Sou ambivalente nisto. Só tenho smartphone ( nem telemóvel normal tinha) há uns meses e nunca dei por nenhuma restrição à minha liberdade. Durmo o mesmo, como o mesmo, leio o mesmo, converso o mesmo. Alargando um pouquito a pesquisa, já referi no Depressão Colectiva o caso de casais que acabam por sms. A Carla dirá que também se acaba ao vivo e a cores. Claro. Escuro.
Qualquer modificação tecnológica tem impacto social. Quando o comboio uniu as duas costas dos EUA, os bisontes ficaram à beira da extinção. O estar distraído ao pé de alguém não necessita de smartphone. O meu longo registo disciplinar, na escola, depois na tropa ( chegava a ausentar-me quando dava a formatura na parada) e, finalmente, no sofá, onde me sento ao pé da minha mulher, prova-o. Porquê então a ambivalência? Por causa dos tremoços.
Esta tecnologia não é apenas uma derivação, ela cria espaços intensos que excluem o parceiro do lado de forma perversa. A simples distracção ou alheamento é limpa: não estou cá. O smartphone diz: estou com outro(s). O abandono do banco de jardim já não é necessário, o espaço fica reduzido a uma mera conveniência ainda maior do que no tempo dos silêncios constrangedores. Na esplanada também já não há pretexto para mandar vir um prato de tremoços.
Masoch teria escrito à mesma o Venus im Pelz se tivesse um smartphone: só há escravos ou tiranos, nunca companhias.
Segundo percebi do texto da Carla Quevedo, a conversa está overrated. Parece que sim e eu até já tenho visto pais a resguardar as suas crias das maçadas da conversa de circunstância e outros constrangimentos da comunicação, distribuindo-lhes tablets à mesa. Aquela imagem do casal com os telemóveis lembra-me uma sessão de swing, uma ménage à quatre, em que cada um dos membros ajuda o outro a colocar-se na melhor posição.
ResponderEliminarcaramelo
Pois...como qqr tecnologia, não será nunca a mesma que provocará atitudes embora seja ela, a tecnologia, que os facilita e torna possiveis.
ResponderEliminarJá agora, falando de "facilitismos", parece-me que o texto da "Bomba" é apenas simplista...e facilmente se arruma na gaveta onde guardamos este video:
http://www.youtube.com/watch?v=dRl8EIhrQjQ#t=18
De todas as formas, gostaria de ler o que terá a "Bomba" a dizer...no dia em que a desgraçada cegonha acertar novamente no cabo de alta tensão...deixando meio pais sem energia por 2 ou 3 dias (...de preferencia irei lê-la num "jornal de parede").
De facto, tendo uma filha de 13 anos, observo os modos de utilização e os novos padroes de relacionamente e comunicação praticados hoje pela generalidade dos miudos (em meio urbano, refira-se!)...
...e de facto a mudança na sociabilidade e relacionamentos é patente e inexoravel. Se é melhor? ou pior? ...julgo ser impossivel e inutil discutir...porque inexoravel! Mas olhar para esta mudança e considerar que nada mudou...é ignorar os problemas e questões que a mesma levanta.
Desde já, há um ponto do qual não poderemos fugir, e que em breve irá ser premente: As gerações mais novas VRS dos "entas para cima" - daqui por duas decadas, cheira-me, como mero leigo, a comunicação e relacionamento entre ambos os escaloes, deixará patente o choque entre dois paradigmas e habitos de sociabilidade...e não me refiro aos "choques geracionais" tradicionais, mas antes acrescentar a estes os problemas comunicacionais...que ai sim, se verificará serão substancialmente dispares...e garantidamente tornaram a comunicação (não os meios, mas os conteudos e dinamicas) muito menos fluida, e muito menos "comunicante".
P.S - Por fim, os fisiatras e fisiologistas talvez possam acrescentar algo sobre o facto de andarmos hoje, maioritariamente cabisbaixos e de olhar focado num ecran pequeno...por vezes a ler minusculas legendas e afins! Assim de repente, e simplisticamente diria que a "profundidade de campo" da nossa visão estará cada vez mais curta...apesar de vermos o Mundo todo na palma da mão. Mas...é mera opinião pessoal, sem estudos ou numeros que a suportem...mera intuição de leigo...e tb esta, simplista !