Até agora, em 270 minutos, o wonderteam de Alvalade marcou dois (2) golos de bola corrida ( o outro foi uma oferta do nosso Amélia).
domingo, 31 de agosto de 2014
O que nos espera
1) Marlene no arame. Se a coisa cair mal, a culpa é da João.
2) Claro, claro, só como consultora. Com os outros é informação livre, com gente fina e coordenadora da campanha de Costa é campanha negra.
2) Claro, claro, só como consultora. Com os outros é informação livre, com gente fina e coordenadora da campanha de Costa é campanha negra.
Golo do Camus
Nem de propósito. Umas das minhas leituras deste óptimo e fresco Agosto que está a acabar foi de um dos meus heróis. Exceptuando alguns escritos argelinos e algumas entrevistas, só tinha lido os romances. Ataquei agora as Reflexões sobre a Guilhotina e a Cartas a um Amigo Alemão, Ed. Folio, ( ambos fabulosos) . Camus adorava futebol.
O futebol, como a religião, é inimigo das bestas pomposas e alucinadas que nos pretendem orientar. Não é por acaso que usam a corruptela, substituindo a religião pela bola, de Marx ( que nem é exacta, será mais no sentido de alívio): o futebol é o ópio do povo. O futebol é uma das manifestações primitivas, anteriores à pulsão jacobina que pretende construir de raiz cada porta, cada rua, cada aldeia, cada sociedade: são selvagens no coração, civilizadas na forma. Pode ser igualmente brutal e manipulativo, mas não é artificioso.
Hoje esqueço o pó ao Zé Broncas e ao Luís dos Pneus e celebrarei cada golo como se de um filho se tratasse. Por acaso quando um deles nasceu estava a ver o Benfica x Lokomotiv, com o Ovchinikov à baliza dos russos, e só interrompi para saber se estava tudo bem.
sábado, 30 de agosto de 2014
Por que razão Costa quer debates curtíssimos?
1) Temos de mudar de paradigma.
2) Tenho uma agenda para a próxima década.
3) Há alternativas à austeridade.
4) Impostos e divída não são assunto.
Nem dois minutos...
2) Tenho uma agenda para a próxima década.
3) Há alternativas à austeridade.
4) Impostos e divída não são assunto.
Nem dois minutos...
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Da série "O som e a fúria"
Joseph Conrad, The Mirror of the Sea, 1919
Clarinho
O concreto é uma maçada. Devia ser proibido.
Aliás, concretamente, a autora é coerente no tempo e no modo ( basta consultar o arquivo ou ter memória).
Aliás, concretamente, a autora é coerente no tempo e no modo ( basta consultar o arquivo ou ter memória).
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
O Grande Salto em Frente
Cada vez melhor.
Qualquer dia começa ( se não começou já...) com campanhas de reeducação. De sportinguismo.
Qualquer dia começa ( se não começou já...) com campanhas de reeducação. De sportinguismo.
Só lendo para acreditar
"Hoje, esta TSF já não existe em grande parte. Está cheia de programas,
patrocínios e anúncios institucionais e em muitas matérias segue uma
linha editorial muito próxima do governo e da ideologia do “ajustamento”
do que qualquer canal noticioso televisivo, seja a SICN, seja a TVI24".
O parágrafo é confuso ( gralha ou pressa...) mas deduzo que a informação rigorosa e livre será, hoje, para JPP, qualquer uma próxima da veiculada pelo Câmara Corporativa (onde JPP deixou de ser o aldrabão da Marmeleira para passar a iskra).
As voltas que a vida dá.
O parágrafo é confuso ( gralha ou pressa...) mas deduzo que a informação rigorosa e livre será, hoje, para JPP, qualquer uma próxima da veiculada pelo Câmara Corporativa (onde JPP deixou de ser o aldrabão da Marmeleira para passar a iskra).
As voltas que a vida dá.
Os clubes do Bolinha
É da natureza da desgraça.
Quando os casos são com a padralhada a enfiar-se debaixo dos cobertores com os miúdos, os blogues anti-ICAR têm orgasmos e os outros calam-se ou rosnam sobre conspirações dos comunistas e dos judeus; no caso de Rothterham são os bloggers unineuronais que salivam sem babete com as deficiências públicas do multiculturalimo enquanto os outros assobiam para o ar.
Tudo no superior interesse das crianças, claro.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Boa pergunta
"E vai continuar a chamar-se Praça do Império??? Não entendo estes imbecis a quem, infelizmente, estamos entregues".
aqui.
aqui.
Até choro
Com a indignação que por aí vai, "nas redes sociais", com a sorte desta gente ( mulheres, crianças e velhos).
Restaurador Olex
Este anjo louro publicou um livro com descrição pormenorizada de agressões a policias e roubos. O Expresso deu-lhe honra de capa ( na revista) com o título "tem qualquer coisa de pop star". O meio deste anjo louro é o de outros da sua igualha: um caldo de respeito pela propriedade privada e pelas autoridades ( para não falar na segurança dos frequentadores. A proporção entre as centenas ( sim, também há disto nos juvenis...) de ocorrências e a acção do braço do Estado é enternecedora ( nesta , dois detidos...).
