Honrando a tradição, anuncio-vos os Prémios Pickeight deste ano, patrocinados, mais uma vez, pelos proventos da venda de alfarroba que a fundação luso-bifa-algarvia com o mesmo nome destina estatutariamente a tal fim. Os prémios, como não podia deixar de ser, reflectem a total inutilidade da dita fundação e o reconhecido cinismo do seu único administrador, porta-voz e presidente do conselho científico, a saber este vosso criado. Quem não gostar, pode queixar-se ao Dr. Vicente até 2015.
Prémio Revelação Internacional: Barack Obama. Não tem brilhado na política externa (ele próprio confessou estar a leste da Síria), mas termina o ano com duas vitórias: o recomeço das relações diplomáticas com Cuba, passo importante na abertura do regime castrista, e a travagem da Rússia na Ucrânia, pelo menos para já. O Presidente americano, muito ajudadinho pela baixa do petróleo e pela desvalorização do rublo, mostrou no Mar Negro o músculo que lhe tem faltado no Médio Oriente. Mais vale tarde que nunca.
Prémio Revelação Nacional: Herberto Hélder. Meio século depois do primeiro livro, conseguiu apanhar todos de surpresa com A Morte Sem Mestre - uns porque se vendeu alegadamente ao capitalismo, outros porque as notícias da sua morte eram claramente exageradas.
Prémio Carreira Internacional: Tunísia. A única democracia saída da Primavera Árabe que, até ver, está no bom caminho.
Prémio Carreira Nacional: António Costa. Bastava um suspiro parta derrubar Seguro e ele suspirou, depois de anos a sonhar. Prático, no entanto, e mostrando um sentido de Estado à Pombal, enterrou os mortos e cuidou dos vivos na "operação Marquês". Infelizmente, o verdadeiro Marquês, o da estátua, quase ficou debaixo de água com as chuvadas de Outono. Mas não será esse pormenor a impedir alguém sem programa de chegar a São Bento. Nem que seja a remos.
Prémio Justiça Poética: José Sócrates. Ao contrário da totalidade dos portugueses, não sei se o animal feroz é culpado ou inocente. Sei, porém, que ser tratado na prisão de acordo com leis que ele próprio assinou, e os seus camaradas se apressaram a chamar "fascistas" desconhecendo esse pequeno facto, prova que há no cosmos uma harmonia qualquer que nos escapa.
Prémio Câmara Corruptiva: Câmara Corporativa. Foi um ano difícil para os abrantes, obrigados, por imperativo tribal, a defender Vara e Maria de Lurdes Rodrigues. Se o grande chefe for condenado, os próximos tempos serão ainda piores. Talvez tenham que mudar de nome.
Prémio Idiota Útil: Mário Soares. Há algum tempo que se esforça por nos fazer esquecer tudo o que lhe devemos, não sem benefíco de terceiros. Sócrates que o diga.
Prémio Idiotas Inúteis: administradores do GES. Pagos a peso de ouro, não viram nada, não sabiam nada e não perceberam nada do que eram pagos, a peso de ouro, para ver, saber e perceber. Pensando bem, talvez não sejam assim tão idiotas.
Prémio Barrete Encarnado: Ricardo Salgado. Pela frase revolucionária "O dono disto tudo é o povo português". Era bom, era.
Prémio Porqué No Te Callas?: Assunção Esteves. Por ter dirigido uma citação em que Simone de Beauvoir se referia aos nazis ("Não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus hábitos") a manifestantes nas galerias do Parlamento. Melhor, mesmo, só a "salsicha educativa" de Passos Coelho.
Prémio The Finest Hour: ida de Eusébio para o Panteão. Nunca tantos se bateram por tão pouco.
Prémio I Saw God And She Was Black: Carlos Abreu Amorim. A conversão do antigo liberal ao estatismo/realismo/whatever tem sido classificada como um expediente oportunista. O caso, porém, é mais grave; é um sintoma especialmente burlesco do vazio de ideias e princípios do actual PSD, que se tornou uma máquina de assalto ao poder e pouco mais. A bancada parlamentar laranja reflecte esta luta pela vidinha. Só isso explica, por exemplo, que tenha aplaudido de pé as sonsices do Primeiro-Ministro aos deputados sobre o caso Tecnoforma. Sim, há por lá excepções. Sim, o PS é igual. Sim, isto vem de trás. E sim, o futuro assusta-me. O do partido e o do país.
pela segunda vez: envia-me o teu email, perdi-o
ResponderEliminarMuito bom! Feliz 2015, Pedro.
ResponderEliminarObrigado, Fernando. Bom ano também para ti.
EliminarCaro Pedro Picoito,
ResponderEliminarEu devo ser o único leitor da "blogoesfera" que não ficou minimamente espantado com a suposta conversão do CAA. A falta de espinhas dorsais torna os nossos preceitos ideológicos convenientemente flexíveis.
Mais do que a falta de coluna, acho que esta evolução mostra sobretudo falta de consitência intelectual. E isso, francamente, não é uma novidade. As justificações dadas para a conversão são tão fracas que fico com dúvidas de que ele conhecesse realmente o liberalismo de que se proclamava mártir. Mas esta falta de consistência não é um exclusivo CAA. Há muitos assim no PSD, só que são menos histriónicos.
EliminarPoças, o homem até andou de lado com as lições de cátedra que levou sobre o liberalismo. É bem feito pró burro. Eu acho que a maior parte da malta estava convencida de que o liberalismo era mesmo a favor da desregulação económica e que por isso é que se chama, pronto, “liberalismo”. Eu próprio pensava que o Reagan e a Thatcher eram modelos de liberalismo e heróis dos liberais, por terem desregulado a economia, incluindo a atividade bancária. Mas parece que há liberalismo e liberalismo, uma data de nuances, incluindo algumas de esquerda, cum catano. O Crato é que faz bem em ficar caladinho ou em dizer “próxima pergunta”, quando lhe perguntam agora pela liberdade de escolha; assim não passa também por burro ou apóstata.
ResponderEliminarcaramelo