quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Diário de um cínico
Convém continuar a olhar para a Turquia, se queremos perceber os rumos do Islão no futuro próximo. Não basta prestar atenção a Paris e à Síria. Até porque a situação não é nada simples. É sabido que Erdogan se tem esforçado, com muito empenho e aparente sucesso, por redefinir a laicidade no país do Sr. Ataturk. A autorização do uso do véu islâmico, após décadas de proibição, ou a chocante interdição da capa do último Charlie Hebdo (afinal, do lado de lá do Bósforo nem tout est pardonné), apontam nesse sentido. Por outro lado, o Governo deu recentemente luz verde à construção de uma igreja cristã siríaca em Istambul, a primeira em território turco desde o fim do Império Otomano. É um acontecimento histórico, que por cá passou despercebido, como não podia deixar de ser. Na própria Turquia, há quem diga que se trata de um gesto de fachada e que a discriminação contra a minoria muçulmana não sunita e contra os tolerados cristãos, de resto uma uma herança do sistema islâmico da dhimma, se vai manter. Talvez sim, talvez não. Vamos esperar para ver. Em todo o caso, é um gesto positivo, mesmo que se deva mais ao crescente número de refugiados siríacos provocado pela brutal guerra civil no país vizinho do que à boa vontade do regime. Um caso a seguir com atenção.
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