Ao longo dos anos, a malta adepta de meter os pretos na ordem, do combate à condescendência com os pretos e da firme acção do Estado, tem dormido bem. É natural.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Outra vez a lei
O relatório denuncia ainda que «muitos dos funcionários demonstraram nervosismo ao identificar a origem étnica dos culpados, com receio de serem tomados como racistas, enquanto outros disseram que as suas chefias lhes deram ordens para que não o fizessem».
Deve ser muito difícil aplicar a lei independentemente da raça ou forma do prepúcio. Aos racistas juntam-se agora velhos conhecidos e a sua lalangue do aos nossos hóspedes tudo deve ser permitido.
Deve ser muito difícil aplicar a lei independentemente da raça ou forma do prepúcio. Aos racistas juntam-se agora velhos conhecidos e a sua lalangue do aos nossos hóspedes tudo deve ser permitido.
Traços ( 12)
António é clássico, despreza a urgência e a moda.
Agora está encarcerado, salvo pelo airbag, vai ter um rim novo e já chamou a ambulância pelo smartphone.
Num par de semanas está antigo outra vez.
Causa e consequência
O senhor professor doutor Carvalho da Silva está na SIC-N a dizer ( a responder à entrevistadora) que o Estado gasta mais do que consome por causa da dívida, do serviço da dívida e das PPP. Ou seja, tudo começou depois de 2011.
Estas charlatanices podem ser marteladas à exaustão, mas não adianta, os portugueses não são idiotas.
Estas charlatanices podem ser marteladas à exaustão, mas não adianta, os portugueses não são idiotas.
Da série "O som e a fúria"
Aqui sobre estas águas eu suspensa deixo
a vida até qualquer outro verão
onde outra vez procure em vão
o que ora procurei
Eu canto a margem terra empedernida
que exagera e se mostra enfim tão indecisa
quanto antes entre terra e água e o
vento devorador das nocturnas raparigas
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
a vida até qualquer outro verão
onde outra vez procure em vão
o que ora procurei
Eu canto a margem terra empedernida
que exagera e se mostra enfim tão indecisa
quanto antes entre terra e água e o
vento devorador das nocturnas raparigas
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
Só isso?
-Pai, o que é que está aqui escrito?
-Rua D. Afonso Henriques.
-Quem é o dõafonsenriques?
-Não é, foi. Foi o primeiro rei de Portugal.
-E já morreu?
-Já. Há muito tempo.
-Então porque é que lhe deram esta rua?
-Porque fundou Portugal.
-Só isso?!
-...Hããã...
Tem toda a razão.
Agora sim, já não há mais justificações. Não pela cómica razão ( se assim fosse nenhum governo durava mais do que seis meses), mas porque se fechou um ciclo.
Estes três anos valeram por trinta, por muito menos e em muitos outros tempos e lugares houve eleições antecipadas.
É tempo de limpar esta crosta permanente de suspeição sobre a legitimidade executiva e obrigar os civilis princeps a avançar ( inclui as mariposas do Caldas).
Estes três anos valeram por trinta, por muito menos e em muitos outros tempos e lugares houve eleições antecipadas.
É tempo de limpar esta crosta permanente de suspeição sobre a legitimidade executiva e obrigar os civilis princeps a avançar ( inclui as mariposas do Caldas).
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
domingo, 24 de agosto de 2014
A "treta do racismo"
Só argumentando conta a História e a realidade podemos fingir que a sociedade portuguesa não é racista. Sim, a sociedade, declinada nos seus vários tons.
1) Sobre o período até 1974, qualquer pessoa capaz de ler letras que formam palavras compreende isto. Basta ter curiosidade sobre a maneira como foi organizada a nossa presença africana. Ofereço mil euros por cada chefe de polícia, juiz ou director hospitalar preto que encontrarem. Dou um bónus se lerem Henrique Galvão, ex-inspector colonial.
Recordo-me de um episódio divertido ocorrido em 1993. Estava eu na tropa e era oficial de dia quando um major me convidou para beber uns copos na messe. No quartel ficaram alojados uns militares de Moçambique a fazer uma formação qualquer. O major começou por elogiar a nossa colonização, falou da igualdade entre raças, negou a treta do racismo. No final da noite e muitos copos depois já rosnava com os cabrões dos macacos que agora tinham a mania que eram gente.
2) Depois de 74 é ainda mais simples. Quando dava aulas de psicologia social costumava perguntar aos meus alunos se pensavam que uma sociedade pode mudar de repente. Se pensavam que um povo geralmente atrasado e pobre passaria a ver os ainda mais pobres e atrasados com respeito ou se, pelo contrário, continuaria a imaginar-se superior.
A guetização dos negros naturalizou e civilizou o racismo. A tolerância formal passou a ser regra. Basta, no entanto, uma pequena faúlha. A menina do papá que sai com um preto, o jogador adversário que é bom de bola, o médico que nos atende nas urgências, um sarilho num centro comercial etc.
Num país com um passado de séculos de "colonização exemplar", é curioso que em pleno século XXI não seja comum dar de caras com um juiz negro, um árbitro de futebol negro, um chefe da polícia negro, um apresentador de telejornal negro.
Já para meter golos ou correr nas pistas, basta virar um calhau.
Já para meter golos ou correr nas pistas, basta virar um calhau.
sábado, 23 de agosto de 2014
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Secularmente imbecil
"Estado secular" ao pé do Hamas, hã? E é este indíviduo a sumidade intelectual venerada.
