sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Lisboa, Mississipi

Uns pretos  fizeram um tumulto no Vasco da gama. Veio a polícia, resolveu o assunto  e ficou a guardar. Passado um bocado  vemos  um família de pretos e uma de brancos a querer entrar no centro comercial. Os brancos entram, os pretos não.
Passaram 24 horas e os polícias não foram suspensos, o chefe deles  não foi suspenso, o ministro não se demitiu.
Deve ser este o novo país liberal dos novos jornais e bloggers.

16 comentários:

  1. Uns tipos usando peúgas amarelas fizeram um tumulto no Vasco da gama. Veio a polícia, resolveu o assunto e ficou a guardar. Passado um bocado vemos uma família usando peúgas amarelas e uma usando peúgas vermelhas a querer entrar no centro comercial. Os que usam peúgas vermelhas entram, os que usam peúgas amarelas não.

    Talvez assim pareça simples pragmatismo do tipo subjacente às gaiolas de segurança para claques.

    XisPto

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    1. Talvez. Como descreveu, a situação seria cómica mas penso que a policia se limitou a impedir mais desacatos. Sem o contexto nem tudo é o que parece.

      XisPto

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    2. hummm...o contexto...
      por ex o meu filho mais velho ter ido ao Vasco da Gama nessa altura, alheado do que lá tinha acontecido e, por ser negro ter ficado à porta.
      É isto o contexto que refere, não é?

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    3. O contexto foram os acontecimentos anteriores. Sem ele, o polícia é racista e o tipo que gravou um genuíno e alheado cidadão. Com ele o polícia é um tipo pragmático correndo o risco de passar por racista e o tipo que grava um exemplar militante das novas marchas digitais sobre Washington, ambos numa situação que está para além do papel que é suposto representarem. É a excentricidade explorada em muitos dispositivos cómicos. Não me interprete mal mas quando li o seu post não consegui deixar de imaginar o Charlot com um cachecol dos No Name Boys que o argumentista coloca a tentar entrar para o box de segurança dos Ultra Leoninos a caminho da Luz para o jogo decisivo do ano. Podemos imaginar o diálogo com aquele mesmo polícia quando argumenta que tem os seus direitos de circulação constitucionalmente protegidos...

      XisPto

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    4. ah sim?
      E se os acontecimentos anteriores tivessem sido provocados por cem grunhos de pele clara, vc advogava o inverso: a família de pretos a entra e a sua, por ex, assumindo que é de tez clara, a ficar à porta?

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    5. Obviamente que sim, o policia não tem de actuar de forma diferenciada em função da cor da pele.

      XisPto

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    6. fico mais descansado, já me posso ir divertir a ver o Zebording.

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    7. Esses exercícios de paridade, do branco a ser barrado como o preto naquelas circunstâncias, não tendo grande utilidade prática, permitem pelo menos uns arroubos de humildade virtuais como o do Xis, sem grande risco para além do ridículo. O "contexto", tão caro ao Xis, não permite que aconteça se for branco, mas gostava de o ver, usando se quiser o argumento colorido das meias e cachecóis, justificar que o pudessem impedir, e à família, de entrar num centro comercial por em momento anterior ter entrado um grupo maior da mesma cor a assustar a restante freguesia. Realmente, um gajo não pode dar nada como certo, nem o bom senso, nem alguns princípios fundamentais de estado de direito que afinal são princípios civilizacionais que julgava intuitivos. Lá vem a gaita do contexto. Até se importam contextos de outro lado, quando os contextos que existem não servem, como o das claques de futebol nos estádios. É preciso lembrar que se trata de gente a tentar entrar num centro comercial e não vi ainda nenhuma autoridade a dizer que aquelas concretas pessoas tinham sido condenadas em tribunal a não entrar em centros comerciais, estando apenas autorizadas a ver montras. Um blogue de gente que se diz liberal, o blasfémias, que defende os indivíduos contra o estado, que quer mínimo, também contextualiza. Aquelas caixas de comentários estão cheias dos habituais trastes da claque a dizer que um preto desrespeitou uma autoridade perguntando-lhe pela identificação.
      Nisto tudo, se já há tanta gente disposta a compreender e contextualizar estas atitudes da polícia perante pessoas negras a quem não foi apontado nenhum crime, parece já uma barreira intransponível defender, contra as autoridades, a dignidade e a vida de negros comprovadamente violentos, como no caso de Ferguson.

      caramelo

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    8. Bem vindo a algum cepticismo diante da diatadura contextual, voire, do "tudo é relativo".

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    9. Caramelo: não sei qual dos risco é maior, se o do ridículo se o da submissão ao politicamente correto. Comigo não há problema, estou habituado a pensar pela minha cabeça desde o Angola é Nossa. Não pretendi contextualizar nada para justificar atitudes racistas, mas pode continuar a glosar o conceito, já sabe que aprecio o seu estilo. Pretendi aludir às limitações de uma descrição cirúrgica que afasta temporalmente os desacatos da cena filmada, de que resulta "inexoravelmente" que o policia é racista quando me parece uma simples medida de bom senso impedir naquela situação que alguém sobre o qual exista indício de integrar o grupo (adolescente, negro) possa aceder ao seu interior. Não estivesse incidentalmente envolvida a cor da pele e toda a gente concordaria. Ainda um ponto. É verossímil a situação simétrica com brancos, basta pensar nos espaços musicais das periferias de Lisboa frequentados esmagadoramente por negros. Eu não me sentiria racialmente discriminado pela polícia se me afastassem enquanto um bando de neonazis brancos tentasse rebentar com o evento.

      XisPto

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    10. descansei antes do tempo, pelos vistos.
      Não há politicamente correcto nenhum, isso comigo não funciona.
      Há a lei e a lei não depende de contextos ou indícios. Se eu não fiz nada de errado não posso ser barrado por ser preto. Irra.

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    11. A palavra à Lei: «Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.» - art.º 13.º, n.2 da CRP.
      Dito isto, a cor da pele não é, nem pode ser, um indício do que quer que seja. O problema é precisamente o facto de a cor da pele não estar envolvida incidentalmente; foi uma opção do polícia, e é essa opção que define o comportamento: racista. Por fim, se havia necessidade de impor medidas de seguranças, a solução era muito simples: barrava-se a entrada de todas as pessoas.

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  2. uns eram da rua das pretas
    os outros do poço dos negros

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  3. Xis, para mim, pode ser tão politicamente incorrecto quanto quiser; haja alegria. Mas os meus policias, quero-os politicamente correctos, bem passados, a seguir o manual e sobretudo a aprender na escola de policia noções mais do que básicas de princípios fundamentais da constituição, incluindo aquele de que fala o Carlos. A certos policias a pensar pela sua cabeça, sai-lhes isto: há n pretos lá dentro a chatear, estes aqui devem ser primos, que eles são todos aparentados, e é melhor não os deixar entrar. Eu não tenho dúvidas de que isto é uma medida preventiva fantástica para os crimes cometidos por uma parte da população com determinada cor de pele. Temos é de discutir bem se aceitamos este modelo de combate ao crime. Mas o que me apetecia saber mesmo, e no imediato, é porque é que ainda não foi tornado público um inquérito disciplinar, compreendendo desde o comando até às bases que estavam à frente do centro comercial, e porque demora tanto o ministro da tutela a publicitar as devidas ilações politicas em relação à sua própria pessoa.

    caramelo

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