quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Roteiros da oposição ( continuação)

Depois da derrota de 1880, o partido conservador  entrou em reformulação.  Randolph Churchill liderou a corrente populista ( com um sentido diferente  do de hoje) . Lord Salisbury liderava a corrente aristocrática e as distritais desses tempos ( as Assotiations  of great towns)  estavam divididas. Cumprindo a ruptura com os líderes  naturais   ( a recomendação de Disraeli), o partido Tory  enfrentava a passagem : de partido de resistência  a partido do progresso e  virado para os novos problemas do quotidiano. Algumas semelhanças com os nossos dias de hoje.

Cunhal faz aqui o roteiro que tem cerzido a representação social da direita portuguesa desde 1974. Acrescentemos-lhe a cover do tempo do resgate , a ideologia austeritária dos neoliberais,  e temos a tapeçaria completa. É muita fruta, mas podemos  tirar alguns caroços desde  que a  tarefa não seja entregue ex- chefes da JSD, caruncho da carne assada e betos de bibe do CDS.

A mega-operação de agit-prop está em marcha: já não há centro, a direita está radicalizada, é  a direita dos cortes nos salários, do empobrecimento, das privatizações. Se julgam que isto é novo é porque não viveram no cavaquismo. A ilusão da novidade deve-se , entre outros factores (por exemplo, o  resgate), ao facto de muitos cavaquistas ( directos ou indirectos) terem mudado de campo só com uma escova de dentes na mala ( Pacheco Pereira, Freitas do Amaral, Capucho etc). 

Os anos do resgate foram tão poderosos que levaram à tal coincidência histórica do PS com a extrema -esquerda, que, hoje, por enquanto, se observa no parlamento. A crise internacional e as asneiras semi-socializantes/peronistas levaram a uma falência do sistema e fizeram soar os alarmes. As primeiras reacções foram a previsão fatalista do segundo resgate e o levantamento popular. Goradas,  e perdidas vergonhosamente as eleições ( ao menos o PCTP-MRPP reconheceu isso) ,  montou-se  a tal mega-operação do radicalismo de direita a cavalo no andaime   da coincidência histórica do PS com a extrema-esquerda.

Para  o PSD poder tirar os caroços, tem, como os tories fizeram em 1883, de se adaptar ao novo cenário. A uma reorganização do campo político adversário deve corresponder uma transformação do discurso político, da organização celular do debate e da  alteração do modo comunicacional. 
O discurso político de que a austeridade foi necessária equivale ao elogio da broca pelo dentista.  A centralização  do debate no parlamento pelos velhos artistas ( Maria Luís, Portas,Telmo etc)  passará a ideia de um regresso às vacas magras.   Uma comunicação entregue a  analfabetos, que só ganham discussões por falta  de comparência, conduzirá à estagnação. Há gente nova com valor ( Morgado, Maduro, Cecília Meireles, Lomba)  e outra  que não subiu ainda ao caixote e que  não se deve deixar atemorizar pela agit-prop.

8 comentários:

