sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Os intelectuais e o povo

O traço mais conservador da sociedade portuguesa actual é  o primado  do intelectual sobre  a política nobre. Desdobra-se em dois. O mais grosso é do atestado de esquerda para falar em nome do povo, o mai fino o do apartheid a que  dita nova direita vota os os trinetos de Lenine . Comecemos pelo primeiro, noutro número iremos ao segundo.

1)  Os guardiões culturais:

Qualquer político que queira falar em nome do povo mas não tenha um parente na família da esquerda é arrumado como populista. Pior: se pertencer à  família, mas falhar em alguma das categorias sagradas ( aborto, LGBT ou nacionalismo), é excluído. De certo modo é um reflexo especular do pré-25 Abril: pelo menos  para efeito de propaganda, todo o oposicionista  à esquerda  era considerado vermelho.
Este direito de nomear, como seria esperável, não é exercido  pelo povo, mas pelos guardiões culturais. Como sem uma burguesia forte  não há proletariado forte, no pós-74 e agora ainda mais, a condição cultural de esquerda  é couto privado dos guardiões. Desde os episódios  ridículos ( vg Vasco Graça Moura) aos mais tensos -Marinho Pinto -, passando pelo aconchego sistemático que os guardiões  da cultura oferecem  ao vate  escolhido( António Costa).

2) A inscrição:

Exceptuando o PCP e a CGTP, que representam  o neo-proletariado fraco, os detentores do certificado cultural não se interessam pelas fabriquetas  arruinadas e empresas insolventes no meio de nenhures. Sobra-lhes o referido no ponto anterior e mais uns pós.
 O poder de nomear assenta, claro, nas  academias e nas escolas secundárias : uma  vez mais o reflexo especular do pré-74. A Historia que é ensinada, desde tenra idade, é a História marxista ( o contraditório, cá em casa, foi feito por mim) e nas academias e nos  media, Focault é Deus. 
O problema é de inscrição. Os cidadãos não são todos iguais  na esfera política. Como o discurso de Robespierre ( Abril de 1791) pontuava, a distinção ente cidadão activo , passivo e meio passivo reside  nas  diferentes capacidades de se poderem eleger ( Zizeck, Virtue and Terror, 2007). O corpo  político regulava a identidade política do cidadão. 
À esquerda é permitido tudo - do ataque à democracia ( dita burguesa) até à mais  pornográfica ostentação na lapela do cravinho vermelho quando se passou num ápice de advogado de vão de  escada para  oligarca  milionário de serviços prestado ao Estado. À direita, ou mesmo  ao centro impuro ( ver ponto 1),  usa-se a ignominiosa e conveniente  cruz da ignorância e da incultura.

3 comentários:

  1. no verão quente de 75 dizia-me um velho comunista
    'a 25.iv rebentou o cano de esgoto e só veio merda ao de cima'

    os mais ilustres até adoravam o livro 'urss:50 anos' da editorial Aster (Opus Dei)

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  2. Zizek, senhor doutor? E isso pode tomar-se em jejum? Andas em ricas companhias, andas... eu, felizmente, passo meses sem que alguém me cite o zizek, quanto mais o foucault. Não tentes é fazer contraditório da história marxista. Aprende: a maior parte dos pais esforça-se por nem abrir os manuais e os filhos têm crescido a achar que o salazar foi o maior estadista do século.

    caramelo

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  3. Inegavelmente caramelo e bons dentistas!

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