terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Prémios Pickeight 2014

Honrando a tradição, anuncio-vos os Prémios Pickeight deste ano, patrocinados, mais uma vez, pelos proventos da venda de alfarroba que a fundação luso-bifa-algarvia com o mesmo nome destina estatutariamente a tal fim. Os prémios, como não podia deixar de ser, reflectem a total inutilidade da dita fundação e o reconhecido cinismo do seu único administrador, porta-voz e presidente do conselho científico, a saber este vosso criado. Quem não gostar, pode queixar-se ao Dr. Vicente até 2015.

Prémio Revelação Internacional: Barack Obama. Não tem brilhado na política externa (ele próprio confessou estar a leste da Síria), mas termina o ano com duas vitórias: o recomeço das relações diplomáticas com Cuba, passo importante na abertura do regime castrista, e a travagem da Rússia na Ucrânia, pelo menos para já. O Presidente americano, muito ajudadinho pela baixa do petróleo e pela desvalorização do rublo, mostrou no Mar Negro o músculo que lhe tem faltado no Médio Oriente. Mais vale tarde que nunca.

Prémio Revelação Nacional: Herberto Hélder. Meio século depois do primeiro livro, conseguiu apanhar todos de surpresa com A Morte Sem Mestre - uns porque se vendeu alegadamente ao capitalismo, outros porque as notícias da sua morte eram claramente exageradas.

Prémio Carreira Internacional: Tunísia. A única democracia saída da Primavera Árabe que, até ver, está no bom caminho.

Prémio Carreira Nacional: António Costa. Bastava um suspiro parta derrubar Seguro e ele suspirou, depois de anos a sonhar. Prático, no entanto, e mostrando um sentido de Estado à Pombal, enterrou os mortos e cuidou dos vivos na "operação Marquês". Infelizmente, o verdadeiro Marquês, o da estátua, quase ficou debaixo de água com as chuvadas de Outono. Mas não será esse pormenor a impedir alguém sem programa de chegar a São Bento. Nem que seja a remos.

Prémio Justiça Poética: José Sócrates. Ao contrário da totalidade dos portugueses, não sei se o animal feroz é culpado ou inocente. Sei, porém, que ser tratado na prisão de acordo com leis que ele próprio assinou, e os seus camaradas se apressaram a chamar  "fascistas" desconhecendo esse pequeno facto, prova que há no cosmos uma harmonia qualquer que nos escapa.

Prémio Câmara CorruptivaCâmara Corporativa. Foi um ano difícil para os abrantes, obrigados, por imperativo tribal, a defender Vara e Maria de Lurdes Rodrigues. Se o grande chefe for condenado, os próximos tempos serão ainda piores. Talvez tenham que mudar de nome.

Prémio Idiota Útil: Mário Soares. Há algum tempo que se esforça por nos fazer esquecer tudo o que lhe devemos, não sem benefíco de terceiros. Sócrates que o diga.

Prémio Idiotas Inúteis: administradores do GES. Pagos a peso de ouro, não viram nada, não sabiam nada e não perceberam nada do que eram pagos, a peso de ouro, para ver, saber e perceber. Pensando bem, talvez não sejam assim tão idiotas.

Prémio Barrete Encarnado: Ricardo Salgado. Pela frase revolucionária "O dono disto tudo é o povo português". Era bom, era.
 
Prémio Porqué No Te Callas?: Assunção Esteves. Por ter dirigido uma citação em que Simone de Beauvoir se referia aos nazis ("Não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus hábitos") a manifestantes nas galerias do Parlamento. Melhor, mesmo, só a "salsicha educativa" de Passos Coelho.

Prémio The Finest Hour: ida de Eusébio para o Panteão. Nunca tantos se bateram por tão pouco.
 
Prémio I Saw God And She Was Black: Carlos Abreu Amorim. A conversão do antigo liberal ao estatismo/realismo/whatever tem sido classificada como um expediente oportunista. O caso, porém, é mais grave; é um sintoma especialmente burlesco do vazio de ideias e princípios do actual PSD, que se tornou uma máquina de assalto ao poder e pouco mais. A bancada parlamentar laranja reflecte esta luta pela vidinha. Só isso explica, por exemplo, que tenha aplaudido de pé as sonsices do Primeiro-Ministro aos deputados sobre o caso Tecnoforma. Sim, há por lá excepções. Sim, o PS é igual. Sim, isto vem de trás. E sim, o futuro assusta-me. O do partido e o do país.

6 comentários:

  1. pela segunda vez: envia-me o teu email, perdi-o

    ResponderEliminar
  2. Caro Pedro Picoito,

    Eu devo ser o único leitor da "blogoesfera" que não ficou minimamente espantado com a suposta conversão do CAA. A falta de espinhas dorsais torna os nossos preceitos ideológicos convenientemente flexíveis.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais do que a falta de coluna, acho que esta evolução mostra sobretudo falta de consitência intelectual. E isso, francamente, não é uma novidade. As justificações dadas para a conversão são tão fracas que fico com dúvidas de que ele conhecesse realmente o liberalismo de que se proclamava mártir. Mas esta falta de consistência não é um exclusivo CAA. Há muitos assim no PSD, só que são menos histriónicos.

      Eliminar
  3. Poças, o homem até andou de lado com as lições de cátedra que levou sobre o liberalismo. É bem feito pró burro. Eu acho que a maior parte da malta estava convencida de que o liberalismo era mesmo a favor da desregulação económica e que por isso é que se chama, pronto, “liberalismo”. Eu próprio pensava que o Reagan e a Thatcher eram modelos de liberalismo e heróis dos liberais, por terem desregulado a economia, incluindo a atividade bancária. Mas parece que há liberalismo e liberalismo, uma data de nuances, incluindo algumas de esquerda, cum catano. O Crato é que faz bem em ficar caladinho ou em dizer “próxima pergunta”, quando lhe perguntam agora pela liberdade de escolha; assim não passa também por burro ou apóstata.

    caramelo

    ResponderEliminar