  1. Caríssimo Filipe, quase me sinto coacto a concordar consigo; sucede, porém, que dos quatro (4) exemplos de "gente nova com valor" que enuncia só mesmo o Miguel Morgado é que se aproveita (e bem), pois o resto já provou no (Des)Governo que não tem préstimo que se veja: RTP, Turismo, Comunicação Social (fora as outras "argoladas" que exibiram) aí estão para demonstrar que Maduro, Cecília e Lomba não servem o propósito.
    Por outro lado, a falência da PàF em 04/10/2015 começou a ser construída logo com o colapso do socratismo na Primavera de 2011, quando o PPD/PSD, capitaneado pelo discípulo de Ângelo e Manel Jaquim (também amigo especial de Relvas e Macedo), ao frustrar todas as sondagens pré-eleitorais que lhe davam uma maioria absoluta de votos e de mandatos, fez uma campanha cheia de "gaffes" e não foi além da maioria relativa complementada pelo grão-mestre volúvel do Caldas. Não creio que a PàF (ou o Centro-Direita, como se queira) saia do buraco onde se meteu com gosto e sem proveito (os seus pontos altos foram a manif anti-TSU em 15/09/2012 e as demissões «irrevogáveis» do duo dinâmico Gaspar-Portas em 01/07/2013) enquanto não tiver um PROGRAMA político articulado, abrangente e coerente que conduza o seu projecto de governo. Infelizmente, tal exige uma DOUTRINA que, manifestamente, está muito para além das possibilidades de ambas as lideranças actuais do PPD/PSD e do CDS/PP, pelo que se impõe naturalmente a sua substituição, o que, por seu turno, só pode ser realizado após a ressaca das eleições presidenciais. Esta é a oportunidade que resta: substituir a efígie de Boliqueime e eleger Marcelo (ou, como estrebucha o inefável Passos Kandimba, «o Professor Rebelo de Sousa») e trabalhar para a fusão monopartidária do que está à direita de São Bento.
    A propósito, agradeço a seguinte rectificação: Freitas do Amaral nunca foi cavaquista; nem podia, quando (ao contrário de Adriano Moreira, líder do CDS) Cavaco Silva o deixou sozinho a pagar os 60.000 contos das dívidas da campanha presidencial de 1985-86...

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    1. Caro Fernando, não rectifico nada: Freitas foi cavaquista indirecto, como eu digo no texto ; defendeu as suas políticas e recebeu o seu apoio, tanto que ficou a arder com o $.

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    2. Não terá sido mais o Cavaco a ser um freitista? Recordo que Freitas do Amaral, na sua segunda liderança do CDS, foi o criador da teoria da equidistância (de que o CDS estaria entre o PSD e o PS)

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  2. Caríssimo Filipe, insisto na rectificação: bem me lembro, nos idos de 1985 e na ala oriental do Palacete de Santa Catarina ao Combro, do que o trio executivo da candidatura presidencial «P'rá Frente Portugal» (Daniel Proença de Carvalho, José Ribeiro e Castro, e Paulo Portas) pensava "sotto voce" acerca do recém-Primeiro Ministro «Sr. Silva»...
    Freitas do Amaral até pode ser o diabo em figura de gente (um excelente professor universitário de Direito, pese embora as suas incursões falhadas pela Filosofia política), mas nunca foi «à bola» com o actual PR: aliás, a sua adesão serôdia ao "44-do-33" em 2005 bem o demonstrou.

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    1. pois o facto é que Cavaco concorreu com o apoio do PSD-CDS.
      "Diabo em figura de gente" não sei a que propósito vem, por isso declino a sua amável oferta , retórica, claro.

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    2. perdão "Freitas concorreu..."

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    3. Obviamente, está mais que perdoado. E obviamente só Freitas do Amaral podia ter tido o apoio simultâneo do PSD e do CDS. Relembro apenas o que então sucedeu aos discordantes do velho PPD: José Vitorino, o fundador algarvio apoiante do General Firmino Miguel, bem como Helena Roseta e Rui Oliveira e Costa, ambos apoiantes de Mário Soares, viram a porta da rua apontada sem cerimónias pelo habitante do Possolo...

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    4. Caríssimo Filipe, também não acredito que José Pacheco Pereira tenha «mudado de campo só com uma escova de dentes na mala» (aqui entre nós, até eu prefiro conviver com a Marisa Matias em vez do Duarte Marques e do Ângelo Correia...): do que se trata é do agudo despeito pelo facto da Dra. Manuela Azeda-O-Leite ter sido apeada sem cerimónia em 2010 da liderança do PSD pelo Passos Kandimba, quando o "44-do-33" já caía de podre.
      Por outras palavras, trata-se ainda da guerra de sucessão entre adeptos desse ex-militante da facção negra do MRPP que chegou um dia a ser presidente da Comissão Europeia por 10 anos; como ainda tenho memória do que fiz na campanha por Fernando Nogueira durante as eleições legislativas de Outubro de 1995 (quando os que hoje mandam no PSD o torpedearam, a torto e a direito, por ordem "possoleira"), observo com olho clínico e a gosto os debates ácidos entre os "ex" de várias "famílias"...

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