sexta-feira, 30 de maio de 2014

Breve ensaio de crítica da crítica da crítica


O Ípsilon publica hoje uma recensão de Diogo Ramada Curto a uma antologia sobre Pensamento Crítico Contemporâneo, recentemente editada pelas edições 70. Ramada Curto foi um dos mais estimulantes professores que tive (e dos mais cáusticos, mas eu gosto de gente cáustica). Pode gabar-se, além disso, de ser um dos raros profissionais do ofício a pensar, para lá dos muros universitários, as questões teóricas da disciplina. Pormenor adicional, mas não despiciendo,  tem muita razão na crítica aos organizadores da antologia, sobretudo na crítica ao "idealismo" das ideologias-que-criticam-todas-as-ideologias com "o estranho desinteresse pelas condições históricas da emergência do seu próprio objecto de análise". A ironia parece involuntária, mas garanto-vos que sorri.
No entanto, e como seria de esperar, todo o texto parte da identificação explícita, quiçá mesmo"idealista", do pensamento crítico com o pensamento de esquerda. Ou, para citar a sua própria retórica (prometo que não dói muito), com a "denúncia radical das ideologias conservadoras e a proclamação de dimensões utópicas e revolucionárias", socorrendo-se até de categorias epistemológicas algo duvidosas como a "sinceridade" de "autorizados intelectuais e académicos portugueses de esquerda".  Um pleonasmo, claro está, mas a esquerda tem que aparecer - para o caso de alguém não ter percebido a coisa.
O que sucede comigo, porque a porra da experiência me ensina que o pensamento hegemónico entre os intelectuais e académicos portugueses, em particular os mais autorizados, é - peço desculpa por repetir o pleonasmo - de esquerda. Há até, no campo estreito mas autorizado (ou estreito porque autorizado) das ciências sociais da Lusitânia, quem faça sonoras carreiras ostentando o exclusivo mérito da militância esquerdista. Onde está então, pergunto eu com a falta de autoridade de um vil conservador, a crítica, a denúncia, a utopia? Talvez do outro lado.
Deve ser por isso que Ramada Curto se atira à "lógica de barricadas, de maniqueísmos simplificadores, que reduz a academia a nós e a eles". Viu-se, aquando da polémica sobre a História de Portugal dirigida por Rui Ramos, como a esquerda está acima de tal lógica. E como Frei Diogo praticou o que agora prega. Com toda a sinceridade, tenho a certeza.

1 comentário:

  1. caro pedro
    Foi meu colega de carteira, e adversário no Rugby (pilar - Agronomia) , e revejo-o com muito gosto, e pouca frequência.
    já tinha acompanhado a participação dele na "polémica" R Ramos Loff. E também acredito na sinceridade.
    Pena é ser limitada pelo que acima expuseste.- e bom é que alguém não o deixe de referir, como o fazes, que o "rei só tem um olho"

    um abraço e obrigado

    Vasco Silveira

    Vasco

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