quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Pequeno guia para a oposição à coligação negativa: sim, pasáran!


O No pasarán ! é da autoria de Petáin e Nivelle e foi usado na  batalha de Verdun, na Primeira Guerra Mundial. Dolores Ibárruri  imortalizou-o, sim, mas a origem do mot d'ordre  é francês. É um bom slogan, mas o centro e a direita devem aplicar ao governo cabeça de turco da coligação negativa o inverso: sim, pasarán!

1) Em primeiro lugar, não esquecer que ao centro-direita  está vedado o protesto de rua. Não tem implantação sindical nem mediática ( sempre necessária para abrir telejornais  com manifestações de 25  pessoas).  Pôde, em circunstâncias  irrepetíveis ( Fonte Luminosa) mobilizar a rua, mas esses tempos  já lá vão,  e poderia se Lisboa fosse Caracas, o que felizmente não acontece. 

2) A composição do novo governo é  quase irrelevante.  O anterior tinha secretários de estado  e ministros um grau acima do  analfabetismo. O tecido mole  é o seu apoio parlamentar. É a exploração do equilíbrio precário entre um PS de governo e os  seus  andaimes variados - desde os assumidamente neoestalinistas até aos zizeckianos, não esquecendo os que descreveram o PREC  dos mandatos de captura em branco como "o período em que mais se aprofundou  a democracia" ( pp 45).

3) O ataque ao tecido mole será feito na AR e na discussão pública. Da AR não falo, nunca lá estive e creio que já não tem hoje grande sumo para  a representação social da luta política. 
O espaço público é outra louça:

3.1) Compreender que num primeiro momento tudo  serão rosas. Não adianta  pôr o dedo no buraco no dique, antes estar preparado para o pós-dilúvio. Eviar o revanchismo fácil, que será visto sempre como um ataque  à nova ordem e os portugueses, não esqueçamos   Pessoa, são muito parecidos com os alemães.  Quando a conta começar a chegar, o centro-direita  tem de estar no terreno há muito. 

3.2) No terreno, a exploração do tecido mole deveria ser  conduzida num duplo movimento. Todas as cedências do PS aos caballeristas devem ser traduzidas nas perdas correspondentes dos sectores afectados.  Na direcção contrária,  a mesma técnica: todas as resistências do PS  ao autoproclamados defensores dos novos braceros devem ser ampliadas, cavando o fosso entre os andaimes e obra.

3.3) Os meios ? Marcar presença nos sindicatos moderados, nas ordens profissionais, nas academias, nas corporações judiciais e securitárias. Potenciar os municípios não afectos ao PS e aos seus andaimes. Trabalhar o  espaço mediático de comentário e , claro, as redes sociais. Não contemos com  os iletrados da carne assada e das Jotas: um cão cego seria mais útil.

9 comentários:

  1. Caríssimo Filipe, efectivamente «um cão cego seria mais útil»: é difícil que o ajuntamento PPD/PSD-CDS/PP-PàF que desgovernou criteriosamente Portugal nos últimos quatro (4) anos, perdendo a oportunidade histórica de reformar a fundo este país no plano político-administrativo, possa agora fazer melhor na oposição do que arregimentar justamente «os iletrados da carne assada e das Jotas»... afinal, foi com malta dessas origens que andaram a passear a sua ignorância e a sua incapacidade pela paisagem nacional.

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    1. Governar bem um país sob resgate era evitar o segundo e a espiral recessiva não era, caro Fernando?

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  2. Caríssimo Filipe, era isso e tudo o que ficou deliberadamente por fazer: 1) rever a Constituição na vertente da organização do poder político, com a adopção da moção de censura construtiva, e das regras do sufrágio eleitoral, com a adopção do escrutínio "à alemã" com círculos uninominais e um círculo nacional proporcional; 2) reorganizar a Administração Pública a fundo (mais do que cortar vencimentos, reduzir o número de entidades dependentes do OE de cerca de 14.000 para não mais de 500 e diminuir e encurtar procedimentos administrativos); 3) não resgatar três (3) vezes os bancos (privados) com dinheiro público oriundo dos impostos do Zé Povo na mesma legislatura; 4) não andar a vender aos chineses do PCC os sectores da energia e dos seguros; 5) acabar com as PPP, pura e simplesmente; 6) acabar com o recurso à arbitragem em matéria administrativa e tributária; 7) acabar com o duopólio da Microsoft e da Oracle sobre o licenciamento de software informático, pois Portugal é o único país da União Europeia (com que nos andamos sempre a comparar) em que o Estado nunca funciona com software livre; 8) acabar com o parasitismo das empresas de consultadoria financeira-informática-gestionária no seio do Estado, tudo isto para começo de conversa.
    Mas claro que todos os portugueses (incluindo eu que sou o militante n.º 17.209 do PPD/PSD) se podem sentir justamente orgulhosos da genuína herança que a PàF nos deixa: Gaspar no FMI em Washington, Moedas na Comissão Europeia em Bruxelas e (last but not the least) Álvaro na OCDE em Paris...
    Por outro lado, não creio que o Tó Tosta vá muito longe na sua aliança com a verdadeira Esquerda: o que se debateu era saber qual partido/coligação governa o país por forma a ganhar as próximas eleições legislativas e, já agora, se é eleito um PR complacente que dissolva à medida das necessidades da sua família partidária: tudo a bem da Nação, já se vê...

