domingo, 7 de junho de 2015

American sniper: a vitória do cinema

Não  há um discurso sobre a podridão da guerra, não há  um diálogo ( salvo uma coisa de segundos entre irmãos e resumido a uns impropérios vagos) , não há uma citação de Camus ou Remarque, não há nenhuma  comparação palavrosa entre a vida  doméstica com a mulher e filhos e a poeira e sangue iraquianos.
Tudo se passa em cinema. As alterações, de início imperceptíveis, nos modos do sniper, o encolher de ombros, os silêncios. Quando quebra,  chora como um homem normal. A melhor cena é ele no bar, a cem metros de casa. Atende o telemóvel, é a mulher que lhe pergunta se está na Alemanha ou no avião. O tipo diz que já chegou. Ela reprende-o como a um garoto, manda-o vir imediatamente  para casa. Ele acaba a cerveja  e diz apenas " OK". A reintegração também nos oferece um ex-sniper sem discursos de arrependimento, mas comprometido: vai ajudar veteranos mutilados. Depois morre.
O cinema é a história que intuimos  a partir da ambiguidade das imagens, as palavras estão lá para acreditarmos no que não vemos.

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