quinta-feira, 26 de junho de 2014

Diário de um cínico

O caos no Iraque devia servir de exercício de memória e penitência a todos os que, como eu, defenderam a invasão americana em 2003. Uma guerra que foi justificada por Bush com duas mentiras. A primeira: as armas de destruição maciça, apresentadas na ONU como argumento moral do ataque. A segunda: a de que bastaria juntar água e marines para que a democracia florescesse no deserto. Acreditei piamente, como outros acreditaram em mentiras ainda maiores.
Onze anos depois, enquanto os jihadistas ocupam o vazio deixado pela partida dos americanos e por um Governo fraco, eis o resultado da mentira ocidental: um Iraque em ruínas. As armas nunca apareceram e a democracia está em risco de desaparecer.  Nada o simboliza mais cruelmente do que a captura e execução do próprio juiz que condenou Saddam Hussein à morte.
O pior de tudo é que a guerra errada de Bush está a impedir Obama de se meter nas guerras certas, como se viu na Líbia, na Síria, na Coreia do Norte, no Mali, na Ucrânia, na Nigéria. Em nenhum dos casos se esperaria uma intervenção militar, mas Obama fez muito menos do que isso. A sua óbvia vontade de não mandar nem mais um soldado para as trevas exteriores foi um convite a que Putin, Assad e outros tiranetes impusessem a lei da selva nos respectivos quintais.  E não é só o receio da opinião pública doméstica que impede Obama de dar sinal de vida: é a perda de crédito da Casa Branca no mercado internacional das boas intenções. Nem com o Vietname isso aconteceu a semelhente escala. Se Bush queria ficar na história, ficará pelas piores razões. God bless him.

2 comentários:

  1. "Nem com o Vietname isso aconteceu".
    Como assim? Não existiu mais fundamento para a intervenção no Vietname do que no Irak.

    XisPto

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  2. A questão não é essa. A questão é que o Vietname, apesar do desastre, não deixou o poder americano tão moralmente desacreditado como o Iraque.

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