terça-feira, 17 de junho de 2014

Da série "o som e a fúria"

Quero um país que tenha a minha idade
Sinto ter ante mim tempos sem fim
Chego ao termo de quanto pode amar um homem
Já não há uma pátria para mim
falas e logo o tempo se detém
na fragrante fragrância do teu rosto
que luz constantemente em abundância
O murmúrio da minha indignação
por graça da beleza e juventude ignora
o impuro comércio cortesão

Ruy Belo, "Enganos e desencontros"

3 comentários:

  1. Ah, tá bem. E o Herberto Helder? Somos o único país do mundo que tem um mercado negro de poesia. Um dia destes, vende-se ali no terreiro da erva fotocópias de rimas do Herberto. E há gajos que inclusive insultam o Herberto Helder por causa da escassez do produto. Mas aquilo é assim tão bom?

    caramelo

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  2. É bom, mas não percebo tanto alarido com o último livro. Talvez o homem tenha cedido à lógica comercial do actual mercado livreiro, talvez trocar a Assírio e Alvim pela Porto Editora seja uma verdadeira traição, talvez se tenha cansado dos impolutos princípios de toda uma vida para se ajustar à procura. Talvez, não sei. O que me parece é que o rasgar de vestes de algumas virgens (ou não tão virgens) ofendidas esconde uma muito mal disfarçada superioridade moral. Como se os poetas não se pudessem misturar com essa coisa suja que é o dinheiro, ou como se as virgens fossem os guardiões de um culto ao poeta eremita de que o próprio agora apostasia. Não estou muito interessado em tanta pureza. Os poetas têm que comer (e beber) como toda a gente. E tudo isto é uma querela secundária, suscitada em grande parte pelos sumos-sacedotes da igreja herbertiana. O que me interessa é que há um novo livro do Herberto que, não sendo o melhor que ele já escreveu, vale a pena ler. O resto são tretas para as tertúlias literárias.

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  3. O que me impressiona nisto não é a velha conversa da pureza e da pobreza dos poetas. Isso é resquicio do romantismo. A culpa é do Beethoven. Reparei numa coisa nova: gente que diz nunca o leu nem vai ler e que nem é da capelinha das tertúlias literárias, vem alegremente molhar a sopa. Desconfio que seja malta irritada com a superioridade moral da esquerda e suas contradições, e para quem o Herberto é, por definição, de esquerda. O velho refrão do "São artistas, são artistas, mas conduzem BMW."

    caramelo

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