Só argumentando conta a História e a realidade podemos fingir que a sociedade portuguesa não é racista. Sim, a sociedade, declinada nos seus vários tons.
1) Sobre o período até 1974, qualquer pessoa capaz de ler letras que formam palavras compreende isto. Basta ter curiosidade sobre a maneira como foi organizada a nossa presença africana. Ofereço mil euros por cada chefe de polícia, juiz ou director hospitalar preto que encontrarem. Dou um bónus se lerem Henrique Galvão, ex-inspector colonial.
Recordo-me de um episódio divertido ocorrido em 1993. Estava eu na tropa e era oficial de dia quando um major me convidou para beber uns copos na messe. No quartel ficaram alojados uns militares de Moçambique a fazer uma formação qualquer. O major começou por elogiar a nossa colonização, falou da igualdade entre raças, negou a treta do racismo. No final da noite e muitos copos depois já rosnava com os cabrões dos macacos que agora tinham a mania que eram gente.
2) Depois de 74 é ainda mais simples. Quando dava aulas de psicologia social costumava perguntar aos meus alunos se pensavam que uma sociedade pode mudar de repente. Se pensavam que um povo geralmente atrasado e pobre passaria a ver os ainda mais pobres e atrasados com respeito ou se, pelo contrário, continuaria a imaginar-se superior.
A guetização dos negros naturalizou e civilizou o racismo. A tolerância formal passou a ser regra. Basta, no entanto, uma pequena faúlha. A menina do papá que sai com um preto, o jogador adversário que é bom de bola, o médico que nos atende nas urgências, um sarilho num centro comercial etc.
Num país com um passado de séculos de "colonização exemplar", é curioso que em pleno século XXI não seja comum dar de caras com um juiz negro, um árbitro de futebol negro, um chefe da polícia negro, um apresentador de telejornal negro.
Já para meter golos ou correr nas pistas, basta virar um calhau.
Já para meter golos ou correr nas pistas, basta virar um calhau.
os que nasciam nas ex-colónias eram brancos de 2ª.
ResponderEliminaraconteceu com o meu cunhado que nasceu acidentalmente em
Moçambique onde o pai foi inspeccionar as Finanças.
no meu tempo de Coimbra (início de 50)
havia racismo entre os 'castanhos' de Goa
e entre os pretos das várias etnias.
houve sempre racismo.
olhavam-me de soslaio por conviver
com o meu compadre de etnia Rom (vulgo cigano)
exclamava-se 'seu judeu' 'fez judiarias'
'quem não tem padrinho morre mouro'
'macacos sem cauda' eram os darwinistas
Há pouco menos de 20 anos, passei um fim-de-semana em Braga (onde estudava) e aproveitei para visitar a Sé. Todos os santos tinham uma placa com o respectivo nome, excepto um grupo de 3 ou 4 que tinham uma única placa: santos pretinhos.
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