domingo, 14 de dezembro de 2014

A inapelável derrota do tremendismo



Tudo correndo normalmente, em 2015  António Costa e o PS tomam conta do governo do país.
De um país em que não houve saque de supermercados, assassínio de ministros a caminho de suas casas, golpes de Estado, tumultos vários. De um país  em que se estrearam filmes, jogou-se à bola, os festivais de música bateram recordes, publicaram-se milhares  de livros ( menos do quem 2009, claro), fez-se ciência  e um ex-primeiro- ministro foi acusado de corrupção. 
Essa normalidade acompanhou outra. Um país sob resgate empobreceu e o funcionalismo público e os trabalhadores menos qualificados empobreceram ainda mais. Diria uma dupla normalidade: exceptuando o período entre Abril de 1974 e o primeiro resgate, em 1978, quando é que alguma vez foram os ricos  a pagar a crise? Ainda deve haver grafitis nos muros mais esquecidos.
É interessante  revisitar as previsões feitas no início deste período 2011-2014. Anunciaram a revolução, o golpe militar, a barbárie, o aparecimento de caudilhos, o renascer de chefes frento-populistas e, claro, o fascismo.  Nos últimos meses do ano, por causa do processo a um ex-governante, muitos previram o colapso do regime. 
Noutro registo, alguns,  percebendo que as previsões falhariam, passaram a classificar o povo como grunho, abúlico e  invertebrado,  a juventude como drogada, bêbada e egoísta e os empreendedores como patetas que vendem compotas na internet. Mais: denunciaram os tempos como de desmoralização, opróbrio, selvajaria, desesperança. São, nos dizeres do Padre Manuel da Costa, dos que furtaõ com unhas amorosas.  O pesar do povo pesa-lhes pouco, porque é ao sabor das unhas amorosas que nos vão enganando.
Em 2010 , num fantástico consenso entre a esquerda pura e outras unhas  amorosas do centro e da direita civilizada, Sócrates era quase fascista e havia asfixia democrática.  Derrubado o belzebu, num ápice passou a ser Passos o mafarrico e a democracia voltou a ficar em perigo. Tudo  por amor ao povo? Bem lembrava o padre Manuel da Costa:  donde se infere que quando ha uniaõ de amor entre tais sugeitos, naõ he porque a natureza os incline a isso, he a conveniencia do interesse; e como este vay diante sempre, sempre vay fazendo seu officio, aproveitando-se do amor para sua conveniencias.
Tempos duros foram e serão? Sem dúvida. Mais duros ainda porque não podemos contar com os defensores da cidade.


4 comentários:

  1. Sabe o preço dos artigos de primeira e segunda necessidade, tais como alementação, bebidas, vestuário, calçado e mesmo habitação, antes da crise e durante e após o auge da crise, Filipe Nunes Vicente?

    É que, se sabe, estranho que escreva, para perdurar que "(...) Um país sob resgate empobreceu e o funcionalismo público e os trabalhadores menos qualificados empobreceram ainda mais (...)".

    É que a realidade, a crise atingiu, sim, a classe média e, nela, os reformados. Os mais desfavorecidos, incluindo os trabalhadores menos qualificados e os funcionários públicos, pouco ou muito pouco sofreram do real empobrecimento.

    A crise foi grave, muito grave mesmo, para quem perdeu o emprego. Periode.

    Com simpatia, convoco-o a ir por aí e conferir o preço das coisas.

    Se tiver dificuldade nessa busca, eu dou-lhe umas dicas.

    Quanto ao resto, estamos de acordo, muito embora a passividade, os brandos xcostumes de que fala, tenjham, resulktado da circunstância a que me refiro.

    Não nos iludamos! No dia em que a crise atingisse realmente todos, os portugueses mostrariam que são como os demais.

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  2. Filipe, grunho é uma coisa, abúlico e invertebrado, outra. Quando topares por aí com qualquer gajo, qualquer um, que diga que um miúdo sabia mais há cinquenta anos com a quarta classe, do que um adulto hoje com um doutoramento, fogo à peça. Ser abúlico e/ou invertebrado, por outro lado, é uma coisa que normalmente dá num gajo a prazo ou a recibo, sem poupança para pagar a renda ao fim do mês, salvo as numerosas excepções das mães que sozinhas conseguem levantar camiões e criar dez filhos doutores ou dos decepados que, sozinhos, afugentam dez mil espanhóis. Mas não te maces com isso, que a gente depois vê o filme, com pipocas.
    Parabéns pela tua vitória sobre os tremendistas. Acho que queres dizer que a vida segue normalmente, apesar deles. É uma vitória pessoal, tua, mais ninguém comemora, mas que isso não te impeça. Podes temperar com coentros.

    caramelo

    p.s. de facto, ao contrário do que pareces pensar, muita gente qualificada empobreceu.

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    1. Sim, caramelo, mas faça-se justiça ao escriba!! Por aqui, e salvo erro, só tenho lido, do dito escriba, zurzir, com comedida ironia, em grunhos mais ou menos histéricos!! Dos abúlicos e invertebrados mais ou menos pusilanimes não tenho, por aqui, lido nota assinalável, de louvor ou de desmerecimento. Quanto ao mais, também eu, vejo verdade no que diz o caramelo!!

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    2. Faço justiça ao escriba, dizendo que ele nunca disse que o povo é burro. De resto, ambos os três sabemos do que estamos a falar, não é? Quanto aos "histéricos", como diz, olhe, justiniano, sinceramente, é coisa que me incomoda pouco. O dizer que o povo se vai revoltar, é isso? Eu, pela minha experiência, se estiver a levar porrada, sem possibilidade de reação, a última coisa com que me chateio é que alguém, erradamente, diga que eu vou dar troco. Se a vida está a ser tremenda (o "empobrecimento", os tais "tempos duros"), que tenho eu a apontar aos tremendistas? Que não me afaguem o pêlo, para me consolar?

      caramelo

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