Nem quando fiz campanha nos blogues por Manuela Ferreira Leite pedi ao Paulo ( Mota Pinto) para a conhecer, mas com Sócrates, que já aqui defini como o único político português actual de carne e osso, gostava um dia de beber uma cerveja.
Agora que tanto se discute a sua herança, umas notitas:
1) Enquanto ministro de Guterres, foi o único decisor que planeou e executou uma política de drogas decente. O dr Portas, na altura, avisou que passaríamos a ter sea, sun and drugs ( invasões de drogados): infelizmente, tenho um livro inglês da especialidade que o cita.
2) Foi o primeiro a mexer nas leis do trabalho, enfrentando por isso a ira da esquerda.
3) Por isso foi uma pena que tenha cedido ao eleitoralismo de 2009 ( perdeu tempo vital em favor dos interesses do partido) e mantido a marca de água do pior que temos ( inclusive do bloco central) :
"As conclusões apontam, no entanto, para inúmeras decisões que revelam má gestão nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Por exemplo, a partir de 2006 todas as 13 construções contratualizadas deram prejuízo à empresa pública, num buraco acumulado de 100 milhões de euros que levou à falência técnica".
4) Preferiu defender a sua herança a varapau ( luta no PS) em vez de optar pela via judicial ( voltar a concorrer no partido e no país).
4) Preferiu defender a sua herança a varapau ( luta no PS) em vez de optar pela via judicial ( voltar a concorrer no partido e no país).
disse tal como o exterminador implacável
ResponderEliminar'I'll be back'
Não percebi se o meu comentário ficou registado ou não.
ResponderEliminarSe ficou as minhas desculpas pela repetição:
Pois eu conheci Sócrates, é verdade que não foi a beber um copo, mas nas relações normais de trabalho, ainda quando se intitulava a si próprio como o Zé das Sobras por, na divisão de competências do então Ministério do Ambiente, tudo o que era relevante ter ficado ou com Elisa Ferreira (a ministra) ou com Ricardo Magalhães (o outro secretário de estado, no tempo da coligação PS/ independentes, de Guterres). Ao longo do tempo fui-me cruzando com ele, e com as pessoas que o rodeavam, por exemplo, no caso Freeport, de que fui afastado depois de um parecer negativo. E o que lhe posso garantir é que Sócrates não mudou um milímetro em 2009: ele sempre foi assim. A diferença foi de contexto. Lembro-me bem de num jantar de família, logo nos primeiros tempos do seu primeiro Governo, a propósito das guerras na justiça, ter sido o único (e tenho uma família grande e variada) a chamar a atenção para o facto das notícias que falavam das mordomias dos juízes precederem as reformas que estava a fazer (diminuição das férias dos juízes e outras coisas) e de isso ser uma forma muito clara de Sócrates actuar: sempre procurando muito bem o suporte para o que pretendia, neste caso fomentando o ressentimento social contra os privilegiados, noutro seria outra coisa qualquer, que lhe garantisse o poder, fosse por eleições, fosse por outra coisa qualquer. E lembro-me de ter acrescentado que habitualmente era muito forte com os fracos (as corporações não são fracas, é certo, mas ele sempre foi muito bom a enfraquece-las ganhando o eleitorado, fez o mesmo com os médicos, com os professores e etc.) e bastante cauteloso (um eufemismo) com os fortes (como mais tarde se viu com o poder financeiro). Desengane-se: Sócrates sempre foi o mesmo e a sua obsessão com o poder e o reconhecimento social (o que não o impede de não se importar de ser odiado) sempre foi o único Norte para que sempre vi apontar a sua bússola. Tirando isto (ou por isto, porque é verdadeiramente bom nisto) é um tipo fascinante, em especial para quem não tenha princípios e nem ideias sobre o que é o bem comum.
é um tipo fascinante, em especial para quem não tenha princípios e nem ideias sobre o que é o bem comum.
Eliminareu?
Caríssimo FNV, até me vieram as lágrimas aos olhos! Não me contive, valente ode!
ResponderEliminarQuedo-me, sobremaneira, enternecido!! Mas há que, até para redenção do mitómano, coitado, que não merece tamanha autoria, salvaguardar que não foi o primeiro a mexer nas leis do Trabalho (a lei de 2009 é uma revisão, com reduzidas alterações de substancia, à de 2004... Isto para além do Soares nos 80s, que inaugurou o género, e do Guterres com as alterações da chamada flexibilidade e polivalência. Portanto, absolve-se a carne e o osso do tipo quanto a este crime que o caro FNV queria imputar como virtude...)
Quanto à lei da droga de 2000, lembro-me bem desse debate que já vinha dos idos de 90, início da década. Participei em alguns, locais, no Porto. Teve a grande virtude de fixar jurisprudência contraditória que andava à solta já desde os anos 80 (especialmente quanto à destrinça de posse de substancias para consumo, entre outros pontos já reconhecidamente ligados a uma certa inexigibilidade)!! É uma discussão complexa, muito complexa!! Bem sei que o caro FNV também acompanha este problema, pelo que aqui tem escrito, presumo que profissionalmente, também. É um problema que se pode, e deve, discutir, mas não coloque o Sócrates no assunto...
