,  tendências multicolores do MFA conspiraram para ajudar o Académico a receber a herança desportiva da Briosa, para desespero dos estudantes revolucionários.
Assim, sob o jugo  da iluminada revolução, a 8 de Agosto de 1974, milhares de alienados viram-se obrigados a mudar de clube …no papel: nascia o Clube Académico de Coimbra. O que os ventos revolucionários conseguiram foi o regresso à antiga designação de 1862(5), demonstrando ipso facto, que se pode trocar de tudo, inclusive de mandantes, mas nunca de clube. 


* in "A Académica", vários autores, Ed ASA, 1995

1 comentário:

  1. agora uns e outros mudam de Rolls-Royce sempre que urinam
    continuam a explorar a mina chamada contribuintes

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