Bem, num país que barra a entrada as pretos em centros comerciais porque horas antes houve pretos a fazer asneiras, suponho que combina.
Bem, num país que barra a entrada as pretos em centros comerciais porque horas antes houve pretos a fazer asneiras, suponho que combina.
Lisboa, Mississipi
Uns pretos fizeram um tumulto no Vasco da gama. Veio a polícia, resolveu o assunto e ficou a guardar. Passado um bocado vemos um família de pretos e uma de brancos a querer entrar no centro comercial. Os brancos entram, os pretos não.
Passaram 24 horas e os polícias não foram suspensos, o chefe deles não foi suspenso, o ministro não se demitiu.
Deve ser este o novo país liberal dos novos jornais e bloggers.
Passaram 24 horas e os polícias não foram suspensos, o chefe deles não foi suspenso, o ministro não se demitiu.
Deve ser este o novo país liberal dos novos jornais e bloggers.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Diário de um cínico
Perante o terror que o Estado Islâmico tem semeado no Iraque e na Síria, a Administração Obama está já a preparar a opinião pública nacional e internacional para uma intervenção armada. Mais vale tarde que nunca. Se há hoje cenário em que se justifica o uso da força pelo Ocidente, é este.
Bastou, para isso, a morte violenta de um cidadão americano. Depois de centenas de milhares de mortos e deslocados entre as populações locais. Depois da linha vermelha que o regime de Assad, o grande beneficiado de um possível ataque aos jihadistas, desrespeitou. Depois da retirada dos soldados americanos do Iraque. Depois de Washington, por acção e omissão, ter deixado criar um vazio de poder que o EI ocupou.
Espero que Obama tenha aprendido com os erros de Bush. Mas espero que também aprenda com os próprios erros.
Bastou, para isso, a morte violenta de um cidadão americano. Depois de centenas de milhares de mortos e deslocados entre as populações locais. Depois da linha vermelha que o regime de Assad, o grande beneficiado de um possível ataque aos jihadistas, desrespeitou. Depois da retirada dos soldados americanos do Iraque. Depois de Washington, por acção e omissão, ter deixado criar um vazio de poder que o EI ocupou.
Espero que Obama tenha aprendido com os erros de Bush. Mas espero que também aprenda com os próprios erros.
Da série "O som e a fúria"
Conhecesse eu as ruas tão bem como a vida
recebesse no rosto o bafo azul do nevoeiro
e as amplas janelas que de par em par
deixam entrar em casa imenso o mar
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
recebesse no rosto o bafo azul do nevoeiro
e as amplas janelas que de par em par
deixam entrar em casa imenso o mar
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
Patricks, Emersons, Melgarejos, Luis Filipes etc
E este puto, internacional em todos os escalões jovens, campeão nacional de Juniores pelo seu clube de sempre, que jogou pela equipa B na semana em que perdeu a mãe, é despachado para o Valência que o aproveita e agradece.
Nunca conseguiremos pagar a Jorge Jesus o que lhe devemos.
Crónicas do Planeta Oval: Começou o Quatro Nações
É uma das últimas oportunidades para vermos os big boys do hemisfério sul em acção, antes do Mundial de 2015 em Inglaterra. O Rugby Championship, torneio anual entre a Nova Zelândia, a Austrália, a África do Sul e a Argentina, começou no sábado. Embora seja uma cópia receente do tradicional Seis Nações europeu, chama-se Rugby Championship porque a malta do Novo Mundo acha que o rugby a sério só se joga abaixo do equador - o resto é um sucedâneo. Têm alguma razão. À excepção de 2003, ganho pelos bifes, todos os Mundiais foram ganhos por All Blacks, Wallabies e Springboks. Compreende-se, portanto, que o mundo da oval tenha os olhos postos down under. E já houve uma surpresa: a Austrália impôs um empate à Nova Zelândia em Sidney, interrompendo a série de dezassete vitórias consecutivas dos visitantes.
Ainda é cedo para tirar grandes conclusões, mas mais surpreendente que o empate a 12 pontos é que os All Blacks só tenham conseguido marcar pela bota de Aaron Cruden (quatro penalidades convertidas, tal como o seu adversário directo Kurtley Beale). A chuva diluviana que se abateu sobre os antípodas pode explicar o magro resultado e a dificuldade em jogar à mão, curiosamente a exemplo do que aconteceu também em Pretória, onde a África do Sul venceu a Argentina graças a muito trabalhinho dos avançados e a um belo ensaio de Pienaar, o médio de formação do Ulster, logo no primeiro minuto.
Pode explicar, sim. Mas talvez seja mais do que isso: talvez seja o ocaso da geração dourada que ergueu a Taça William Webb Ellis em 2011. McCaw e Kaino já viram melhores dias e Kieran Read não pode fazer tudo sozinho. É nos três-quartos, porém, que surgem as maiores dúvidas. Se olharmos para a Nova Zelândia dos últimos anos, há quatro titulares indiscutíveis atrás da mêlée: Dan Carter a 10, Ma´a Nonu a 12, Conrad Smith a 13 e Israel Dagg a 15. É esta a coluna vertebral das linhas atrasadas. Embora Aaron Smith pareça ser agora o dono da camisola 9, o médio de formação tem mudado sem efeitos visíveis. O mesmo se pode dizer dos pontas, apesar da notória preferência do mister Steve Hansen por Cory Jane e Julian Savea. Mas o fio de Ariadne que vai do médio de abertura ao arrière, passando pelos dois centros, é mais frágil. Ora, no sábado passado, dos quatro magníficos só Ma´a Nonu estava em campo, e numa posição diferente da habitual.
