terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Clichés preguiçosos/ René Char

Isto é o exemplo acabado da poesia repleta de clichés e  preguiçosa: aves, água, peito, mãos, desejo, árvores. É Fernando Guimarães, podia ser Ana Luísa Amaral ou outro qualquer. É uma poesia saída das máquinas de escrever poemas, cuja invenção  o Carlos  Oliveira  previu. Guimarães:

 Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.

Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.


Coisas a sério. René Char, doberman dos boueurs de poesia pourrie de épileurs de chenilles, dava um bom conselho: il serait sain d'incinérer sans retard ces artistes.
Então um bocadinho de Char ( Poemas militantes, 1932) para acabar:

Le pas s'est éloigné le marcheur s'est tu
Sur le cadran de l'Imitation
Le Balancier lance sa charge de granite réflexe.

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