terça-feira, 30 de setembro de 2014

Castilho/ Gôngora

Os verdadeiros versos gongóricos,  infelizmente ainda  presentes na poesia portuguesa contemporânea, foram escritos pelo próprio: Luís de Gôngora, o "Homero espanhol". Jauregui atacava o cultismo gongórico, não tanto pelo amaneiramento ou pela forma  ( Reyes*), antes pela ausência de ideia  e objecto poético.
Muita água passou por debaixo das pontes até o cego Feliciano Castilho escrever a Defesa de um Inconstante (1844), mas trago-a porque mistura as alusões cultistas ( Flavónio, Armia etc) com o alvo da poesia: escever ao lado da realidade:

Depois, sofre que ame sempre
em teu sexo a todos grato
os pedaços de um retrato
que a natureza quebrou.

Pois, mas toda a gente pode ser elegante. E Gôngora também consegue nesta fórmula fabulosa  que os melhores  ermeticos matariam para assinar:

La dulce boca  que  a gustar convida.



* Conferencia do Ateneo, 26 de Janeiro de 1910

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