A importância de Carter salta à vista. É o melhor abertura da actualidade, para não dizer de sempre. Tão simples quanto isto. Mas está lesionado, uma constante nos últimos tempos, e a idade torna cada vez mais duvidoso que chegue inteiro a 2015. Infelizmente (sobretudo para quatro milhões de neozelandeseses), não há suplente à altura. Daí que Hansen tenha optado por iniciar o último jogo com Aaron Cruden, o suspeito do costume e senhor de um muito fiável jogo ao pé, substituindo-o na segunda parte pelo mais dinâmico e menos rodado Beauden Barret. Solução dois-em-um, mas longe de ideal. Quer-me parecer que a equipa começa a ressentir-se do tremelique.
Tanto mais que também há problemas no meio-campo. Se Carter é o melhor abertura da actualidade, Ma`a Nonu e Conrad Smith são o melhor par de centros da actualidade. Não apenas pelo valor de cada um, mas porque se completam às mil maravilhas. Ao contrário de O`Driscoll e Fofana, claramente acima de quem têm ao lado, a dupla kiwi potencia-se em conjunto. Ma´a Nonu abre espaços, Conrad Smith aproveita-os. O 12 é o músculo, o 13 é o cérebro. A ameça de Nonu obriga os três-quartos do outro lado a jogar mais perto e a desproteger terrenos que Smith explora com inteligência, surgindo onde ninguém o espera para maracar ensaio ou manter a bola viva. É um segundo-centro que não brilha pela velocidade ou pelo poder físico, mas por estar sempre no sítio certo. Sem ele, a notável capacidade de perfuração do primeiro-centro deixa de ser tão notável. Foi o que sucedeu no sábado. Por outras palavras, o discreto Conrad Smith tornou-se quase tão importante para os campeões do mundo como o estelar Dan Carter. Felizmente (sobretudo para quatro milhões de neozelandeses), está de boa saúde. A razão pela qual não jogou contra a Austrália foi o nascimento do primeiro filho. Um gajo que troca a glória dos All Blacks pela sala de espera de uma maternidade bem merece uma estátua, mas, se houvesse justiça no mundo (o que inclui Sidney, I presume), os cangurus podiam levantar outra à criança...
Já a falta de Israel Dagg, no banco pela primeira vez em três anos, foi menos sentida porque a alternativa é excelente: Ben Smith. Com 15 ensaios em 31 internacionalizações, e podendo fazer todos os lugares entre o 11 e o 15, tarda, porém, a fixar-se na equipa. O seu estilo elegante assemelha-se ao do homónimo Conrad, de quem será, quanto a mim, um herdeiro natural. No sábado, Hansen deu-lhe a camisola 15, ou por achar que ele prefere jogar lá trás (verdadeiro), ou por achar que é mais fácil substituir Conrad Smith do que Israel Dagg (falso). Sem nenhuma vantagem, como se viu.
Mas tenhamos calma. Pode ter sido um dia mau. Afinal, antes da última derrota - com a Inglaterra, em Dezembro de 2012 -, os kiwis vinham de outro ciclo de vinte vitórias. Perderam e depois voltaram a ganhar dezassete jogos seguidos. Talvez McCaw volte a ser McCaw. Talvez Carter recupere a tempo. Talvez Conrad Smith não troque tão cedo os campos de rugby pelas salas de espera.
Talvez.
Ainda é cedo para tirar grandes conclusões, mas mais surpreendente que o empate a 12 pontos é que os All Blacks só tenham conseguido marcar pela bota de Aaron Cruden (quatro penalidades convertidas, tal como o seu adversário directo Kurtley Beale). A chuva diluviana que se abateu sobre os antípodas pode explicar o magro resultado e a dificuldade em jogar à mão, curiosamente a exemplo do que aconteceu também em Pretória, onde a África do Sul venceu a Argentina graças a muito trabalhinho dos avançados e a um belo ensaio de Pienaar, o médio de formação do Ulster, logo no primeiro minuto.
Pode explicar, sim. Mas talvez seja mais do que isso: talvez seja o ocaso da geração dourada que ergueu a Taça William Webb Ellis em 2011. McCaw e Kaino já viram melhores dias e Kieran Read não pode fazer tudo sozinho. É nos três-quartos, porém, que surgem as maiores dúvidas. Se olharmos para a Nova Zelândia dos últimos anos, há quatro titulares indiscutíveis atrás da mêlée: Dan Carter a 10, Ma´a Nonu a 12, Conrad Smith a 13 e Israel Dagg a 15. É esta a coluna vertebral das linhas atrasadas. Embora Aaron Smith pareça ser agora o dono da camisola 9, o médio de formação tem mudado sem efeitos visíveis. O mesmo se pode dizer dos pontas, apesar da notória preferência do mister Steve Hansen por Cory Jane e Julian Savea. Mas o fio de Ariadne que vai do médio de abertura ao arrière, passando pelos dois centros, é mais frágil. Ora, no sábado passado, dos quatro magníficos só Ma´a Nonu estava em campo, e numa posição diferente da habitual.
