Não é apenas Marcelo. De Sócrates a Pacheco Pereira ( nos últimos anos), passando por Marques Mendes, Alberto João Jardim ( há uns anos) Augusto Santos Silva , Paulo Portas ( no seu tempo) etc. São os comentadores que comentam a sua própria agenda política.
A política efeito de palco é ampliada na labuta do político-comentador. Cada situação é gerida com a objectividade do tarot. Ele é, ao mesmo tempo, o Escolhido e a Papisa: joga, interpreta e esconde. Como dizia Kraus, ele ganha à custas dos que não jogam. Isto porque, o espectador, maravilhado pelas vestes do Escolhido para comentar, esquece que o que lhe mostram - a análise da situação ou do caso do dia - é o que existe apenas naquele momento do comentário. Tudo o que lhe é ocultado é remetido para categoria do irrelevante a que só os tolos dão importância. E o espectador não é tolo.
Estes trabalhos dependem da linguagem e de outras ferramentas. O político-comentador apresenta-se como organizador do mapa do inexplicável ( Barthes) . Ele é o decifrador, reduzindo a política ao ao caso policial, dedicando-se febrilmente a fazer cessar o terrível porquê das coisas . Se o caso do dia é uma arte de massas ( Barthes), o caso do dia político é para o político-comentador uma oportunidade de interpretar a ambiguidade do racional/irracional e do inteligível/insondável. O caso do dia fornece-lhe a ferramenta que o espectador espera ver ser utilizada para ir dormir, seguro de que percebeu tudo.
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