quarta-feira, 30 de abril de 2014

Depois do adeus

A polémica que se vai travando entre Raquel Varela e António Araújo aqui e aqui, depois de iniciada nas páginas do Ípsilon, parece uma reedição minimalista da tormenta de Verão que há, três anos, levantou uma onde críticas à História de Portugal de Rui Ramos. Também na altura se invocaram, de um lado, argumentos de autoridade e branqueamentos de Salazar, do outro, um olhar sobre o passado livre de messianismos. Não sou neutro no debate - não sei se alguém é -, mas sigo-o com alguma ironia. É sempre irónico ver como as vestais da liberdade e da ciência reagem mal ao "conflito das interpretações", para glosar Ricoeur. O 25 de Abril tarda em chegar à historiografia portuguesa porque ainda há quem se julgue proprietário exclusivo da história. Como outros, há não muito tempo, se julgavam senhores da terra ou das pessoas. A simples existência de polémicas (obrigado, Rui Ramos, obrigado, António Araújo) mostra que também as ditaduras do pensamento acabam. Depois do adeus.

7 comentários:

  1. Polémica? Que polémica? Filipe, aquilo que está a fazer o António Araújo não é bem, bem, historiografia, a não ser que se entenda que revisão de texto é historiografia. Qualquer tipógrafo, com um motor de busca de texto, detetaria que a Raquel, sim senhor, tinha escrito “elites” e também qualquer um detetaria erros de legendagem em fotografias. Não tomo partido nessa questão, porque nem sequer existem dois lados a escolher..Tens alguma tese do Araújo sobre o assunto para comentar? Tens um auto de noticia de fiscalização, com uma rica equipa de hienas de patrulha. Eu acho que a Raquel preferia que dissessem que branqueia o estalinismo, a chamarem-lhe galdéria, que é o que mais se faz no blog do Araújo. Ele não o faz, que é um cavalheiro, mas refastela-se com isso. É o conceito peculiar de educação que têm muitos señoritos de direita.
    Também já era tempo de a direita parar de se queixar da esquerda. A direita, e tu, dizem que não há falta de liberdade, que isso é coisa de uns tipos que aí andam histéricos. Eu, por acaso, acho que medo de falar existe, sim, no quotidiano; que esse é um efeito necessário da falta de dinheiro e da insegurança quanto ao futuro. Mas que uns marmanjões se continuem a queixar da ditadura da esquerda, e o no caso do Rui Ramos isso foi um festival, continua a maravilhar-me. Deve fazer falta outro 25 de abril para libertar a direita.

    caramelo

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    1. His name his Picoito , Pedro Picoito, pá...

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    2. I'm so sorry, Pedro e Filipe, por esta ordem.

      caramelo

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    3. Mas eu respondo, respondo.
      1- O que faz António Araújo é historiografia, claro. Alguns dos maiores historiadores do século XX dedicaram as suas melhores energias ao que chama depreciativamente "revisão literária" e eu chamo recensão. Para não ie mais longe, lembro-me do Marc Bloch e do Lucien Febvre nos Annales.
      2- "O Araújo", como lhe chama, tem uma tese, e ficou muito clara para quem o leu. É esta: a verdadeira democracia que o 25 de Abril trouxe não é a democracia directa ou popular que Raquel Varela, não muito subtilmente defende, mas a democracia representativa. Talvez por isso ela lhe chame, não "o Araújo", mas "fanático conservador".
      3- Não reparei que chamassem "galdéria" à Raquel Varela no "blog do Araújo". Parece-me que a crítica do colectivismo não vai tão longe, seja ele um cavalheiro ou não. O que reparei é a Raquel Varela lhe chama "um tipo apostado em branquear o Salazar", ou algo semelhante. Deve ser isto o conceito peculiar de educação que tem a esquerda.
      4- Ninguém disse que não há falta de liberdade em Portugal. Pelo contrário, o que digo no post é precisamente que há falta de liberdade para se criticar as lacunas factuais, conceptuais e metodológicas da Raquel Varela, ou a historiografia mais alinhada à esquerda sobre o século XX, sem que o crítico seja de imediato acusado de "branquear o salazarismo". Tem razão: ainda falta um 25 de abril para libertar a direita.

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    4. Eu tenho a certeza que a Varela prefere que a chamem de galdéria a dizerem que branqueia o Estalinismo, coisa que, aliás e na verdade, nunca fez!!

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  2. Pedro, despachando o ponto talvez menos importante, chamam-se coisas à Raquel Varela no blog do Araújo que não seriam reproduzidas num blog de Pedro e Filipe. Eu chamo-lhe Araújo, como chamaria a um tasqueiro que deixa, impávido, com as mãozinhas cruzadas, os clientes insultar alguém daquela forma na sua loja, em bom som para quem passa poder ouvir, ao mesmo tempo que vai minando a sua reputação com uma esforçada caça à gralha e ao “ai disse, sim senhor”, e vem depois, seráfico, oferecer-se para ter uma conversa séria com a pessoa. Apesar de tudo, prefiro a dona Valéria, de mão na cintura, mas isto é o feitio de cada um. O Pedro acha que ganha na troca com o “um tipo apostado em branquear o Salazar”, uma coisa que acha uma grande ofensa, sem que eu perceba porquê. Uma grande parte da direita, como o Rui Ramos e o Henrique Raposo à cabeça, a fina flor, mais uma miríade de clones, queixa-se precisamente disso, o que é curioso. Esforçam-se por mostrar que o salazarismo não é tão negro como o pintam e ao mesmo tempo sofrem horrores quando alguém diz que querem branquear o Salazarismo. Como ficamos?
    Quanto à liberdade, acho que há uma ameaça, sim, e disse porquê. Mas acho curioso que os que troçam de quem diz isto, dizendo que já nasceram em liberdade, chamando velhos caducos a quem agita o espantalho, são os mesmos que dizem que a sua liberdade de expressão está ameaçada pela esquerda. Sempre achei incongruente que alguém consiga tanto espaço nos media, nem estamos a falar de blogs, a queixar-se de falta de liberdade para falar o que quer. Alguma coisa a esquerda não está a fazer bem ou então, em alternativa, a direita assumiu uma dependência psicológica terrível em relação ao que esquerda pensa dela, o que não é saudável. É até uma coisa curiosa que o pretenso controlo dos media, da educação, do atletismo, da culinária, etc, pela esquerda, tanta doutrinação, nos últimos 40 anos (ou 35, não cheguei a perceber bem) tenha originado tanto desconhecimento por parte da população do que foram os 48 anos anteriores e de qual a diferença para o que se seguiu, a ver pelos inquéritos mais recentes.
    Sobre o resto, o mais importante e nobre, que é a história, é um pouco forçado lembrar o March Bloch e o Lucien Febvre a propósito das imensas energias gastas pelo Araújo com aquilo. O que a Raquel Varela faz é boa ou má história e eu não estou a discutir a historiografia da Varela. O que o Araújo faz é coisa de outra qualidade e pelo menos isso eu sei, porque não é preciso ter curso nenhum de história.

    caramelo

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  3. Caro Pedro

    Julgo que o F R Meneses já tratou destas polémicas de uma forma perfeitamente clara, quando se tratou da versão Loff - Ramos : o provincionismo e limitado meio do conhecimento leva a que as questões que deveria ser académicas se tornem pessoais.

    E esta conclusão pressupunha que as partes em contenda tinham um nível académico de facto ( não apenas formal ),

    Não julgo que a "cientista" R Varela mereça 5 minutos do seu tempo.
    Abraço

    Vasco Silveira

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