A importância de Carter salta à vista. É o melhor abertura da actualidade, para não dizer de sempre. Tão simples quanto isto. Mas está lesionado, uma constante nos últimos tempos, e a idade torna cada vez mais duvidoso que chegue inteiro a 2015. Infelizmente (sobretudo para quatro milhões de neozelandeseses), não há suplente à altura. Daí que Hansen tenha optado por iniciar o último jogo com Aaron Cruden, o suspeito do costume e senhor de um muito fiável jogo ao pé, substituindo-o na segunda parte pelo mais dinâmico e menos rodado Beauden Barret. Solução dois-em-um, mas longe de ideal. Quer-me parecer que a equipa começa a ressentir-se do tremelique.
Tanto mais que também há problemas no meio-campo. Se Carter é o melhor abertura da actualidade, Ma`a Nonu e Conrad Smith são o melhor par de centros da actualidade. Não apenas pelo valor de cada um, mas porque se completam às mil maravilhas. Ao contrário de O`Driscoll e Fofana, claramente acima de quem têm ao lado, a dupla kiwi potencia-se em conjunto. Ma´a Nonu abre espaços, Conrad Smith aproveita-os. O 12 é o músculo, o 13 é o cérebro. A ameça de Nonu obriga os três-quartos do outro lado a jogar mais perto e a desproteger terrenos que Smith explora com inteligência, surgindo onde ninguém o espera para maracar ensaio ou manter a bola viva. É um segundo-centro que não brilha pela velocidade ou pelo poder físico, mas por estar sempre no sítio certo. Sem ele, a notável capacidade de perfuração do primeiro-centro deixa de ser tão notável. Foi o que sucedeu no sábado. Por outras palavras, o discreto Conrad Smith tornou-se quase tão importante para os campeões do mundo como o estelar Dan Carter. Felizmente (sobretudo para quatro milhões de neozelandeses), está de boa saúde. A razão pela qual não jogou contra a Austrália foi o nascimento do primeiro filho. Um gajo que troca a glória dos All Blacks pela sala de espera de uma maternidade bem merece uma estátua, mas, se houvesse justiça no mundo (o que inclui Sidney, I presume), os cangurus podiam levantar outra à criança...
Já a falta de Israel Dagg, no banco pela primeira vez em três anos, foi menos sentida porque a alternativa é excelente: Ben Smith. Com 15 ensaios em 31 internacionalizações, e podendo fazer todos os lugares entre o 11 e o 15, tarda, porém, a fixar-se na equipa. O seu estilo elegante assemelha-se ao do homónimo Conrad, de quem será, quanto a mim, um herdeiro natural. No sábado, Hansen deu-lhe a camisola 15, ou por achar que ele prefere jogar lá trás (verdadeiro), ou por achar que é mais fácil substituir Conrad Smith do que Israel Dagg (falso). Sem nenhuma vantagem, como se viu.
Mas tenhamos calma. Pode ter sido um dia mau. Afinal, antes da última derrota - com a Inglaterra, em Dezembro de 2012 -, os kiwis vinham de outro ciclo de vinte vitórias. Perderam e depois voltaram a ganhar dezassete jogos seguidos. Talvez McCaw volte a ser McCaw. Talvez Carter recupere a tempo. Talvez Conrad Smith não troque tão cedo os campos de rugby pelas salas de espera.
Talvez.
Estribeiras
O Filipe Guerra, que com a Nina Guerra nos oferece maravilhas de tradução, perdeu as estribeiras com o Miguel Esteves Cardoso.
Por causa da Nina ( tudo é possível) ? Não, por causa de Israel.
Por causa da Nina ( tudo é possível) ? Não, por causa de Israel.
Traços (9)
O padre Pelegati de Figarolo, que dava a missa de manhã e matava à tarde, acabou fechado numa gaiola de ferro, às portas de Ferrara, a 12 de Agosto de 1495.
É assim que toda a culpa deve nascer: com hora e local exactos.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Os outros, os maus...
Ou seja, o fundo que permitiu a contratação do Rojo é afinal um bando de mafiosos.
Bem, no caso Dier era o pai do jogador que era um bandido, no caso Slimani a culpa vai recair sobre a FLN.
Já lá comentei que estou 100% com Bruno de Carvalho, porque os grandes clubes portugueses têm de aspirar a mais do que o triste estatuto de barrigas de aluguer. Só que isso não significa que se ganhe alguma coisa com diabolizações infantis.
Bem, no caso Dier era o pai do jogador que era um bandido, no caso Slimani a culpa vai recair sobre a FLN.
Já lá comentei que estou 100% com Bruno de Carvalho, porque os grandes clubes portugueses têm de aspirar a mais do que o triste estatuto de barrigas de aluguer. Só que isso não significa que se ganhe alguma coisa com diabolizações infantis.
A propaganda afina-se, os jornalistas portugueses mofinam-se.
Já muitos chamaram a atenção para esta extraordinária notícia. Como se fossse possível um muçulmano casar-se com uma judia em Gaza e tarados sionistas irem lá manifestar-se. A ideia era apresentar Gaza como a nova casa de J. Lennon & Yoko Ono.
Pois, uma chatice. Casamentos destes só podem acontecer em Israel ( Rishon Letzion), liberdade de expressão idem, garantia que essa expressão não impede direitos idem aspas.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Mais trincheira
Para a secção costista da blogosfera, o secretário-geral da UGT, apoiante de Seguro, já é um "caseiro de herdades dos Espírito Santo".
