segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cadernos da mudança (I): o diagrama de Mandelbrot


Este artigo de Francisco Assis  é um exemplo do pedantismo desesperado dos dias de lixo. Esta profecia ( houve outras iguais em 2012) é um exemplo do pedantismo  passadista dos dias de lixoEsta invectiva é um exemplo do pedantismo desdenhoso dos dias de lixo.
Em comum, este pedantismo exibe a mesma incapacidade de  compreender o mundo em que vive. Curiosamente,  o mundo de que se orgulha ter construído: o da igualdade de direitos e da isegoria, mas também o da gente que se alçou da miséria graças ao 25/4. Essa incompreensão traduz-se numa revolta contra o povo que diz defender. Não há novilíngua mais perfeita: defender é acusar.
Pensar este país implica romper com os aparelhos de análise ultrapassados  e dispensar categorias desactualizadas. Este resgate não foi como os outros. Sucedeu a um período de bonança  e desenvolvimento, que criou hábitos e expectativas,  e aconteceu num tempo em que as pessoas não têm só acesso a mais informação: fazem informação. Quem não percebe isto está arrumado.

 Comecemos pela tríade: Abril-ciclo dourado-resgate
a) Os médios
A libertação é anti-libertária. Se não quiserem ir a Sade, podem sempre ouvir  os críticos do consumismo capitalista. A liberdade de poder comprar coisas com que os avós  nem sonhavam  criou a  dependência dessas coisas. A tecnologia individual mostra isso mesmo. Ontem não passavas sem um telemóvel, hoje matas por um smartphone. No geral, ontem ias molhar os pés à Nazaré, hoje queres ir a Varadero. É curial notar. Os que dizem que estes  desejos de consumo  são o mímino de uma sociedade europeia, são os mesmo que não entendem que as pessoas não os queiram  trocar pelo caos às ordens do lifting revolucionário. Voire Grécia.

b) Os desprotegidos
As bolsas de pobreza aumentaram, não apareceram. Nos anos dourados, um projecto como o de Thierry Roussel, no Brejão, só foi possível por causa da miséria da zona. Não sei se conhecem, mas havia, e continua haver, lá barracas. Os velhos e os pobres de hoje   constituem legiões canenses, não exiladas na Sicília mas na gaveta da da tríade. Durante o ciclo dourado, foram olimpicamente trocados pelo luxo citadino ( de que serviram campos de futebol a quem tinha reformas de 150 euros?) às ordens de autarcas e governos megalopatas e pelas causas ditas fracturantes. Agora aumentaram outra vez.

O diagrama de Mandelbrot é um belo leurre.  Cálculos  básicos  repetidos demencialmente produzem padrões semelhantes.  Muito bonitos, mas vazios em termos de variedade de informação.
A insistência em categorias políticas tomadas de uma realidade social que já não existe, ainda que produzam um efeito espectacular, também serve de pouco. As mesmas palavras de ordem, o mesmo jargão que funcionou no século XIX ou em Hanói, não diz nada aos desamparados  médios e desprotegidos  dos dias de hoje.
Seria necessário criar uma linguagem inscrita nos significados relativos ao real. Por exemplo, a classe média que empobrece está mais interessada em saber como pode recuperar o que perdeu  do que em erguer barricadas. Pois, mas isso é um projecto desinteressante para a andropausa revolucionária.


Próximos textos:
i) Como  resistem Castor e Pólux - o partido da austeridade e o seu gémeo do Largo do Rato.
ii) A perda de influência dos senadores político-mediáticos ( e a sua inscrição no regime)  e a raiva "aos novos".
iii) O regresso do saudosismo, a outra forma de passadismo.








12 comentários:

  1. ii, eu iria mais longe, caro FNV.
    Não é apenas a perda de influencia dos senadores politico-mediáticos, fenómeno já com alguns anitos, nada recente a não ser na cabeça dos mesmos, mas sim, e acima de tudo, a perda de respeitabilidade!! É o que mais amofina os putativos senadores. Já não bastam os mesmos estribilhos cansados!! Os palcos são disputados, uma chatice! E não se apercebem que a causa que, eventualmente, querem servir, serve-se saindo de cena!!

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    1. mas a influência vinha da respeitabilidade...
      veremos isso os dois.

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    2. Há aqueles que apesar de não terem já influencia alguma mantêm uma áurea de respeitabilidade!! A respeitabilidade não se perde por um tipo se untar de lama e empunhar um calhau. A respeitabilidade perde-se quando a palavra denuncia a exiguidade do que vai na alma e uma e outra vez se revela um tonto!!

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  2. perante o social-fascismo, socialismos diversos e avulsos, 25.iv
    lembro-me do soneto de Drummond de Andrade
    « a castidade com que abria as coxas »

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  3. E relembrar que durante o ciclo dourado, e porque as bolsas de pobreza só existiam em dias de festa, pelo natal e ocasionalmente na cabeça e nos papeis dos Brutos da Costa, o Estado subvencionou a aquisição de propriedade habitacional na inversa proporção com que financiava a habitação social!! E como essas bolsas de pobreza já não existiam, excepto em dias de festa, hoje, consternados, compadecem-se com as novas bolsas de pobreza que oferecem um retrato mais impressivo!!