Caríssimo,
EliminarDebate é uma coisa, legislar e aprovar é outra.A declaração de Portas prova-o.
Ode? Ora leia lá bem. Sabe que fanático só Benfica.
Também estranhei, caro FNV, mas aquela escala e o tom entusiástico, sem relação alguma com aquela agremiação Lisboeta, denunciou, pelo menos, um secreto encanto!!
EliminarMas a coisa também não é assim tão relevante, certo!?
Importante é ver se o Rojo ainda pode valer mais qualquer coisinha em Euros!!
Não, que ideia, eu explico melhor. É sempre um tipo fascinante. E é especialmente fascinante para quem não tenha princípios nem ideias sobre o que é o bem comum porque deixa de ter alguns contrapesos que permitam avaliar com mais distância. Em qualquer caso, estou a falar com contacto próximo, onde se revelam melhor as idiossincrasias de Sócrates e a sua peculiar noção do respeito por terceiros, portanto nunca poderia ser consigo.
ResponderEliminarHenrique, curiosamente, não me referi a Sócrates como fascinante...
EliminarEu sei, fui eu que disse que ele é fascinante, e mantenho-o
ResponderEliminarÉ um tipo interessante, e foi melhor político que a actual direita diz. Mas não o é pelo que a esquerda acha.
ResponderEliminarFilipe, introduziste aí um elemento perturbador. Não fosses tu e já estaria aqui a patrulha a reclamar dessa subtil variação do “rouba mas faz”. Como isto está de maré e assim não corro grande risco, continuo por meu lado. A tua área é a droga, a minha é o ambiente. Ando nisto pelo menos desde que o homem começou, frequentei a rua do Século, e nunca precisei de lhe conhecer a petit histoire para saber que fez um excelente trabalho no ambiente. Aliás, os governos do Guterres, primeiro, e do Sócrates, depois, modernizaram e tornaram decente este país, muito para além do anedótico das autoestradas paralelas. De modos que a frase do Henrique sobre a falta de princípios ou ideias sobre o bem comum, tendo inegáveis virtudes literárias para quem aprecia o género, não é aqui aplicável. É até frustante, porque uma boa conversa de café tem de vir acompanhada com todos os condimentos. O quê, com quem e quando, etc.
ResponderEliminarcaramelo
A minha área" é a droga" pode introduzir mais elementos perturbadores...
EliminarModernizaram, vírgula. Um país minúsculo com 700.000 funcionários públicos ( e, como te recordas, sem petróleo nem gás natural) e as autoestradas paralelas não são anedotas.
700.000 ao tempo de Guterres...
EliminarTerias percebido de forma diferente essa da “anedota” se estivesses para aí virado. Não é coisa pouca, é claro, e poderias acrescentar outros casos. O que se desperdiçou em obras inúteis, teria dado para construir tantos centros de saúde, etc, etc. E no entanto fez-se e alguma coisa ficou. A politica e a administração, os tais 700 mil, montaram uma máquina que efetivamente tornou a vida mais decente. Sobre o número, mesmo no tempo do Guterres a média de funcionários públicos por habitante era das mais baixas da OCDE. Não é avaria nenhuma ter bons serviços públicos com petróleo. No Qatar, qualquer apanhador de bosta de camelo tem check ins de graça com high tech e técnicos importados em massa e em vagas. Na Europa, o estado social faz-se de outra forma. Olha que esta discussão é europeia, não é portuguesa. É o “doce estilo de vida” de que fala a Helena Matos….
Eliminarcaramelo
a tua obsessão com a Helena Matos é de tal ordem que até lhe atribuis textos e títulos do JMF ( vê o meu último dicionário) .
EliminarComeço a ficar preocupado...
hehehe, não reparei, mas é apenas um honest and reasonable mistake e espero que nenhum se sinta ofendido. Não te preocupes, antes fosse esse o meu problema.
Eliminarcaramelo
Caro Caramelo, apesar de virtuoso, não creio que, pelo menos, o Guterres admitisse ter montado máquina alguma. Quanto ao outro admito que admita, com ou sem modéstia, a autoria de tudo e mais as botas, para além, evidentemente, da Administração Pública. Faz-lhe bem, a ele, e é, portanto, bom para Portugal. Mas não basta enunciar uma vida decente, há que preenche-la de decência para além de outros condimentos. O que aventa de Guterres e do outro foi antes aventado de Cavaco e antes, provavelmente, do homem das botas. Não sei, sinceramente, quem inventou a decência!! Depois. Já tínhamos um mito sobre o número de funcionários públicos não é necessário haver dois ou três!!
EliminarQuanto à Helena Fernandes e ao J. Manuel Matos, de acordo, também os confundo!!
Um bem haja
Justiniano, eu também não sei quem inventou a decência, nem estou interessado nisso, é muita areia pra minha camineta. Estou a falar de governos melhores ou piores. vamos voar mais baixinho, senão perdemo-nos.
Eliminarcaramelo