Temos de correr com este governo para pôr lá esta gente de alto coturno.
Temos de correr com este governo para pôr lá esta gente de alto coturno.
Traços ( 7)
Se os pobres percebem muito bem os ricos, já estes não entendem a pobreza.
A compreensão é o elevador avariado da pirâmide social.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Um sabor que vem de longe
A dita esquerda revolucionária-pura portuguesa entende ser o mais acabado exemplo de nepotismo a a contratação do filho ( já não há sobrinhos de bispos) de Durão Baroso para a CGD.
Dou-vos um doce se encontrarem a mesma apreciação a esta estelífera combinação:
Somos de uma enorme condescendência com estes palhaços políticos .
domingo, 17 de agosto de 2014
Maxi energia
Os velhos velhos e os novos velhos continuam a apelar à juventude para se revoltar.
Não podem. Sao centenas de festivais e até ilegais.
Não podem. Sao centenas de festivais e até ilegais.
Solidariedades
Cresci sem nunca ter testemunhado a esquerda americana comparar um detido sem direitos em Los Angeles com a situação de um desgraçado qualquer em Moscovo ou Havana.
Mas Ferguson é Gaza e vice-versa.
Mas Ferguson é Gaza e vice-versa.
Lisboa 1972 , Lisboa 2014
Curt Meyer-Clason, amigo de José Cardoso Pires e Bernardo Santareno, tradutor de Luandino Vieira, num jantar de aniversário de Isabel da Nóbrega:
"Juntam-se umas cinquenta pessoas, oposição , escritores, músicos, actores, artistas pláticos. a velha guida da revolta mansa, os mais dotados do país, que se apresentam como elite e defensores do povo, mas que sabem menos do povo do que qualquer habitante de um país do centro-europeu(....).
(...) Luta de classes, claro, mas como objectivo distante e utopia. Se um deles quisesse fazer falar um camponês , no palco ou num romance, teria antes de fazer pesquisa com fita gravada e bloco notas".
Pouco mudou. A guilda mansa entretem-se, agora sem risco nenhum, a fazer e desfazer partidos e plataformas nos intervalos das viagens para fora da piolheira.
sábado, 16 de agosto de 2014
Fantastic , Disgrace & The Racist Pig
Fantastic: Eric Dier, não tem qualidade para ser titular no enorme Sporting, mas lá vai fazendo o seu caminho nos pobres Spurs.
Disgrace: Adrienzinho, dá lenha e rosna todo o jogo, passa incólume e é a voz do dono em vez de ser a voz da equipa.
The Racist Pig: " A selecção do Mali tem um futebol com um perfume selvagem e com um odor realmente fresco…".
Disgrace: Adrienzinho, dá lenha e rosna todo o jogo, passa incólume e é a voz do dono em vez de ser a voz da equipa.
The Racist Pig: " A selecção do Mali tem um futebol com um perfume selvagem e com um odor realmente fresco…".
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Lopetegui
Vai pôr um puto da formação, com 17 anos, a titular: Ruben Neves.
Vi os jogos do FCP da pré-época e vi trabalho e ideias. E vi que Ruben neves era melhor do que Casemiro. Um treinador é isto.
Vi os jogos do FCP da pré-época e vi trabalho e ideias. E vi que Ruben neves era melhor do que Casemiro. Um treinador é isto.
Inconscientes colectivos
Cumprimos um velho sonho da dependência do pressuposto colectivo inconsciente do casal providencial( José e Maria) . Temos um pai mau ( governo) e uma mãe boa ( TC).
Deve ser por isso que os portugueses falam como se tivessem batatas na boca.
Deve ser por isso que os portugueses falam como se tivessem batatas na boca.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
"O que é mau para o país é bom para o Bloco" ( Daniel Oliveira)
Sempre que o INE publica uma boa notícia para a economia, é conjuntural ou irrelevante.
Sempre que o INE publica uma má notícia para economia, é estrutural e importante.
Quem diz o Bloco, diz o PCP, os socráticos ou os snipers.
Isto incomoda-me, porque, tendendo a desconfiar das boas notícias, fico a inclinado a acreditar nelas.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Traços ( 4)
O homem olha para os filhos sem deixar de pensar o que seriam eles sem ele. Esta ilusão desfaz-se a meio da vida do homem e inverte-se no fim dela.
A família é uma montanha em cujo ombro flamula sempre uma bandeira.
A família é uma montanha em cujo ombro flamula sempre uma bandeira.
Traços (3)
Desistir é como resistir, mas com a certeza de ter sucesso.
O suicídio é, neste mundo, a ficção suprema.
Augusto Abelaira
O que me faz recordar o livro é que isto foi durante anos um dos cepos das marradas dos analistas e blogues socráticos, mas "a Manela", como lhe chamavam, é agora uma cavaleira andante para eles.
A trincheira é, de facto, uma loca infecta.
A trincheira é, de facto, uma loca infecta.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Traços ( 2)
Quanto tempo temos, é um par cujo primeiro elemento é a verdade e o segundo é o medo.
Quanto tempo desperdiçamos, é um par cujo primeiro elemento é a memória e o segundo é a coragem.