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  4. Creio que está a ser generoso com a terminologia. Para pedante, FA teria que invocar sabedoria, mesmo que falsa, mesmo que fractal. Limitou-se a insinuar que ele teria mais densidade. É pouco. Uma consequência do princípio de que só há solução europeia. FA não aspira a nada mais do ser um seu agente local.
    XisPto

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  5. Filipe, uma das coisas de que a direita se orgulha, e que segundo ela a distingue da esquerda, é a sua pouca condescendencia com a ignorância e disparates dos jovens, pela sua falta de respeito pelos mais velhos, para com os antepassados, a história, etc. Isto, que na direita é visto como educação, quando feito pela esquerda, pelos vistos, é pedantismo ou pesporrência. No problemo, eu dou o meu contributo.
    A nossa jovem direita, orgulho da velha direita, não só tem memória curta, o que se entende, como se impacienta muito com a memória dos outros. Por esse lado, são habituais as crónicas do género “eu não vivi o Estado Novo não me macem com isso nem com as “conquistas de Abril”, com múltiplas variantes e abundante uso de aspas. Outra moda é apresentarem-e como jovens suburbanos, em oposição à esquerda festiva e fraturante, que seria a urbana. Mas atenção, que alguns têm grande carinho para com os velhos PCs, tão engraçados, tão patuscos, que certamente lhes retribuem, sorridentes. Tinham más ideias, mas é uma pena que desapareçam, como se diz do toucinho alto e dos seus efeitos no colesterol. Eu, que não tenho lições a receber de suburbanismo pequeno burguês, estou cansado da suposta superioridade ética de Massamá e de Queluz de Baixo e quando leio aquilo apetece-me rebentar com o cartão de crédito para entrar de jaguar num bar da moda lá onde se abanca a esquerda sempre em festa e empaturrar-me do fino, com um lulu pela trela. Mas a libertação do lastro histórico de grande parte do século passado, permite-lhes apresentarem-se como jovens descomplexados, falar no crescimento económico do Estado Novo e dizerem que o estado social nasceu no Estado Novo e renhónhó.
    Passou na SIC, na semana passada, uma peça extraordinária: um estudo feito pela Filomena Mónica em 1974, no âmbito do seu curso de sociologia, sobre a escola e seus efeitos na ascensão social. Pegou numa câmara de filmar e foi entrevistar crianças e seus pais, uns pobres e outros ricos. Digo extraordinária, porque a transmissão de coisas destas não é usual e não se repetirá tão cedo. Agora investiga-se os malefícios de 35 anos de socialismo.
    Ora, no ano de 1974, não 1937, anos 50 ou 60, mas 1974, havia crianças em idade da primária que caminhavam quilómetros, ao frio e à chuva, para ir para a escola. E acontecia (como diziam os quase tão distantes escribas da Bíblia), que, perguntadas se os seus pais sabiam ler, diziam que as suas mães, mulheres novas, mas já velhas, não sabiam ler. E o máximo de ambição que tinham eles e os seus pais para eles era que fossem chóferes ou mecânicos, porque, mais do que não haver oportunidade para mais, não havia sequer a noção do conceito de “ascensão social”. Perguntada uma das mães se não achava que os meninos ricos tinham mais oportunidades que os pobres, respondeu ó senhora, eu dessas coisas não sei nada. Porque, para a maior parte, ambicionar para os filhos que fossem mais do que aquilo para que foram nascidos, como chegar à universidade, ou até o liceu, seria para muitos o mesmo que para outros pais atualmente ambicionarem que o filhos construissem naves espaciais para ir a Marte.
    Se eu disser que a crónica do Pedro Lomba que li no caderno especial do 25.A é uma das peças mais medíocres que li nos últimos tempos na imprensa escrita, não estou a ser arrogante, estou a ser condescendente. Além de despojado de ideias, está também escrito naquele estilo despojado da Amadora, santo lugar. Ainda se soubessem escrever, o género era capaz de passar por um exercício de estilo de abjecionismo. Nem isso.
    Catano, que isto foi longo, desculpa lá.

    caramelo

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    1. seve-te à vontade desde que não socializes a boxer.
      ora:
      Filipe, uma das coisas de que a direita se orgulha, e que segundo ela a distingue da esquerda, é a sua pouca condescendencia com a ignorância e disparates dos jovens, pela sua falta de respeito pelos mais velhos, para com os antepassados, a história, etc. Isto, que na direita é visto como educação, quando feito pela esquerda, pelos vistos, é pedantismo ou pesporrência.

      Não. "ligeiramente alfabetizado" é que é pedante. Por ex.

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    2. depois irei aos saudosistas ( já lá fui no affair Barroso/excelencia da educação do Estado Novo, coisa que convenientemente omitiste).

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    3. não omiti, nem deixei de omitir, não te preocupes, eu sei o que pensas do saudosismo.

      caramelo

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    4. Atenção, este blog entrou em processo de "caramelização"...Pensava eu que o "caramelo" tinha sido o "piscoiso" do "Declinio e Queda" !

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  6. respeitado a regra de não atribuir intençºoes ( pessoalizar) nem tresler, carameliza-se sem problema.

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