No prefácio à primeira ( 1871) Crítica da Razão Pura, Kant descreve o céptico como uma espécie de nómada ( engolido por revoadas de colonos que regressam para cultivar a terra). Wolf Lepenies, mais de cem anos depois, retomou a ideia, mas com sentido positivo: o nómada vai sobreviver como homus europaeus, céptico, sim, mas também inventivo, autocrítico e disposto à renúncia.
Os intelectuais de esquerda europeus não cumpriram a autocrítica nem a renúncia vis a vis do terror político e económico da antiga Europa de Leste. Nem podiam, presos do mesmo dogmatismo de Aquino diante dos averroístas. A experiência comunista foi ocultada, esquecida e desculpada como um pequeno erro de percurso.
A situação em que estão hoje explica a histeria syriziana. A anacrónica Cuba, a desgraça venezuelana ou o arquétipo norte-coreano não são bons de ver. Os intelectuais de esquerda e as comanditas universitárias e mediáticas também não querem olhar para o Brasil das negociatas e dos ministros demitidos de hora em hora.
No fundo, merecem a situação. Incapazes de agarrar o mundo pelos cornos da desgraça, usam a linguagem do século XIX com um mundo do século XXI em neurose autista ( não é metáfora desumana, é um conceito de Frances Tustin aplicável a não-autistas), que prefere a parte má do tecno-capitalismo a uma teia de aranha sem aranha.
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