sexta-feira, 20 de novembro de 2015
A propósito
Há algo de muito podre no reino das secretas europeias. Chamem-lhe incúria, negligência, descoordenação, falta de meios, o que quiserem, mas dificilmente se compreende que meia dúzia de barbudos já sinalizados como "radiciais" vão à Síria, voltem para Bruxelas, comprem um arsenal, aluguem dois carros e se instalem em Paris sem ninguém dar por nada. Em parte, a culpa é da velha relação esquizofrénica que as democracias mantêm com a intelligence: queremos mais segurança, mas sem tocar nas liberdades. O dilema merece uma reflexão muito séria. Mais do que o estado social, o multiculturalismo ou a crise dos refugiados, talvez seja esta a grande questão política da Europa nos próximos anos. Por outro lado, as notícias que hoje li sobre o julgamento do chamado "caso das secretas", e que citam o "super-espião" Silva Carvalho como tendo afirmado que "90% do modus operandi dos serviços de informações é ilegal", deixam muito poucas ilusões sobre o género de mafiosos a quem está entregue a defesa da República. Suponho que, lá fora, o panorama seja semelhante. Mesmo admitindo que se trata de bluff e que o tipo diz qualquer coisa para salvar a pele, fico pouco tranquilo com a hipótese de dar mais poder a aprendizes de feiticeiro. Se querem falar de combate ao terrorismo, comecem por aqui.
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