No tell, no news
"Another story that does not
get covered is the fact that most of Gaza is unharmed. Despite the
thousands of Israeli bombs, missiles and artillery shells fired into
Gaza in the last month over 96 percent of the structures in Gaza are
intact. Israel is using smart bombs and guided missiles meaning that
most of the attacks destroy or damage individual structures, not entire
neighborhoods as in the past (before smart bombs became standard).
Images of all those intact Gaza towns and neighborhoods do not attract a
lot of eyeballs and are not considered newsworthy. Another bit of
non-news is the 40,000 tons of humanitarian aid (most of it food and
medical supplies) Israel has allowed into Gaza since July 9th.
Also non-news are the thousands of Israeli attacks called off at the
last minute because civilians were detected in the target area."
(aqui )
(aqui )
Rimas
"Feces rubbed all over the walls"? Pode ser um infantário.
Tem de se investigar a fundo este link. Progresso civilizacional ou regressão anal?
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
E por falar em canalhices
Foi refrescante ver toda a gente bater no Correio da Manhã por causa das notícias sobre Sócrates, quando foi a Sábado que abriu o baile.
Fica bem bater no pasquim, mas não na Sábado: escreve lá gente amiga e decente.
Irra que explico outra vez
A propósito das canalhices dos artistas portugueses que se queixam de que o país está uma desgraça e não os aprecia tudo porque este governo nos fez isto e aquilo.
Um grande amigo meu foi durante muitos anos empresário de nomes conhecidíssimos ( e de outros que na altura niguém ouvia falar e agora enchem salas, como o Legendary Tiger Man). Ele contava-me , por exemplo, pelos idos de 2004, como a coisa funcionava. As câmaras contratavam os seus artistas, iam todos, dormiam bem e comiam melhor, os cheques chegavam na hora. Os concertos eram de borla: BORLA.
Ou seja, os artistas ganhavam, o publicozinho ganhava, ele ganhava, as câmaras pagavam. Quando chegámos a 2010, estávamos nós numa esplanada a beber umas louras e perguntei-lhe: Então agora, como é? Ele respondeu: Agora acabou-se.
Outra vez os curdos...
E umas manifestações de protesto, uns textos e uns posts grávidos de indignação moral contra as vítimas destes rapazes do IS ( slideshow)? Como? Ah... não pode ser, não é em Gaza, não há imagens do pai com a criança morta nos braços, o The Guardian não traz nada. Compreendo.
Também, o que são 500 de cada vez, alguns enterrados vivos?
domingo, 10 de agosto de 2014
Cara al sol
O meu farmacêutico, doutor estimadíssimo, apresenta-me aos das tertúlias espontâneas como sendo o da extrema-direita do Benfica. Todos se riem, inclusive eu, porque é uma arte passar por tolo no meio de tolos ( futebolísticos, entenda-se).
Sou o Primo de Rivera do Benfica porque defendo um presidente que nunca tenha sido sócio nem simpatizante de outro clube, um treinador benfiquista ( e ambos fluentes em português) e a presença no plantel de uma percentagem avultada de jogadores criados na casa.
O Benfica cosmopolita e democrático é o que ganha de 4 em 4 anos, o dos jogadores comprados e vendidos sem jogar um único segundo pelo clube, o dos miúdos expulsos por serem miúdos, o da camioneta de sérvios, o do tractor a pedal que era tão bom ( só eu não percebia) e afinal foi vendido ao preço da uva mijona para os confins da Anatólia. Será também o das temporadas inteiras de Robertos, Emersons e Melgarejos, que tiveram direito a elas porque o nosso treinador é um Derrida de fino corte e não olha a nacionalidades, religiões, cor de pele ou qualidade.
Enfim, lá estarei logo à noite - diante da televisão, essa Cassandra avariada - a apoiar este Benfica. Que graça teriam as paixões se soubessemos como acabam? O William ( não o cepo que cá jogou, o outro, o inglês) é que a apanhou bem: quem não sabe para onde quer ir chega mais longe.
Bocejo
Uma notícia, nenhum debate, não há mães da plaza de mayo nesta história nem velhos franquistas escondidos. Foi apenas mais uma experiência que correu mal, o verdadeiro comunismo ainda não aconteceu, blá blá blá:
"Para cumprir uma utopia maoísta de uma sociedade agrária pura, onde não houvesse moeda nem cidades, após tomarem o poder os Khmer Vermelho esvaziaram em poucos dias os centros urbanos do país, numa das maiores marchas forçadas da história moderna. Quem desobedecesse era executado, o mesmo destino dado a quem fosse considerado inimigo do povo — intelectuais, membros do regime anterior ou membros das minorias".
"Para cumprir uma utopia maoísta de uma sociedade agrária pura, onde não houvesse moeda nem cidades, após tomarem o poder os Khmer Vermelho esvaziaram em poucos dias os centros urbanos do país, numa das maiores marchas forçadas da história moderna. Quem desobedecesse era executado, o mesmo destino dado a quem fosse considerado inimigo do povo — intelectuais, membros do regime anterior ou membros das minorias".