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  3. Sabe mto bem que o ponto 2 siginificaria despedir perto de 100.00 func.público e o 5) ficar-no-ia mais caro do que as manter.
    Mas olhemos agora em frente, caro Fernando, em frente...

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  4. Caríssimo Filipe, o problema não é despedir 100.000 funcionários públicos, pois bastaria não ter deliberadamente impedido número sensivelmente igual de ir para a aposentação durante a legislatura transacta: é só despedir 100.000 políticos partidários de extracções várias que pululam por esse país fora, onde (como é óbvio) Passos Kandimba y sus muchachos nunca quiseram mexer.
    Sucede, porém, que os funcionários públicos são estutariamente obrigados a saber ler, escrever e contar, coisa que (como também é óbvio) muitas vezes infelizmente não sucede com a rapaziada dos partidos: é o problema já velho das «Novas Oportunidades» "à la TecnoForma"...
    Acabar com as PPP fica caro quando, como sucedeu exactamente com o (Des)Governo PàF, se nomeia para Secretário de Estado das ditas o mesmo indivíduo que bancariamente as armadilhou: a título de solução, basta que se recorde do que Alexandre Magno fez ao nó górdio...
    Olhando agora em frente, talvez seja adequado relembrar aos apoiantes do ainda XX (Des)Governo a caminho do purgatório que não convém andar a alimentar a expectativa da candidatura presidencial de Rui Rio: desapoiar Marcelo (ou, como proferiu televisivamente Passos Kandimba, «o Professor Rebelo de Sousa») seria dar Belém ao Tó Tosta depois de ter abdicado em São Bento, sem esquecer a alegria e o prazer que Paulo Morais (ex-vereador tripeiro e presidente da secção portuguesa da Transparency Internacional) teria em contar o que sabe sobre os meandros da Câmara Municipal do Porto.
    Insisto: com «os iletrados da carne assada e das Jotas», será muito difícil desalojar o Tó Tosta da cabeceira da mesa do OE, tal como tem pacientemente explicado o fantabulástico Provedor Santana. Eles simplesmente não estão (nunca estiveram, nem estarão) à altura da tarefa, pois para fazer a dita e tão decantada "Reforma do Estado" é preciso saber o que é o Estado; não é algo que se possa aprender em alegre e salutar convívio com Dias Loureiro, Ângelo Correia, Miguel Relvas ou Miguel Macedo, por exemplo.

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    1. "é só despedir 100.000 políticos partidários de extracções várias que pululam por esse país fora, onde (como é óbvio) Passos Kandimba y sus muchachos nunca quiseram mexer".
      aguardo então o que o novo governo de salvação nacional fará. Cá estarei, se os deuses deixarem , para lhe perguntar a si, caro Fernando sobre esse varrimento...

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  5. Caríssimo Filipe, esqueci-me de referir-lhe que a maioria das cerca de 14.000 entidades que vivem à sombra do aparelho do Estado são privadas, subsidiadas em parte ou no todo pelo OE e nem sequer têm funcionários públicos, os quais (reconheço) são uma infestação, uma praga, uma calamidade, uma verdadeira peste enfim.
    Bom, muito bom é viver em sítios que não têm dessa corja a pesar na contabilidade orçamental, mas são abundantes em sol, praias e nativas complacentes; lembro-me assim de repente de locais aprazíveis como a Somália, o Haiti, o Sudão do Sul...

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    1. Nunca me referi a func. públicos nesses termos , nem noutro remotamente parecidos, e até lhe respondi que o seu ponto 2 seria cruel, por isso aconselho prudência nessas insinuações, caríssimo Fernando.

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  6. Caríssimo Filipe, repito o que já escrevi: pura e simplesmente não acredito que o Tó Tosta faça o que quer que seja para mudar seja o que for, a não ser por força de compulsão externa, ao PS ou (o que é o mesmo) a Portugal, tanto mais que pretenderá governar, cedo ou tarde, sem necessidade de aliados da Esquerda (radical) ou da Direita; aqui entre nós, aguardo com expectativa como é que o Paulinho-das-feiras vai desatar o nó da aparente subordinação do CDS ao PSD de modo a poder aparecer liberto de compromissos quando o "Professor Rebelo de Sousa" convocar novas eleições...
    Recordo ainda que as duas principais revisões constitucionais se realizaram em 1982 e em 1989, exactamente quando o PS se encontrava nas bancadas da oposição, e que, se houvesse real vontade de descentralizar este país macrocéfalo, seria suficiente: a) regionalizar atribuições e competências para as cinco (5) regiões-plano; b) promover a municípios as vinte e oito (28) NUTS III; c) despromover os actuais municípios do Continente para freguesias; d) despromover as actuais freguesias do Continente para comissões de moradores; e) extinguir todos os institutos públicos e fundações públicas, convertendo-os em direcções-gerais; f) proibir os financiamentos e a subsidiação do Estado e das restantes entidades públicas à "sociedade civil", a qual não passa, infelizmente, de pura invenção propagandística.
    Para instruir adequadamente o mantra da "Reforma do Estado" basta gastar € 0,42 e ler com atenção o livro «Os serviços públicos no direito português», da autoria de Alfredo Mendes de Almeida Ferrão, publicado em Coimbra no ano de 1962: a livraria depositária é a Coimbra Editora...

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