quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O Reservador ( 8)

 O nómada céptico:

No prefácio à primeira ( 1871)   Crítica da Razão Pura, Kant descreve  o céptico como uma espécie de nómada ( engolido  por revoadas de colonos que regressam para cultivar a terra). Wolf Lepenies, mais  de cem anos depois,  retomou a ideia, mas  com sentido positivo: o nómada vai sobreviver como homus europaeus,  céptico, sim, mas também inventivo, autocrítico e disposto à renúncia.
Os intelectuais de esquerda  europeus não cumpriram a autocrítica nem a renúncia vis a vis do terror político e económico da antiga Europa de Leste. Nem podiam, presos do mesmo  dogmatismo de Aquino diante dos averroístas. A experiência comunista foi ocultada, esquecida  e desculpada como um pequeno erro de percurso.
A situação em que estão hoje explica a histeria syriziana. A anacrónica Cuba, a desgraça venezuelana  ou o arquétipo norte-coreano não são bons de ver. Os intelectuais de esquerda e  as comanditas universitárias  e mediáticas também não querem olhar para o Brasil das negociatas e dos ministros demitidos  de hora em hora.
No fundo, merecem a situação. Incapazes de agarrar o mundo pelos cornos da desgraça, usam  a linguagem do século XIX com um mundo do século XXI em neurose autista ( não é metáfora desumana, é um conceito de Frances Tustin aplicável a não-autistas), que prefere a parte má do tecno-capitalismo a uma teia de aranha sem aranha.

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