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Da série "O som e a fúria"
O meu desporto é a versificação
e troco o próprio verão por três quatro palavras
dessas a que é alheio o coração
Um verdadeiro pescador é dias que nas redes traz
uma vida não chega para fazer um pescador
na consciência oculta e ignorada do seu tempo
Mas tantas coisas houve que passaram para mim
essa dor onde havia íntimas mulheres
largos ao sol quadros antigos tons de luz
recantos odorosos como a adolescência
essa prega dos lábios onde nasce o riso
o limiar da dor ou os acessos ao amor
tudo isso situado nas imediações dos olhos
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
e troco o próprio verão por três quatro palavras
dessas a que é alheio o coração
Um verdadeiro pescador é dias que nas redes traz
uma vida não chega para fazer um pescador
na consciência oculta e ignorada do seu tempo
Mas tantas coisas houve que passaram para mim
essa dor onde havia íntimas mulheres
largos ao sol quadros antigos tons de luz
recantos odorosos como a adolescência
essa prega dos lábios onde nasce o riso
o limiar da dor ou os acessos ao amor
tudo isso situado nas imediações dos olhos
Ruy Belo, "Enganos e desencontros"
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Good PS/Bad PS
Já percebi. António Costa vai fazer o Novo PS, o "partido bom", que fica sem dívidas e é recapitalizado por um fundo de militantes e simpatizantes que só querem o nosso bem. Seguro é o "partido mau" e será suspenso, juntamente com a família e os amigos, porque usou o capital do PS em activos tóxicos para accionistas e depositantes.
Ah, se o caso BES fosse assim tão claro...
Ah, se o caso BES fosse assim tão claro...
A prova
É fácil dizer isto agora, mas a notícia (lida no Público) de que "dois em cada três docentes deram erros ortográficos" na famosa prova para os professores contratados não me surpreende. Sempre disse, e com conhecimento de causa, que muitos candidatos a professores têm um domínio insuficiente da língua materna.
Podem responder-me que isso não afecta a docência da Matemática ou da Educação Física, mas mantenho as minhas dúvidas. Uma palavra mal escrita prejudica os alunos porque o ensino é integrado. A língua é o primeiro recurso de qualquer professor.
Não sei se a prova é a melhor possível, e até acredito que haja outras melhores, mas este resultado é um sinal de alerta. Só não vê quem não quer. Talvez agora concordemos que a exibição de uma licenciatura ou de um mestrado não dá a ninguém o direito de ensinar.
Podem responder-me que isso não afecta a docência da Matemática ou da Educação Física, mas mantenho as minhas dúvidas. Uma palavra mal escrita prejudica os alunos porque o ensino é integrado. A língua é o primeiro recurso de qualquer professor.
Não sei se a prova é a melhor possível, e até acredito que haja outras melhores, mas este resultado é um sinal de alerta. Só não vê quem não quer. Talvez agora concordemos que a exibição de uma licenciatura ou de um mestrado não dá a ninguém o direito de ensinar.
Uma vez que
... o Dr. Vicente não está cá, alguém tem a bondade de me explicar o que se passa com o Benfica? (O BES pode esperar.)
Tucídides de Atenas
Em cada linha que escreve, o historiador, se não é mero papagaio de lugares-comuns, desenha à transparência uma metafísica, uma filosofia do Homem, uma teoria da sociedade, uma epistemologia. Não se pode escrever história sem uma visão do mundo. Leia-se o primeiro parágrafo da História da Guerra do Peloponeso:
“Tucídides de Atenas escreveu a guerra dos atenienses contra os espartanos. Começou a narração no início da
guerra, tendo predito que ela ganharia grandes proporções e que seria mais
digna de memória do que todas as já travadas porque, ao entrar em luta, uns e
outros estavam no auge do seu poder e porque o restante povo grego alinhou de
um e do outro lado. Este conflito foi o maior para os gregos e para alguns
povos bárbaros e, pode dizer-se, atingiu a maior parte da humanidade.”
Mas, entre
estes homens, Tucídides não se limita a fazer a história dos atenienses. Nem sequer dos
espartanos. A guerra envolveu todo o “povo grego” e mesmo “a maior parte da
humanidade”. Ao contá-la, Tucídides descobre necessariamente a sua humanidade,
comum a todos os gregos e a todos os que foram atingidos pela guerra. Os antigos colocavam a história entre as humanidades, as ciências
que têm por objecto o próprio Homem. Sem conhecer a história não conhecemos os homens que a fazem - mesmo que os homens nem sempre conheçam a história que fazem, na fórmula demasiado célebre de Marx. Podemos conhecê-los enquanto animais ou conjuntos de células, mas não na sua humanidade. A história é a memória da nossa humanidade.
O que não deixa de ser um paradoxo. A história revela-nos, contra todas as
evidências, que somos humanos. Revela-nos que somos o único animal que tem
razão e liberdade, o único conjunto de células capaz de julgar o bem e
o mal. É por isso que Tucidídes se mostra tão crítico dos seus compatriotas que sucederam a Péricles e conduziram Atenas à derrota. Ele, que viu como o conflito trouxe a desgraça à cidade e a toda a Grécia, não o conta como se fosse
inevitável. Conta que foi uma escolha de duas polei “no auge dos seu poder ”
e que “o restante povo grego alinhou de um lado e do outro”. Narrando o caos, a história torna-se portadora
de sentido por entre a sucessão dos acontecimentos. Diz-nos que alguns
acontecimentos, por exemplo a guerra do Peloponeso, são mais importantes do que
outros, têm mais consequências do que outros, influenciam-nos mais do que
outros. É um antídoto contra a banalidade e a indiferença.
Um clássico, dizia alguém, é uma obra sempre actual.
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